Argentinos sacrificam vacas reprodutoras por aperto financeiro e demanda chinesa

Movimento destaca como o aperto na política monetária do país tem espremido setor agrícola

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Buenos Aires | Reuters

Os pecuaristas argentinos estão sacrificando suas vacas reprodutoras ao maior ritmo em 30 anos para aproveitar a demanda chinesa e pagar contas em meio a uma seca no acesso a crédito rural no país.

O movimento destaca como o aperto na política monetária da Argentina tem espremido o setor agrícola com taxas de juros ao redor de astronômicos 60%, que prejudicam investimentos necessários para manter valiosos rebanhos de vacas e bezerros por vários anos até a maturidade.

Rebanho de vacas leiteiras em fazenda de Totoras, ao norte de Buenos Aires, na Argentina
Rebanho de vacas leiteiras em fazenda de Totoras, ao norte de Buenos Aires, na Argentina - Enrique Marcarian - 02.fev.2012/Reuters

"Os fazendeiros, sem fonte real de financiamento, estão procurando liquidez por meio dessas vendas de vacas", disse o presidente da Federação Agrária Argentina, Carlos Achetoni.

A câmara argentina do setor de carnes (Ciccra) disse que no primeiro semestre de 2019 as fêmeas representaram 50,1% dos animais sacrificados, maior nível nas últimas três décadas e bem acima da taxa máxima vista como sustentável, de cerca de 43%.

Essa tendência pode levar o rebanho do país a ser reduzido em até 400 mil cabeças em 2020, ante um total de 53 milhões de cabeças em março.

"É uma decisão de sobrevivência", disse o presidente da Ciccra, Miguel Schiaritti.

Segundo ele, os fazendeiros estão precisando pensar no curto prazo e se desfazer de ativos porque não conseguem tomar empréstimos às atuais taxas de juros.

"Para os fazendeiros, a vaca é a máquina que produz bezerros. É como se alguém que fabrica parafusos vendesse a máquina que faz os parafusos para se financiar e pagar suas despesas."

A demanda chinesa, segundo os fazendeiros, tem sido importante para que essas vendas ao menos sejam lucrativas.

As exportações de carne bovina da Argentina para a segunda maior economia do mundo se multiplicaram, com embarques nos primeiros cinco meses do ano para os portos chineses representando 72% do total de 180 mil toneladas exportados pelo país, segundo a Ciccra.

A China demanda principalmente cortes mais baratos de carne de vacas –que se adequam melhor à culinária local, mais focada em pratos compartilhados do que em cortes de carnes nobres. Isso elevou o preço dessa categoria de carne em 88% contra um ano atrás, para média de 43 pesos (US$ 1,01 ou R$ 3,80) por quilo vivo nos principais mercados de gado da Argentina.

Os agricultores vendem as vacas para matadouros locais, que por sua vez enviam a carne para compradores globais, incluindo na China.

Carlos Iannizzotto, presidente da associação argentina de produtores rurais Coninagro, disse que os preços mais elevados devido à demanda da China ajudaram, embora a questão central ainda seja as finanças dos agricultores.

"As exportações para a China significam que pelo menos os produtores não precisam entregar suas vacas, eles podem obter um bom preço. Isso é uma bênção", acrescentou Schiaritti.

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