BRF pode elevar exportação para China em 30% com novas habilitações de fábricas

Exportações para a China cresceram apoiadas na crise causada pela epidemia de peste suína africana

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Ana Mano Alberto Alerigi Jr.
São Paulo | Reuters

A BRF espera para breve até quatro novas habilitações de fábricas da companhia para venda de produtos de carne de frango e suína para a China, o que deve ajudar a maior exportadora de carne de frango do mundo a interromper em 2019 a série de três anos de prejuízos.

Em entrevista à Reuters, o presidente-executivo da companhia dona das marcas Sadia e Perdigão, Lorival Luz, afirmou que as exportações da empresa para a Ásia, principalmente para a China, no segundo trimestre cresceram ante o verificado um ano antes e no primeiro trimestre, apoiadas na crise causada pela epidemia de peste suína africana no rebanho local.

Porém, ele alertou que apesar de os preços de suínos para a China terem subido 20% a 30% o aumento nos volumes de exportação ainda é tímido, uma vez que novas habilitações de fábricas para vendas ao país ainda não foram aprovadas.

"Estamos preparados para habilitação da fábrica de Lucas (do Rio Verde)...isso deve aumentar nossa capacidade de exportação para a China em 30%", disse Luz, se referindo a suínos e frango, proteínas produzidas na unidade e que precisam de autorizações distintas.

"Está mais próxima (a habilitação), que mais distante", afirmou o executivo, acrescentando que visitas de autoridades chinesas e do Ministério da Agricultura a instalações produtivas no Brasil acontecem nesta semana e devem continuar na próxima semana.

Luz afirmou que além das duas habilitações para Lucas do Rio Verde, a BRF também espera receber permissões para exportações à China de mais três fábricas que produzem carne de frango.

Diante dessa expectativa, a empresa está investindo R$ 160 milhões a R$ 170 milhões  para preparar as unidades produtivas para as vendas à China, disse o presidente da BRF.

Para a Europa, a empresa não espera para 2019 autorizações para voltar a exportar carne de frango, interrompidas em abril de 2018, na sequência das investigações da Polícia Federal relacionadas à operação Carne Fraca.

Criação de porcos em Harbin, na China. Febre africana, fatal aos animais, impactou produção de carne suína - Hallie Gu-11.set.2018/Reuters

Segundo Luz, a empresa está com nível de estoque de matéria-prima de 40 mil toneladas, bem abaixo das 150 mil toneladas atingidas logo após a interrupção das vendas para a Europa.

O resultado é reflexo das medidas tomadas para reestruturação da companhia, algo que incluiu levantamento de R$ 4,1 bilhões principalmente com venda de ativos, um processo encerrado no início do ano.

"Ano passado foi de preço baixo, redução de alojamento de animais. Este ano é o ano da virada, de interrompermos o prejuízo e voltarmos a ter lucro e a alavancagem deve recuar abaixo de 3,65 vezes", disse Luz. Para 2020, "quero que a alavancagem chegue a 2,5 vezes", ante meta anterior da BRF de três vezes.

A BRF acumula desde 2016 prejuízo líquido de r$ 5,9 bilhões, a alavancagem chegou ao pico de 5,64 vezes no primeiro trimestre ante 5,12 vezes no fim de 2018. A companhia deve divulgar o resultado do segundo trimestre em 9 de agosto.

Mercado halal

Luz comentou que além da habilitação das fábricas para venda à China, o mercado halal é prioridade da BRF, onde a empresa tem uma participação de mercado de cerca de 50%.

A prioridade envolve a busca de um parceiro para produção local na Arábia Saudita, disse o executivo, rebatendo rumores de venda de ativos na região do Golfo Pérsico. "Queremos uma parceria para solidificar nossa posição lá, onde possamos entrar com nossa distribuição. O objetivo não é colocar dinheiro é fazer uma parceria 'non cash'", disse o presidente da BRF, que deve voltar à região no segundo semestre após uma visita à Arábia Saudita na primeira metade do ano.

"Estamos conversando com diferentes grupos que produzem localmente e têm interesse em fazer investimentos lá", acrescentou Luz, citando o plano estratégico da Arábia Saudita para reduzir importações e aumentar a produção local de alimentos.

Capitalização descartada

Questionado sobre os planos para redução da alavancagem da BRF, Luz afirmou que a companhia não trabalha neste momento com qualquer estudo para uma emissão subsequente de ações e que confia na recuperação dos resultados da empresa.

"A capitalização é algo que não está em discussão. Do ponto de vista de análise, obviamente, se eu fosse um acionista, uma coisa é você ter uma diluição no preço da ação a R$ 20. A R$ 35 o nível de diluição é muito menor. Mas isto serve para a BRF ou para qualquer empresa", disse o presidente da BRF.

"A redução da alavancagem virá do resultado da companhia. Isso será algo percebido a cada trimestre. Não vou tomar decisões de curtíssimo prazo e que comprometam o longo prazo da companhia", acrescentou.

Sobre as frustradas discussões para uma eventual fusão da BRF com a segunda maior produtora de carne bovina do mundo, a brasileira Marfrig, Luz afirmou que a ideia de união das empresas surgiu a partir das discussões que teve com o empresário Marcos Molina, presidente do conselho da Marfrig, por ocasião da venda de ativos da BRF na Argentina e que resultaram também em uma parceria em hambúrgueres no Brasil. A Marfrig recomprou os ativos argentinos da BRF no final de 2018.

"Não tenho nenhuma frustração (das conversas não terem evoluído para um acordo)...Se fosse ano passado, quando a gente estava fazendo os alicerces, não teria a menor condição conversar", disse Luz referindo-se ao foco anterior da BRF em cumprir etapas de seu plano de reestruturação.

BRF e Marfrig anunciaram fim das conversas para fusão na semana passada, citando falta de acordo "sobre a governança da companhia combinada", algo repetido por Luz na entrevista.

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