Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Projetos da Nova Rota da Seda poderão ser realizados no Brasil via PPI, diz Mourão

Plano de desenvolvimento global de Xi Jinping é importante para países que querem comércio diferenciado com a China

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Luiza Duarte
Pequim

O vice-presidente general Hamilton Mourão disse nesta quinta-feira (23) que projetos chineses ligados à Nova Rota da Seda poderão ser realizados no Brasil por meio do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos).

A Nova Rota da Seda é o plano de desenvolvimento global do governo Xi Jinping batizado em referência às trocas comerciais do antigo trajeto que unia Oriente e Ocidente na Idade Média. 

Segundo o vice-presidente brasileiro, que está em Pequim, o programa chinês seria mais interessante a países que não têm estreita relação com o país asiático. Esse não é, afirmou ele, o caso do Brasil.

“A Nova Rota da Seda é importante para aqueles países que necessitam ter um comércio diferenciado com a China. Nós já temos. Aquilo que for de nosso interesse será aproveitado”, disse Mourão.

 

A declaração foi feita após a reativação da Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação), presidida pelo brasileiro e pelo vice-presidente da China, Wang Qishan. 

De acordo com Mourão, o projeto de investimentos em infraestrutura promovido por Pequim deverá estar “dentro do nosso sistema”. Ou seja, mesmo que o Brasil não integre a rota, os aportes poderiam ser absorvidos no PPI.

A reunião entre os dois vice-presidentes foi realizada no Grande Salão do Povo, na capital chinesa. A declaração final da Cosban indica que os dois países vão buscar diversificar a pauta comercial.

Hoje, há forte concentração das exportações brasileiras em um número reduzido de mercadorias. A soja, por exemplo, representa mais de 40% das vendas do Brasil para a China.

A delegação brasileira defendeu em Pequim a verificação de plantas —checagem das regras sanitárias para exportação de carne— e outras parcerias comerciais em potencial.

 
O vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, e o vice-presidente chinês, Wang Qishan, em evento em Pequim nesta quinta-feira (23)
O vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, e o vice-presidente chinês, Wang Qishan, em evento em Pequim nesta quinta-feira (23) - Greg Baker/AFP

Foram destacados produtos brasileiro como aeronaves da Embraer e sementes geneticamente modificadas. A equipe de Mourão também reforçou a necessidade de aumento do valor agregado dos produtos vendidos pelo Brasil.

O vice-presidente brasileiro afirmou que a comissão deverá centralizar as iniciativas de cooperação bilateral. “Cada ministério será informado daquilo que foi decidido aqui e vamos dar prazos”, afirmou.

O encontro terminou sem assinatura de metas concretas ou novas parcerias. Mourão afirma que novos anúncios cabem aos presidentes dos dois países. Jair Bolsonaro (PSL) deve ir à China no segundo semestre, e Xi Jinping é esperado no Brasil em novembro.

Desde a criação da Cosban em 2004, o comércio entre China e Brasil cresceu 11 vezes, pulou de US$ 9 bilhões para US$ 99 bilhões. A comissão estava paralisada havia quatro anos.

DIVERSIFICAÇÃO DE PRODUTOS 

Para Gustavo Oliveira, professor de estudos internacionais da Universidade da Califórnia e professor visitante na Universidade de Pequim, o contexto de uma guerra comercial entre EUA e China exige maior articulação do Brasil para diversificar seus negócios com o país asiático.

“Apesar de muitos imaginarem que o Brasil tem se beneficiado com exportações recordes de soja diante da guerra comercial entre os Estados Unidos e China, isso na verdade nos coloca em condições de maior dependência e vulnerabilidade econômica”, afirma.

“A saída seria facilitar intercâmbios com enfoque em tecnologias e investimentos para a agricultura familiar, que sustenta a diversidade de alimentos em ambos, no Brasil e na China”, diz Oliveira.

Já Manuel Netto, economista baseado em Hong Kong, aponta que a discrepância na pauta exportadora dos dois países é "assunto de discussão bilateral há anos, mas sem evolução significativa". 

"Não é fácil competir com a China, eles são muito produtivos, tem custos baixos, boa qualidade e cadeia de suprimentos completa", afirma.

Para Marcos Paiva, professor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Jinan, em Cantão, China, houve "pragmatismo", e não "ideologia", na visita de Mourão.

“Protagonismo regional, oposição aos Estados Unidos, conflito na Venezuela e outros temas ficaram de fora”, cita o professor.

A VISITA

A primeira visita de Mourão à China ocorre nos primeiros seis meses do governo Bolsonaro.

Para o vice-presidente, a viagem oficial demonstra “a enorme importância que o governo atribui à parceria com a China”.

Sobre o principal parceiro comercial do país, ele diz que ficou impressionado com a “organização e método” dos chineses, mas afirmou que o que os comunistas fazem melhor é “uma pergunta difícil de responder”.

Os dois países chegaram a um acordo sobre a disputa dentro da OMC (Organização Mundial do Comércio) envolvendo a sobretaxa chinesa ao açúcar brasileiro.

No dia seguinte ao acerto, o Brasil anunciou apoio à candidatura chinesa de Qu Dongyu à FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). 

A direção atualmente é ocupada pelo brasileiro José Graziano. As eleições do órgão serão realizadas em junho.

Mourão chegou à China no domingo (19), passou por Xangai e encerra a visita oficial ao país nesta sexta-feira (24), depois de ser recebido por Xi Jinping, em Pequim.

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