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Sobrevivência é o que mais motiva indústria a inovar, diz pesquisa

Pesquisa mostra que futuro do negócio é o que faz 31% de empresas mudarem

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São Paulo

Inovar é uma questão de sobrevivência para as indústrias brasileiras. 

Essa é a principal motivação de um em cada três presidentes de cem empresas do setor ao mudar seus processos e produtos, segundo levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A pesquisa foi feita entre abril e maio deste ano.

“As empresas reconhecem que não poderão competir no mercado se não inovarem”, afirma Gianna Sagazio, diretora de inovação da CNI.

O percentual é maior do que o registrado na pesquisa de 2015, quando a sobrevivência a longo prazo era a principal razão para inovar para 17% dos entrevistados. 

Esse item foi o único a crescer em porcentagem no estudo de 2019, enquanto o índice de outras nove motivações diminuíram ou permaneceram no mesmo patamar.

Para Sagazio, o resultado da pesquisa mostra que as indústrias estão mais preocupadas com o futuro de seus negócios. E incorporar novidades é uma forma de aumentar as chances de sustentabilidade das empresas.

No entanto, segundo ela, a crise econômica leva o setor industrial a priorizar gastos básicos, como o pagamento de funcionários. A inovação, diz a diretora, fica em segundo plano. “Isso não é adequado porque a empresa pode deixar de existir se ela não mudar.”

O levantamento da CNI mostra também que 6% das empresas consideram que o grau de inovação das indústrias brasileiras é alto, enquanto 48% acreditam que ele seja baixo ou muito baixo. 

Embora ainda estejam muito aquém do ideal, os números revelam mais otimismo do que os resultados obtidos em 2015 (3% e 62% respectivamente).

Os líderes das empresas acreditam ainda que o cenário deve mudar nos próximos cinco anos. Para 31% deles, as indústrias terão alto ou muito alto grau de inovação ao longo deste período. Outros 21% apostam que o nível deve ser baixo ou muito baixo.   

De acordo com Moacir Miranda, chefe de departamento e professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, a inovação na indústria no país é menos disruptiva e mais incremental.

São considerados disruptivos os processos radicais de transformação. “É o que acontece quando a lâmpada substitui a vela. O produtor de vela deixa de existir”, afirma Miranda. Para o professor, isso depende mais de financiamento de pesquisas em desenvolvimento e tecnologia.

Já a inovação incremental, diz Miranda, está ligada à otimização de processos e produtos para diminuir custo e aumentar lucro. Como exemplo dessa modalidade, o professor cita o surgimento de cafés que vendem a bebida feita de grãos de maior qualidade, por um preço maior. 

“Esses estabelecimentos mudaram a percepção de valor do produto para o cliente sem transformações radicais”, afirma.

As startups são outro segmento que pode estar ligado à indústria e que tem registrado crescido no país, de acordo com Miranda. “Estamos assistindo a um processo de ebulição no setor por conta da maturidade dos investidores de risco e das grandes empresas”, diz.

Segundo o professor, as indústrias de grande porte têm monitorado pequenos e médios negócios e firmado parcerias para criar ambientes de inovação. 

É o que, para ele, tem feito a petroquímica Braskem com a Braskem Labs. A plataforma coloca as startups em contato com a empresa e oferece programas de aceleração. “Empresas tradicionais têm percebido que são dinossauros e que vão desaparecer se não se renovarem”, diz Miranda.

Fundador da aceleradora de negócios ACE, Pedro Waengertner compara as pequenas e médias indústrias a lutadoras de peso leve. “Elas não precisam dar socos tão fortes porque são ágeis”, afirma Waengertner. 
Segundo ele, as empresas testam diferentes modelos de trabalho e assumem erros que são rapidamente revertidos.

Para Waengertner, falta qualificação de trabalho ao mercado tradicional para inovar. Mas ele também percebe que o setor tem sido impactado por startups e começa a reagir aos estímulos. “Eu sou otimista e tenho sido procurado por executivos que querem levar inovação a grandes corporações”, afirmou.

Entidade lança inventário com instrumentos de apoio à inovação

Nos últimos 15 anos, o Brasil criou um sistema diversificado de financiamento à inovação na indústria, com programas complementares. Mas o modelo, evidentemente, não escapou da crise. O orçamento público do setor vem diminuindo com cortes, e empresas tentam driblar as dificuldades para obter recursos para inovação.

Nesse contexto, a MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação), coordenada pela CNI, organizou um inventário com mais de 80 instrumentos de financiamento à inovação em empresas, o MEI Tools. 

A ideia é facilitar o acesso das empresas às linhas existentes, bastante fragmentadas.

Esse catálogo separa os programas por modalidade. Há recursos reembolsáveis e não reembolsáveis, fundos, incentivos fiscais e capacitação técnica. Também apresenta detalhes de instrumentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), por exemplo.

O enfraquecimento de instrumentos de subvenção econômica, que apoiam o desenvolvimento de novos produtos e serviços em empresas a fundo perdido, é uma das principais mudanças no universo do financiamento à inovação do país nos últimos anos. 

Isso se deve à forte queda dos desembolsos totais da Finep, agência federal de apoio à pesquisa responsável pela modalidade. Passaram de R$ 8,7 bilhões em 2014 para R$ 3,1 bilhões em 2017. 

A diminuição atingiu duramente os recursos a fundo perdido da agência —os pagamentos da principal linha passaram de R$ 171,4 milhões em 2014 para R$ 51,3 em 2018, em valores atualizados.

A subvenção econômica é especialmente importante para pequenas e médias empresas. “Há muitos riscos envolvidos na inovação, e muitas empresas não tomam crédito porque podem não conseguir pagar”, afirma Fernanda De Negri, pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Foi um apoio desse tipo da Finep que permitiu que a Tecverde, do Paraná, desse os primeiros passos no desenvolvimento de uma tecnologia nacional de construção industrializada de casas e prédios há dez anos. 

Os R$ 120 mil recebidos na época foram usados para estruturar o modelo de negócios da startup, que homologou em seguida a tecnologia no Programa Minha Casa Minha Vida com verbas de um edital Sesi-Senai de Inovação e pôde ampliar a escala da sua produção.

Para Caio Bonatto, sócio da companhia, o acesso a esses instrumentos foi fundamental para a viabilização da empresa. Para o engenheiro, faltam alternativas de financiamento adequadas às pequenas e médias empresas de base tecnológica. “Às vezes a empresa não precisa de subsídio, mas de capital de um pouco mais de risco. Isso é muito incipiente no Brasil e atrapalha o crescimento de qualquer startup”, diz.

A necessidade de fortalecer os instrumentos de financiamento do setor é reforçada por Sagazio, diretora de inovação da CNI. “Faltam políticas de longo prazo e recursos para inovação. Nós entendemos que vivemos uma crise econômica, mas não podemos deixar de investir no futuro do Brasil”, afirma.

Na contramão da queda de investimentos públicos do setor, a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) vem despertando o interesse de empresas de diferentes tamanhos com um modelo próprio de funcionamento. 

A agência, que opera com recursos federais, investe até um terço do valor de projetos de inovação tecnológica, sem reembolso —o restante é dividido entre os centros de pesquisa credenciados e as empresas selecionadas.

De 2014, quando começou a operar, até 2018, a empresa investiu R$ 360 milhões no desenvolvimento de inovações em áreas como biotecnologia, materiais e química e tecnologias da informação e comunicação.

Os aportes privados nesses projetos somaram R$ 535 milhões no mesmo período —passaram de R$ 4,5 milhões no primeiro ano para R$ 222 milhões em 2018.

“Não tem nada crescendo no Brasil nessa proporção”, diz Jorge Almeida Guimarães, diretor-presidente da Embrapii.

Neste ano, no entanto, a agência ainda não recebeu recursos e está adiando a seleção de novos centros de pesquisa credenciados para não desequilibrar as contas.

“Não foi fácil atrair as empresas para investir em inovação no Brasil, e os ganhos são enormes. Os recursos da Embrapii são ridículos mesmo em momentos de crise, representam 0,5% do orçamento do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). Se os recursos não vierem, teremos dificuldade, e isso dará uma sinalização muito negativa para as empresas.”

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