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The New York Times

Privacidade não deveria ser bem de luxo, diz Sundar Pichai, do Google

Para executivo, permitir que usuários escolham como seus dados serão usados deveria ser vital para todas as empresas

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Nova York | The New York Times

Os produtos do Google são projetados para ser úteis. Reduzem a fricção da vida cotidiana (por exemplo ao mostrar a um usuário o caminho mais rápido para casa, no final de um dia longo de trabalho), e devolvem tempo aos usuários para fazer coisas que eles desejem fazer.

É um privilégio para nós que bilhões de pessoas confiem em nossos produtos, como Search, Chrome, Maps e Android para ajudá-las a cada dia.

É uma confiança que retribuímos por meio de um profundo compromisso para com a responsabilidade e uma dose salutar de humildade. Nos últimos 12 meses, muita coisa foi escrita sobre a privacidade, inclusive nestas páginas. E creio que esse seja um dos tópicos mais importantes de nossa era.

As pessoas hoje estão preocupadas, e com razão, sobre a maneira pela qual suas informações são usadas e compartilhadas, mas cada uma delas define privacidade ao seu modo. Sou testemunha disso em primeira mão, ao conversar com pessoas de diferentes partes do mundo.

Para famílias que usam a internet por meio de um aparelho compartilhado, privacidade pode significar a privacidade de cada pessoa com relação às demais.

Para o dono de uma pequena empresa que deseja começar a aceitar pagamentos com cartão de crédito, privacidade significa manter em segurança os dados dos clientes.

Para um adolescente trocando selfies com os amigos, privacidade pode significar a capacidade de apagar os dados compartilhados, no futuro.

A privacidade é pessoal, o que torna ainda mais vital que as empresas ofereçam escolhas claras e individuais às pessoas sobre como seus dados são usados.

Nos últimos 20 anos, bilhões de pessoas confiaram no Google em busca de respostas a perguntas que não fariam aos seus melhores amigos: como você sabe quando está apaixonado? Por que meu bebê não consegue dormir? O que causa essa coceira estranha no meu braço?

Trabalhamos com afinco para merecer essa confiança continuamente, ao oferecer respostas precisas e preservar a privacidade das perguntas. Mantivemos o foco em produtos e recursos que fazem da privacidade uma realidade — para todos.

"Para todos" é uma filosofia chave, no Google. Ela está integrada à nossa missão de criar produtos que sejam universalmente acessíveis e úteis. É por isso que nosso serviço de buscas funciona da mesma maneira para todos, quer você seja um professor na Universidade Harvard ou um aluno na região rural da Indonésia.

E é por isso que nos importamos tanto com a experiência de uso de pessoas que utilizam celulares baratos, em países que mal começaram a entrar online, quanto com a experiência de uso para os usuários de celulares de alto preço.

Nossa missão nos compele a adotar a mesma abordagem com relação à privacidade. Para nós, isso significa que privacidade não pode ser um bem de luxo oferecido apenas a pessoas que possam bancar produtos e serviços de primeira linha. A privacidade deve estar disponível igualmente para todas as pessoas do mundo.

Mesmo nos casos em que oferecemos uma versão paga de um produto, como o YouTube Premium, que permite que o usuário assista a vídeos sem ver publicidade, a versão regular do YouTube continua a incluir diversos controles de privacidade.

Por exemplo, recentemente passamos a oferecer no YouTube um modo "incógnito", um recurso popular no navegador Chrome, que permite que usuário navegue pela web sem que qualquer de suas atividades fique vinculada à sua conta. O usuário pode ver o YouTube logado em sua conta ou em modo incógnito.

Para tornar real a privacidade, oferecemos escolhas claras e significativas aos usuários, quanto aos seus dados. E tudo isso sem abandonar nossa fidelidade a duas regras inequívocas: a de que o Google jamais venderá informações pessoais a terceiros; e a de que o usuário decide como suas informações serão usadas.

O sistema funciona assim:

Primeiro, os dados pessoais tornam os produtos e serviços que o usuário emprega mais úteis para ele. É isso que permite que o Google Assistant reserve a locação de um carro para um usuário em viagem, que o Maps informe o caminho de casa e que o serviço de fotos possibilite o compartilhamento de fotos de férias com um só um clique.

Segundo, os produtos usam dados anônimos e agregados, de forma a servir melhor a todos. Os dados de tráfego no Google Maps reduzem os congestionamentos ao oferecer caminhos alternativos aos usuários. Os pedidos do Google Translation tornam traduções disponíveis para bilhões de pessoas. Os retornos de buscas, avaliados de modo anônimo, permitem que, com o tempo, o serviço de buscas compreenda o que você está procurando, ainda que haja erros de digitação na pergunta.

Terceiro, um pequeno subconjunto de dados direciona anúncios que são relevantes para os usuários e que geram o faturamento que permite que mantenhamos os produtos do Google livres e acessíveis. Essa receita também ajuda a sustentar uma ampla comunidade de criadores de conteúdo, o que por sua vez ajuda a manter o conteúdo gratuito para todos.

Os dados usados em anúncios podem ser baseados, por exemplo, em algo que o usuário tenha buscado, ou nas visitas dele a lojas online no passado. Não incluem dados pessoais de apps como o Gmail ou o Google Docs. Ainda assim, se o usuário não considera útil receber uma experiência publicitária personalizada, é possível desativá-la. A escolha cabe ao usuário, e buscamos torná-la simples.

Oito anos atrás, introduzimos uma maneira simples de exportar todos os dados de um usuário dos serviços do Google — e até mesmo transferi-los a outros serviços.

Alguns anos depois, criamos a página Google Account, como ponto de acesso central para todos os controles de privacidade. Quase 20 milhões de pessoas a visitam a cada dia, hoje. Mas sabemos que nosso trabalho nunca termina, e queremos fazer mais para nos mantermos à frente das expectativas dos usuários.

Na semana passada, anunciamos novos e importantes recursos de privacidade, entre os quais o acesso com um só clique aos controles de privacidade de todos os nossos principais produtos, e controles que permitem que o usuário escolha por quanto tempo seus dados serão retidos.

E para proteger os dados do usuário contra ameaças de segurança, acabamos de introduzir uma chave de segurança incorporada aos celulares Android que é capaz de prover autenticação de dois fatores.

Também estamos trabalhando com afinco para desafiar a suposição de que os produtos precisam de acesso a mais dados para serem mais úteis. A minimização de dados é um princípio importante de privacidade para nós, e os avanços obtidos pelos pesquisadores de inteligência artificial do Google em uma tecnologia conhecida como "aprendizado federado" são encorajadores.

O método permite que os produtos do Google trabalhem melhor para todos sem que seja necessário recolher dados brutos dos aparelhos dos usuários. O aprendizado federado é a maneira pela qual o Google Keyboard consegue reconhecer e sugerir novas palavras e termos, como "YOLO" [abreviatura em inglês para "você só vive uma vez"] e "BTS", quando milhares de pessoas começaram a pesquisar sobre eles.

E tudo isso acontece sem que o Google tenha de ler o que um usuário digita. No futuro, a inteligência artificial vai oferecer ainda mais maneiras de criar produtos mais úteis com menos dados.

E mesmo que estejamos produzindo avanços na privacidade e segurança de nossos produtos, sabemos que o tipo de privacidade que todos desejamos como indivíduos depende da colaboração e apoio de muitas instituições, como órgãos legislativos e organizações de defesa do consumidor.

A Europa adotou novos requisitos de proteção de privacidade ao adotar o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês). Acreditamos que seria positivo para os Estados Unidos adotar leis abrangentes de privacidade, e instamos o Congresso a propor leis federais nesse sentido.

Idealmente, uma legislação de defesa da privacidade exigiria que todas as empresas aceitassem a responsabilidade pelo impacto de seu processamento de dados, de uma maneira que crie proteções universais e coerentes, para os indivíduos e a sociedade como um todo.

Uma legislação como essa nos ajudará a trabalhar para garantir que proteção à privacidade esteja disponível para mais pessoas em todo o mundo.

Mas não ficaremos sentados esperando. Temos a responsabilidade de liderar. E o faremos da mesma maneira que sempre fizemos: oferecendo produtos que façam da privacidade uma realidade para todos.

Tradução de Paulo Migliacci

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