A aprovação da Reforma da Previdência foi o maior passo do Brasil desde a estabilização da moeda com o Plano Real. Além de evitar a bancarrota, essa reforma vai corrigir distorções enormes e colocar o país novamente no radar do investimento estrangeiro e na rota do crescimento econômico.
A votação expressiva dos parlamentares a favor da reforma, inclusive muitos de esquerda contrariando posições partidárias, mostra o amadurecimento da sociedade e a necessidade de tirar o Brasil do atraso e do marasmo econômico.
Mas muito mais precisa ser feito para consertar de fato o país e para não deixar passar mais uma oportunidade de ouro.
Há dinheiro de sobra no mundo, o crescimento econômico mundial está robusto e muitas bolsas estão no seu nível recorde histórico. Mas em termos relativos ainda há poucos recursos vindo para cá.
O Brasil se tornou um lugar inóspito pra quem quer trabalhar ou empreender.
Uma minoria conseguiu transformar o país num paraíso para burocratas, safados e privilegiados, gente que só faz sufocar quem trabalha, investe e produz.
É preciso mudar essa dinâmica, criando um ambiente favorável ao trabalho e ao empreendedorismo.
O primeiro passo é reduzir radicalmente o tamanho do estado. É preciso privatizar o que for possível e liquidar o que não for.
Nossa experiência de estado-empresário é desastrosa, só fez queimar recursos com roubalheira ou ineficiência. Recursos sonegados da educação, saúde e segurança pública, que precisam ser devolvidos à sociedade.
A maior parte das autarquias brasileiras só serve para infernizar a vida de quem cumpre regras e nada fazer contra quem não cumpre. O ônus em cima do cidadão comum tornou-se insuportável.
O segundo passo é uma reforma tributária ampla, que possa racionalizar nosso sistema de impostos.
Diante da evidente dificuldade de reduzir a carga tributária num cenário de grave deficit orçamentário, é preciso no mínimo redistribuir os tributos para que pesem menos em cima de quem trabalha ou produz.
É impossível resgatar a competitividade da nossa indústria sem medidas claras nesse sentido. É também impossível gerar poupança interna e investimentos com o sistema atual.
Outra medida importantíssima é a independência do Banco Central. Dado nosso histórico inflacionário e a tentação natural dos governantes de influir na política monetária, não há outra forma de garantir a estabilidade da moeda.
Com a independência do Banco Central, o custo da nossa política monetária cairá substancialmente, trazendo menos inflação, menos volatilidade e consequentemente juros ainda mais baixos.
Por fim, é preciso abrir mais a economia brasileira, a mais fechada do grupo do G20.
O recente acordo do Mercosul com a União Europeia foi um importante passo de pragmatismo numa política externa carregada de ideologia. Mas seus efeitos serão lentos e incertos.
Precisamos de mais abertura com maior rapidez, não apenas no âmbito comercial, mas principalmente para atrair os investimentos que o país tanto precisa.
O Brasil não tem recursos internos para cobrir os investimentos necessários, é simples assim. Precisamos de um esforço real para atrair o capital estrangeiro e isso não virá sem uma ampla abertura da economia.
Independentemente da preferência política de cada um de nós, é fato que as políticas socias-democratas instaladas a partir da constituição de 1988 fracassaram, criaram um monstro chamado estado prestes a engolir todos nós.
Ninguém foi capaz de fazer um diagnóstico tão preciso da falência desse estado brasileiro como o Ministro Paulo Guedes.
Ele agora começa a mostrar que tem condições de implementar as medidas para colocar o país de volta nos trilhos, mas o caminho ainda é longo e cheio de obstáculos. A Reforma da Previdência foi um bom começo.
Ricardo Lacerda
Sócio-fundador do BR Partners, foi presidente Goldman Sachs no Brasil e do Citigroup na América Latin
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