Descrição de chapéu Financial Times

Saída de Jony Ive 'dá chance para Apple se reorganizar'

Empresa deve abrir espaço para uma nova geração de designers

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Richard Waters Shannon Bond Tim Bradhshaw
Londres e San Francisco | Financial Times

A saída do designer Jony Ive provocou uma queda apenas modesta das ações da Apple nesta sexta (28), de 0,91%, em Nova York —uma perda de cerca de US$ 9 bilhões de seu valor de mercado—,  pois investidores e analistas interpretaram que ela foi uma transição natural para a companhia —e pode ser a oportunidade para uma reformulação.

"Estou triste de ver Jony Ive sair —marca novamente o fim de uma época incrível", disse Dan Chung, diretor-executivo e chefe de investimentos da Alger, antiga acionista da Apple em Nova York.

Mas ele acrescentou que a saída do principal designer da Apple abrirá espaço para uma nova geração no estúdio interno de design da empresa. "Dar uma oportunidade para o talento se revelar e brilhar talvez seja melhor para a empresa."
 

Jony Ive está deixando a Apple depois de mais de duas décadas - Andrew Cowie-26.mai.2015/AFP

Outros previram continuidade, já que a Apple estará entre os primeiros clientes da LoveFrom, o novo empreendimento de sir Jonathan, que deverá ser lançado no próximo ano.

"Jony é inseparável da Apple", disse Norman Foster, arquiteto britânico que trabalhou com Ive no Apple Park, a nova sede da companhia. "Tenho absoluta convicção de que ele pode continuar nela, mas tem mais a oferecer ao mundo do design do que esse nicho específico no Vale do Silício."

Lorde Foster disse que os amigos de sir Jonathan haviam "sentido a subcorrente" da futura transição. "Eu não acho que seja uma surpresa, digamos assim", acrescentou.

No entanto, foi um choque para a maior parte do círculo mais próximo de sir Jonathan, visto como o corte de um dos laços mais fortes da empresa com o cofundador e chefe Steve Jobs. A dupla forjou uma parceria estreita que gerou produtos de sucesso como o iPod e o iPhone e colocou a Apple a caminho de se tornar a empresa mais valiosa do mundo.

Mas nos últimos anos os negócios da Apple se tornaram menos dependentes do tipo de aparelhos icônicos que sir Jonathan, que recebeu o título da coroa britânica em 2012, ajudou a criar.

"A resposta simples é que isso não muda nada, em parte porque ele não esteve tão envolvido nos últimos quatro anos", disse Gene Munster, analista da Loup Ventures.


Carolina Milanesi, analista de tecnologia de consumo na Creative Strategies, apontou a mudança de sir Jonathan nos últimos anos de cuidar dos produtos da Apple para criar seus ambientes físicos, de lojas de varejo à nova sede corporativa da empresa em Cupertino, na Califórnia, que ele ajudou a projetar.

"Pode ser um desejo natural de sair e fazer outra coisa", disse ela. "[Na Apple] a equipe tem agora liberdade para fazer o que quiser. Não sei se seria fácil, como designer, mesmo para alguém próximo a ele, ficar na sua sombra o tempo todo."

Alguns investidores também sugeriram que uma mudança nas fileiras do design era necessária, depois do amadurecimento do mercado de smartphones e da busca da Apple por novas fontes de receita.

Nos sete anos após a morte de Jobs, em 2011, a Apple mais que dobrou suas receitas do iPhone, para US$ 166 bilhões, mas pouco fez para criar novos produtos e promover uma nova fase de crescimento.

Neste ano, a Apple anunciou um reforço nos serviços de assinatura, tirando o foco do tipo de gadgets e acessórios que foram a marca registrada de Jony Ive.

"O mundo mudou muito nos últimos 20 anos", disse Kevin Walkush, da Jensen Investment Management, que investe na Apple. "Estava ficando defasado? Talvez a saída seja um bom ponto para eles rejuvenescerem a marca." E acrescentou: "Mais inovação seria bom, não apenas em tecnologia, mas também em design".

A potencial próxima geração de produtos inovadores da Apple, de carros autônomos a óculos de realidade aumentada, ainda está em estágios iniciais, o que representa um momento lógico para uma transição, disse Geoff Blaber, analista da CCS Insight.

"Possivelmente chegou ao ponto agora em que é difícil ver aonde ele realmente pode levar o design a um novo nível sem um produto inovador", disse Blaber.

"Está claro que alguns dos campos para os quais eles estão se mudando, seja ele automotivo, seja de óculos, essas coisas levarão anos para se firmar, chegar a um produto comercial."

Em vez de substituir sir Jonathan como diretor de design, os chefes das equipes de interface e desenho industrial da Apple se reportarão a Jeff Williams, diretor de operações.

"O aspecto de usabilidade [do] design físico em conjunto com o design [da interface do usuário] sempre foi uma filosofia especialmente importante na Apple", disse Blaber.

"Possivelmente esse desafio vai se tornar cada vez mais complexo, porque também há o lado dos serviços. Estamos falando de serviços que abrangem música, vídeo, iCloud e gerenciamento de tudo isso com software. É aí que o papel do chefe de operações se torna totalmente importante."

Milanesi comparou a mudança com quando Tim Cook assumiu o papel principal da Apple de Jobs em 2011.

"[Cook] trouxe um conjunto totalmente diferente de habilidades para o cargo de CEO, e eu acho que é semelhante ao que acontecerá com Jeff", disse ela. "[Jeff] entende muito bem a Apple, e tem um grande entendimento do produto como um todo."

Mas John Gruber, um antigo blogueiro sobre a Apple que é um observador atento da empresa, disse em um post na quinta-feira: "Essa estrutura organizacional não faz sentido para mim".

"Alguém precisa ser responsável pelo design para a Apple ser a Apple, e não vejo como isso pode vir das operações."

Uma das razões da falta de uma reação mais forte em Wall Street à saída de sir Jonathan é que "muitas pessoas nunca realmente apreciaram a cultura de design da Apple, ou que o design industrial seja o grupo mais importante da Apple", disse Neil Cybart, analista da Above Avalon.

Ele disse que as reorganizações administrativas não parecem sinalizar qualquer mudança na cultura subjacente da Apple e no papel que o design desempenhou na empresa. Mas acrescentou: "Não acho realmente que veremos o impacto disso antes de alguns anos".

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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