Descrição de chapéu Financial Times

Renault informa a Nissan que bloqueará mudanças no conselho de administração da aliança

Tentativa de reformar comitê é resultado da prisão do executivo Carlos Ghosn no Japão

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Londres | Financial Times

A Renault informou à Nissan que bloqueará os planos da companhia japonesa para reformar sua conturbada governança empresarial, complicando ainda mais o relacionamento já turvo entre os dois parceiros de aliança.

A decisão - revelada em uma carta enviada no sábado por Jean-Dominique Senard, 66, o presidente do conselho da Renault, a Hiroko Saikawa, o presidente-executivo da Nissan - representa uma reversão abrupta de política, e ameaça destruir meses de trabalho pela Nissan.

A carta de Senard foi enviada apenas duas semanas antes da assembleia geral de acionistas da Nissan, na qual a empresa esperava votar uma transição há muito planejada, que alteraria seu sistema de governança de um modelo de auditoria estatutária a um sistema de três comitês que fiscalizariam indicações para cargos, remuneração e auditoria.

De acordo com pessoas informadas sobre a carta - cujo teor não foi revelado publicamente -, Senard escreveu que, como detentora de 43% das ações da Nissan, a Renault havia decidido que se absteria na votação, o que negaria a maioria de dois terços de que a companhia japonesa necessita para ser aprovada.

Pessoas próximas à Nissan condenaram a decisão como "ultrajante e irresponsável".

O plano de um sistema formado por três comitês, em favor do qual Senard votou pessoalmente em diversas ocasiões, em seu papel como conselheiro da Nissan, surgiu depois de meses de avaliação interna na empresa, depois da prisão, em novembro de 2018, de Carlos Ghosn, que foi presidente-executivo e do conselho de ambas as companhias.

Em seu período no posto, Ghosn vinha tentando tornar "irreversível" a aliança entre as duas montadoras, o que enraiveceu muita gente na Nissan, que também temia a influência do Estado francês na empresa. As relações entre as duas companhias andam conturbadas há muito tempo, mas a pressão se intensificou com a saída de Ghosn.

Jean-Dominique Senard, presidente do conselho da Renault - Kim Kyung -12.mar.2019/Reuters

Senard buscou reiniciar as negociações para uma fusão com a Nissan, pouco depois de assumir o comando da Renault, em um esforço para estabilizar o relacionamento. Mas depois de ver seus planos rejeitados mais uma vez, ele se voltou à Fiat Chrysler (FCA). A Nissan só foi informada das conversações quanto a uma possível fusão com a FCA no último momento, solapando a confiança entre os dois lados.

A FCA retirou sua proposta de fusão depois que o Estado francês, que detém 15% das ações da Renault, exigiu mais prazo para garantir o apoio da Nissan à união.

Representantes do governo francês disseram que sua decisão de postergar a decisão foi causada em parte pela declaração dos representantes da Nissan no conselho da Renault de que eles se absteriam, em lugar de votar a favor da fusão.

E, embora o ministro francês das finanças Bruno Le Maire tenha expressado apoio a Senard publicamente, alguns representantes do governo francês disseram que, em conversas privadas, ele os assegurou de que a Nissan apoiava o acordo, e acusou o presidente da Renault de ingenuidade,

Nesta segunda-feira, contudo, o ministro da Economia Francês, Bruno Le Maire, disse que a fusão continua sendo uma boa oportunidade

Em Tóquio, ele reforçou o desejo de manutenção da atual aliança Renault-Nissan e dos postos de trabalho.
 

Pessoas próximas à Nissan especularam que a intervenção de Senard possa representar um esforço de ganhar influência sobre a parceira de aliança - ou pela expectativa de que a FCA retorne à mesa de negociação ou porque Senard deseja retomar as negociações de fusão com a Nissan.

Depois da prisão de Ghosn, a Nissan criou um comitê especial para analisar seus problemas de governança e propor melhoras. A principal recomendação foi a introdução imediata de um sistema de governança formado por três comitês. O conselho da Nissan, que inclui Senard, aprovou a ideia por unanimidade em 15 de maio.

Na carta de sábado, disseram pessoas informadas sobre seu conteúdo, Senard justificou a reviravolta abrupta argumentando que o sistema de três comitês poderia de alguma forma ser usado para reduzir a influência da Renault como maior acionista da Nissan.

Pessoas informadas sobre o raciocínio de Senard enfatizam que a carta era "um passo, mas só um passo", nos preparativos para a assembleia geral de acionistas da Nissan, e que a posição de Renault podia mudar.

As mesmas pessoas disseram que a Renault estava buscando garantir que seus direitos como acionista fossem mantidos, acrescentando que a montadora francesa tinha preocupações sobre a futura composição dos comitês e sobre como os poderes do conselho seriam transferidos a esses comitês.

"Senard claramente não quer que isso seja percebido como uma declaração de guerra, mas como o início de uma negociação", disse outra pessoa próxima à Renault.

Nissan e Renault se recusaram a comentar.
 

Tradução de Paulo Migliacci

Com AFP

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