Trump homenageia economista controverso que elogiou seu governo

Defensor de corte de impostos, Arthur Laffer é contestado por democratas e republicanos

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Washington

Donald Trump concedeu na quarta-feira (19) a Medalha Presidencial da Liberdade —maior honraria civil americana— ao economista Arthur Laffer, que escreveu um livro com elogios ao governo do republicano e desperta críticas de todos os espectros políticos dos Estados Unidos.

Em cerimônia no Salão Oval da Casa Branca, Trump apresentou Laffer como o pai da teoria conhecida como supply-side —ou “curva de Laffer”—, na qual o corte de impostos seria o estímulo para o crescimento e o consequente aumento de receita do governo.

A tese foi aplicada por diversos presidentes republicanos —como George W. Bush e Ronald Reagan, de quem Laffer foi assessor—, mas é controversa desde sua concepção.

Democratas e republicanos afirmam que há poucas evidências sobre a eficácia do modelo e argumentam que a teoria resulta no agravamento de déficits orçamentários. 

Há analistas que afirmam até que Laffer não é nem mesmo o criador do modelo, cuja elaboração teria sido responsabilidade de Robert Mundell, vencedor do Nobel em 1999.

O presidente americano Donald Trump concede a Medalha Presidencial da Liberdadeao economista Arthur Laffer na Casa Branca - Jonathan Ernst/REUTERS

David Stockman, ex-diretor de Orçamento da gestão Reagan, classifica Laffer como farsa, enquanto o jornalista Jonathan Chait diz que o economista não cumpriu o receituário básico dos especialistas: escrever artigos acadêmicos ou submeter suas descobertas a revisões. 

“No lugar disso, publicou colunas e artigos para revistas”, escreveu Chait em seu livro “The Big Con”.

O empresário Morris Pearl é ainda mais duro e, em coluna no jornal The Guardian, disse que Laffer não merecia o prêmio. Segundo ele, sua tese não funciona na prática e causou danos imensos à economia dos EUA desde sua criação.

“Cada vez que governos estaduais ou federais testam a teoria de Laffer, os déficits aumentam, as pessoas ricas acumulam sua riqueza no topo e os americanos comuns sofrem”, argumentou Pearl.

Escorado nas páginas de “Trumponomics” —livro que Laffer escreveu com exaltações às políticas de sua administração—, Trump fez um discurso em que disse que poucos na história revolucionaram a teoria econômica de forma tão substantiva. 

A reforma tributária aprovada no fim de 2017 foi a primeira e mais significativa vitória de Trump no Congresso e cortou impostos de empresários e dos mais ricos.

O argumento de Laffer —e ecoado pelo presidente— é que as pessoas não investem se estão sobrecarregadas por impostos e, portanto, reduzir a carga tributária faria com que os americanos voltassem a movimentar a economia, aumentando, a receita da União.

No mês passado, porém, o serviço de pesquisas do Congresso dos EUA —órgão sem vinculação partidária— divulgou relatório que indica que os cortes de imposto não levaram a um maior crescimento. Laffer, por sua vez, diz que seu modelo precisa de mais tempo para dar frutos.

No entanto, um exemplo da aplicação recente de sua teoria tornou-se emblemático por falar contra ele.

Em 2011, depois de o republicano Sam Brownback assumir o governo de Kansas, Laffer o aconselhou a reduzir impostos. A ideia era acabar com taxas sobre 200 mil pequenas empresas e baixar a carga dos mais ricos.

O plano resultou em um enorme déficit no Orçamento e custou a reeleição do governador, que, em 2014, não conseguiu reverter o descontentamento do eleitorado sobre o impacto da medida no financiamento de escolas e no aumento da taxa de pobreza.
 

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