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Ricardo Lacerda

É preciso acabar com a dinâmica inóspita contra quem produz

Para empresário da área financeira, alívio na Previdência é básico para estado, mas setor privado espera suas reformas

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Ricardo Lacerda

A aprovação da Reforma da Previdência foi o maior passo do Brasil desde a estabilização da moeda com o Plano Real. Além de evitar a bancarrota, essa reforma vai corrigir distorções enormes e colocar o país novamente no radar do investimento estrangeiro e na rota do crescimento econômico.

A votação expressiva dos parlamentares a favor da reforma, inclusive muitos de esquerda contrariando posições partidárias, mostra o amadurecimento da sociedade e a necessidade de tirar o Brasil do atraso e do marasmo econômico.

Mas muito mais precisa ser feito para consertar de fato o país e para não deixar passar mais uma oportunidade de ouro.

Há dinheiro de sobra no mundo, o crescimento econômico mundial está robusto e muitas bolsas estão no seu nível recorde histórico. Mas em termos relativos ainda poucos recursos vindo para cá.

O Brasil se tornou um lugar inóspito pra quem quer trabalhar ou empreender.

Uma minoria conseguiu transformar o país num paraíso para burocratas, safados e privilegiados, gente que só faz sufocar quem trabalha, investe e produz.

É preciso mudar essa dinâmica, criando um ambiente favorável ao trabalho e ao empreendedorismo.

O primeiro passo é reduzir radicalmente o tamanho do estado. É preciso privatizar o que for possível e liquidar o que não for.

Nossa experiência de estado-empresário é desastrosa, só fez queimar recursos com roubalheira ou ineficiência. Recursos sonegados da educação, saúde e segurança pública, que precisam ser devolvidos à sociedade.

A maior parte das autarquias brasileiras só serve para infernizar a vida de quem cumpre regras e nada fazer contra quem não cumpre. O ônus em cima do cidadão comum tornou-se insuportável.

O segundo passo é uma reforma tributária ampla, que possa racionalizar nosso sistema de impostos.

Diante da evidente dificuldade de reduzir a carga tributária num cenário de grave deficit orçamentário, é preciso no mínimo redistribuir os tributos para que pesem menos em cima de quem trabalha ou produz.

É impossível resgatar a competitividade da nossa indústria sem medidas claras nesse sentido. É também impossível gerar poupança interna e investimentos com o sistema atual.

Outra medida importantíssima é a independência do Banco Central. Dado nosso histórico inflacionário e a tentação natural dos governantes de influir na política monetária, não há outra forma de garantir a estabilidade da moeda.

Com a independência do Banco Central, o custo da nossa política monetária cairá substancialmente, trazendo menos inflação, menos volatilidade e consequentemente juros ainda mais baixos.

Por fim, é preciso abrir mais a economia brasileira, a mais fechada do grupo do G20.

O recente acordo do Mercosul com a União Europeia foi um importante passo de pragmatismo numa política externa carregada de ideologia. Mas seus efeitos serão lentos e incertos.

Precisamos de mais abertura com maior rapidez, não apenas no âmbito comercial, mas principalmente para atrair os investimentos que o país tanto precisa.

O Brasil não tem recursos internos para cobrir os investimentos necessários, é simples assim. Precisamos de um esforço real para atrair o capital estrangeiro e isso não virá sem uma ampla abertura da economia.

Independentemente da preferência política de cada um de nós, é fato que as políticas socias-democratas instaladas a partir da constituição de 1988 fracassaram, criaram um monstro chamado estado prestes a engolir todos nós.

Ninguém foi capaz de fazer um diagnóstico tão preciso da falência desse estado brasileiro como o Ministro Paulo Guedes.

Ele agora começa a mostrar que tem condições de implementar as medidas para colocar o país de volta nos trilhos, mas o caminho ainda é longo e cheio de obstáculos. A Reforma da Previdência foi um bom começo.

Ricardo Lacerda 
Sócio-fundador do BR Partners, foi presidente Goldman Sachs no Brasil e do Citigroup na América Latin

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