Araújo diz que declaração da França visa público interno do país

Porta-voz do governo francês disse que país não está preparado para ratificar acordo comercial

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Brasília

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, rebateu nesta terça-feira (2) as declarações da porta-voz do governo francês, Sibeth Ndiaye, que disse que seu país não está preparado, no momento, para ratificar o acordo comercial assinado entre a União Europeia e o Mercosul.

"Esse tipo de declaração visa muito ao público interno, não acho que é muito o caso de reagir diretamente a ela", disse Araújo, durante coletiva de imprensa convocada para comentar o tratado de livre comércio negociado com os europeus.

Ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo durante coletiva de imprensa no Palácio Itamaraty após assinatura de acordo de livre-comércio entre UE e Mercosul
Ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo durante coletiva de imprensa no Palácio Itamaraty após assinatura de acordo de livre-comércio entre UE e Mercosul - Evaristo Sa/AFP

O chanceler ressaltou que o texto acordado com a União Europeia deverá passar ainda por um processo de revisão técnica e que o trâmite de ratificação ainda levará tempo. "Cabe muito à Comissão Europeia esclarecer aos seus países o que está dentro do acordo", pontuou Araújo, que argumentou que os interesses tanto dos integrantes da UE quanto dos do Mercosul foram contemplados.

"A Comissão Europeia mantém consultas permanentes aos estados-membros. Nada do que está no acordo, a meu ver, é uma surpresa para os estados-membros", acrescentou.

A França é um dos países europeus onde há mais resistência ao acordo de livre comércio entre a UE e o bloco sul-americano. O setor agrícola francês teme, por exemplo, ser afetado pela entrada de produtos agropecuários provenientes de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

Na França, críticos ao acordo ressaltam que há regras ambientais cada vez mais rígidas na União Europeia, enquanto que no Mercosul as normas regulatórias para esses temas são menos exigentes.

Nesta sexta-feira, Araújo também respondeu a essas críticas. "O acordo tem uma série de instrumentos que são do interesse dos dois lados, de respeito a padrões ambientais e a normas sanitárias e fitossanitárias. Geralmente esse tema se coloca só como de interesse europeu, mas também é nosso. Muitos países europeus têm um uso de agrotóxico por hectare maior do que no Brasil", justificou.

O chanceler ressaltou, no entanto, que não pretende interferir em um "diálogo interno na França"."Estamos prontos para conversar com a França ou com quem quer que seja", argumentou.

Ernesto Araújo disse ainda que, com a conclusão das negociações com a UE, novos acordos comerciais do Mercosul devem ser impulsionados. "Pretendemos muito em breve fechar novos acordos. O Brasil assume a presidência pro tempore [temporária] do Mercosul, podemos fechar mais dois acordos neste semestre. Em dois anos de governo teremos criado uma rede muito densa de acordos comerciais com o Brasil", declarou Araújo.

Ele disse que, entre os tratados que estão sendo negociados, o mais avançado é um entendimento com a Efta (Associação Europeia de Comércio Livre), grupo de quatro países europeus —Suíça, Liechtenstein, Noruega e Islândia— que não fazem parte da União Europeia.

De acordo com Araújo, também há conversas com Canadá, Cingapura, Coreia do Sul e Japão. O chanceler também argumentou que o acordo foi possível, entre outros fatores, em razão de uma nova visão trazida pelo presidente Jair Bolsonaro e de uma "coincidência" entre as agendas do presidente Mauricio Macri (Argentina) e do governo brasileiro.

"Ele [o acordo] faz parte de uma visão que todo o governo tem, o ministro Paulo Guedes (Economia) especialmente: a visão de um Brasil grande, no centro das grandes decisões mundiais, que abre a sua economia para se inserir melhor nos fluxos internacionais", disse.

Araújo alegou ainda que houve mudanças no cenário político da Europa que também facilitaram para que o acordo fosse fechado. Segundo ele, no passado a UE "tentou impor" o seu modelo de integração ao Mercosul.

"Esse modelo supranacional em que você ia diluindo as nacionalidades e criando uma burocracia única. Havia uma ideia de que estávamos comprando um modelo de integração para o Mercosul. Isso não existe mais. Ambos valorizam a ideia da integração, mas diferentemente", concluiu.

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