A produção de veículos no Brasil saltou 30% em maio, na comparação com igual mês do ano passado, informou a Anfavea (associação das montadoras) nesta quinta-feira (6). O cálculo inclui carros de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões.
A explicação é sobretudo estatística: a base de comparação com 2018 é muito baixa, já que no fim de maio daquele ano as fábricas paralisaram em função da greve dos caminhoneiros.
Em relação a abril, a produção de maio também avançou: 3,1%. Em 2019, acumula alta de 5,3%.
O efeito da paralisação já havia sido percebido nos dados divulgados pela Fenabrave (associação dos concessionários) nesta semana, em que o licenciamento de veículos novos no Brasil em maio subiu cerca de 22% ante o mesmo mês de 2018.
Segundo informações da Anfavea, a venda de veículos também cresceu quase 22% em maio na comparação interanual. Sobre abril, houve avanço de 6% nos licenciamentos. A alta acumulada de janeiro a maio deste ano, ante igual período de 2018, é de 12,5%.
"Parece um índice alto, mas na verdade poderia ser muito mais. A ociosidade da indústria é grande e estamos vindo de uma base muito baixa com a queda da indústria na crise", disse Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.
Segundo ele, o mercado interno avança com ajuda da expansão do crédito, índices menores de inadimplência, renovação de frotas de algumas empresas e crescimento das locadoras de veículos.
"Mas ainda é muito pouco para o que a gente precisa. Precisamos de mais PIB [Produto Interno Bruto]. O país cresceu 1% em 2017, 1% em 2018 e talvez esse ano cresça mais 1%", afirmou. "É medíocre para quem lá atrás caiu 7%."
O setor automobilístico é o que vem trazendo algum alívio para os números da indústria brasileira como um todo. Dados do IBGE até abril mostram que a produção de automóveis consegue sustentar uma leve alta de 0,2% no acumulado do ano, na comparação com o mesmo período de 2018. Já a produção industrial geral registra baixa de 2,7%.
A exportação de veículos produzidos no Brasil, por outro lado, segue em baixa. Em maio, recuou 31%, na comparação com o mesmo período de 2018. O setor é penalizado pela crise na Argentina, importante destino para os carros fabricados aqui.
Em relação a abril de 2019, no entanto, houve alta de 21%. No ano, as exportações acumulam queda de 42% ante 2018.
"Argentina continua sendo um problema para nós e tudo indica que não será resolvido neste ano", disse Moraes.
De janeiro a maio do ano passado, foram 233 mil veículos brasileiros enviados para a Argentina, o que representou 76% das exportações no período. Neste ano, a fatia do vizinho caiu para 59%.
Enquanto isso, a participação do México cresceu de 7% para 13%, e a da Colômbia, de 3% para 9%.
A atual estimativa da entidade para as exportações brasileiras neste ano é de queda de 6,2%. Isso imaginando que o segundo semestre poderia demonstrar uma melhora, um cenário que deve ser revisado para baixo, segundo Moraes.
O reajuste deve afetar a projeção de produção total para 2019, que hoje é de uma alta de 9%.
Para as vendas no mercado interno, a expectativa da Anfavea ainda é a mesma do início do ano: crescimento de 11,4%. O número considera que a reforma da Previdência será aprovada e o PIB do país ficará na casa de 2%.
O problema é que muitos economistas já começam a encaixar suas projeções para a economia brasileira em 2019 numa banda entre 0,5% e 1%.
"Vamos acompanhar. Por enquanto, achamos que não é o momento de rever [a previsão de vendas no mercado interno]. Se for necessários, vamos revisar", disse Moraes.
Moraes afirma que a reforma da Previdência "não vai colocar dinheiro na mesa", mas contribui para melhorar o ambiente de negócio e estimular o consumo.
Além disso, a entidade defende também outras reformas estruturais, como a mudança no sistema tributário. A Anfavea estima que o setor gasta R$ 2,3 bilhões apenas para acompanhar e apurar as obrigações tributárias. "Temos que ter simplificação, facilitação e redução da carga tributária no curto espaço de tempo. Ou acabamos com esse sistema tributário, ou ele acaba com o Brasil", afirma Moraes.
Sobre uma eventual queda na taxa básica de juros, já aventada por economistas, Moares afirma que a medida isolada não estimula o consumo. "Sozinha, acho que não vai resolver. Precisa haver uma reforma da Previdência para deixar o clima mais favorável e, aí sim, faz sentido reduzir os juros", diz.
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