Bolsa volta a bater recorde e vai a 105 mil pontos; risco-país recua para níveis de 2014

Dólar vai a R$ 3,76; Ibovespa tem alta de 1,2% e se aproxima dos 106 mil pontos

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São Paulo

A Bolsa brasileira bateu recorde mais uma vez. A expectativa de que a reforma da Previdência seria aprovada no plenário da Câmara nesta quarta-feira (10) e a sinalização de um corte de juros nos EUA levaram o Ibovespa aos 105.817 pontos, alta de 1,23%. O dólar acompanhou e recuou 0,7%, a R$ 3,759, menor patamar desde fevereiro. 

Gráfico das recentes flutuações dos índices de mercado no pregão da BM&F Bovespa
Bolsa bate recorde pelo quarto pregão seguido com avanço da reforma da Previdência - Folhapress

Outro indicador que surfou no otimismo do mercado foi o risco-país do Brasil medido pelo CDS (Credit Defaut Swap), espécie de seguro contra calote. O contrato de cinco anos está no menor patamar desde setembro de 2014, antes das eleições presidenciais que reelegeram Dilma Rousseff.

Nesta quarta, o CDS recuou 4,6%, a US$ 132,66. No ano, o contrato acumula queda de 42% e se iguala ao recuo total de 2017.

Por ser um derivativo de crédito que protege o risco de calote da dívida soberana, o CDS funciona como um termômetro para a aposta do mercado financeiro no país. Com o avanço da reforma da Previdência, investidores veem uma melhora na saúde fiscal do Brasil e, em consequência, na capacidade do Estado de pagar as contas.

A máxima do risco-país foi em setembro de 2015, quando o contrato de cinco anos chegou a US$ 533,32. À época, a economia brasileira entrou em recessão técnica com a queda do PIB e a agência de risco Standard & Poor’s (S&P) retirou o selo de bom pagador do Brasil.

Desde então, o cenário piorou e a categoria de investimento foi rebaixada mais três vezes, o que indica aumento risco de calote.

Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, o Brasil pode até subir um degrau na escala de crédito, mas não deve voltar ao grau de investimento tão cedo.

“É possível que a gente tenha uma melhor no rating este ano, já que as agências de risco estão esperando a reforma. Mas não seriam dois aumentos, isso depende do Brasil voltar a crescer e a economia está estagnada. Não é a reforma que vai resolver isso”, afirma.

O selo de bom pagador do país pelas três agências de risco (Moody’s, S&P e Fitch) foi adquirido no segundo mandato de Lula, entre 2008 e 2009. Esta classificação é importante por ser exigida como condição de investimento por fundos de pensão e de investimento que aportam grandes quantias em títulos de dívida de governos. 

Além do andamento das reformas e da recuperação do PIB, o grau de investimento é tido como fundamental para o retorno do investimento estrangeiro no país. 

No ano, o balanço de investimentos estrangeiros da Bolsa contabiliza saída de R$ 3,6 bilhões. Em 2018, o saldo é negativo em R$ 11,5 bilhões.

“A retomada de crescimento e o retorno ao grau de investimento é um desafio para a próxima década. Uma vez que o país perde isso, a média de recuperação é de oito anos”,diz Latif.

Segundo a economista, a reforma da Previdência não traz crescimento econômico. Seus efeitos seriam de curto prazo, com o aumento da confiança de empresários e redução da relação dívida PIB.

É o alívio macroeconômico que leva a euforia do mercado financeiro com a aprovação do projeto. 

“Passando essa reforma, o mercado vira a página e vai para a próxima, que é a tributária. A lógica do mercado financeiro é de curto prazo. O horizonte não passa de seis meses”, afirma.

Nesta quarta a Bolsa chegou, no momento do dia, aos 106.650 pontos, nova máxima intraday. O giro financeiro foi R$ 23 bilhões, acima da média, devido ao otimismo de investidores e à volta de feriado.

Como a Bolsa não funcionou na terça (9), as ações tiveram um maior volume de negociação para acompanhar a alta de 1% dos ADRs (American Depositary Receipts), ações brasileiras negociados nas Bolsas americanas, na véspera. 

Além da reforma da Previdência, o discurso do presidente do Fed (banco central americano), Jerome Powell, animou investidores. Nesta quarta, Powell discursou no Congresso americano e prometeu “agir conforme apropriado” para proteger o crescimento da economia americana de disputas comerciais e da desaceleração global.

Apesar de fortes dados do mercado de trabalho em junho, que dificultam um corte de juros, o presidente disse haver muitos fatores que ameaçam a expansão, como o enfraquecimento de outras economias, guerras comerciais e inflação baixa. 

“Não temos nenhuma evidência para chamar isso [criação de empregos em junho] de mercado de trabalho aquecido. E há o risco de que a inflação fraca seja ainda mais persistente do que podemos antecipar”, afirmou.

Também foi divulgada nesta quarta a ata da última reunião do Fed, na qual a maioria dos membros reconhece a necessidade de um corte de juros em breve, caso os riscos à economia americana não se dissipem.

Com a expectativa de corte de juros, o índice Nasdaq de tecnologia bateu o recorde histórico, aos 8.202 pontos, em uma alta de 0,75%. O índice S&P chegou a tocar a máxima de 3 mil pontos, mas fechou abaixo do recorde, com alta de 0,45%. Dow Jones subiu 0,3% e também encostou no pico histórico.

Como efeito, o DXY, índice que mede a força da moeda frente aos principais pares mundiais, recuou 0,38%, o que contribuiu para a queda do dólar no Brasil.

A tendência de corte de juros também ganhou força por aqui. Nesta quarta, o contrato futuro de juros de setembro foi para 6,20%, precificando uma queda de 0,25 ponto percentual na taxa Selic. De setembro em diante, todos os contratos registram queda, impulsionada pelo IPCA.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo, taxa oficial de inflação, recuou em junho para 0,01%, menor taxa desde novembro de 2018. O número fraco reforça a expectativa de cortes na taxa Selic ainda neste ano.

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