Paulo Guedes do PT, xará do ministro, tumultua a Previdência

Deputado e superministro da Economia são homônimos, mas têm visões distintas sobre pautas econômicas

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Brasília

“Da forma como a reforma está posta, a gente sente que na realidade não é para tirar privilégios. É para acabar com a Previdência, principalmente dos que mais precisam”, afirmou Paulo Guedes durante uma audiência pública na Câmara.

O político criticou duramente, no dia 21 de maio, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que altera as regras de aposentadoria e é o carro-chefe do governo Jair Bolsonaro na área econômica, encabeçada por... Paulo Guedes.

Seria um paradoxo se não estivéssemos falando de homônimos, posicionados em extremos do espectro político.

O deputado Paulo Guedes, do PT-MG, durante a Comissão de Administração Pública
O deputado Paulo Guedes, do PT-MG, durante a Comissão de Administração Pública - Ricardo Barbosa

O primeiro é o deputado petista Paulo José Carlos Guedes (MG). O segundo, Paulo Roberto Nunes Guedes, o todo-poderoso ministro da Economia de Bolsonaro.

Chegaram de vez a Brasília em 2019, com um mês de diferença. Guedes (ministro) assumiu em 2 de janeiro, e Guedes (deputado) em 1º de fevereiro.

As semelhanças param por aí. O ministro é carioca e está prestes a completar 70 anos. Nunca teve cargo eletivo e é liberal, egresso da Universidade de Chicago, onde fez mestrado e doutorado em economia. 

O deputado nasceu em Minas Gerais 21 anos depois de seu xará, e começou a carreira política aos 20 anos, como vereador em Manga, cidade de 18 mil habitantes.

Mas se a mudança das regras da aposentadoria é a principal bandeira do Guedes carioca, o mineiro tem outras pautas que pretende tocar. Membro do Conselho de Ética e de comissões sobre turismo e viações, o deputado quer lançar a frente parlamentar em defesa do rio São Francisco.

E como é ser um parlamentar novato e de esquerda com o mesmo nome de um dos mais poderosos ministros de um governo de direita?

Não muito fácil, diz o deputado, à Folha. “Isso me prejudicou muito na eleição.” 

Ele afirma que como sua base eleitoral é no norte do estado, região onde Fernando Haddad dominava a corrida presidencial, foi difícil convencer os eleitores de que se tratava de duas pessoas diferentes. “Quando anunciaram que o ministro seria o Paulo Guedes, ficou uma confusão muito grande e, numa área rural, era muito difícil desmentir.”

Diz ainda ter levado uma guarda-chuvada de uma senhora em um supermercado durante o período eleitoral, antes que conseguisse explicar que o nome no santinho não pertencia à mesma pessoa do noticiário da noite.

Numa era em que as redes sociais se tornaram ferramentas de uso obrigatório para políticos, o Guedes mineiro também fica em desvantagem. 

Pesquisando com palavras-chave como PT e deputado, a reportagem teve dificuldades para achar sua página no Facebook. Mesmo quando conseguiu, o primeiro perfil listado era o do ministro.

Uma vez na Câmara, ganhou o apelido de ministro dos correligionários e passou a usar a coincidência a seu favor. “Aqui no PT, dizem que eu sou o ‘Paulo Guedes do bem’.”Quatro meses depois do início do mandato, a presença do petista ainda causa algumas confusões com os colegas.

“Uma vez, numa reunião da bancada de Minas, o coordenador disse ‘está chegando o Paulo Guedes’. Todo mundo levou um susto”, contou Júlio Delgado (PSB). “Aí todo o mundo virou para para trás e era só o nosso deputado.”

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