Escorregões do presidente são entrave para abertura inédita, afirmam analistas

Acordos comerciais estão em estágio avançado com Coreia do Sul, Canadá, Cingapura e México; Japão e EUA também buscam parceria

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São Paulo

Se conseguir evitar reveses diplomáticos, o governo Jair Bolsonaro tem a oportunidade de promover uma abertura inédita da economia brasileira por meio de acordos de livre-comércio.

Além do entendimento com a União Europeia, selado no mês passado depois de 20 anos de negociações, estão na fila oito tratados de livre-comércio, em diferentes estágios. A lista inclui Japão e Estados Unidos.

Nesta terça-feira (30), Donald Trump, presidente dos EUA, disse a jornalistas na Casa Branca que seu país “vai trabalhar por um acordo de livre-comércio com o Brasil”.

O mandatário americano afirmou que o “Brasil nos cobra um monte de tarifas, mas é um grande parceiro comercial”. Ele também elogiou Bolsonaro, que é conhecido internacionalmente por copiar o estilo de Trump.

O secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, em São Paulo - Marcelo Chello/Reuters

Se o processo avançar, será a primeira vez que o Brasil negocia um acordo de livre-comércio com os EUA desde o fracasso da Alca (Acordo de Livre Comércio das Américas), em novembro de 2005, durante a Cúpula das Américas em Mar del Plata, na Argentina.

Para Diego Bonomo, gerente-executivo de assuntos internacionais da CNI (Confederação Nacional da Indústria), o entendimento com a União Europeia tornou o mercado brasileiro mais atrativo para as demais potências.

“Até fechar com os europeus, o Brasil não tinha nenhum acordo com países desenvolvidos. Agora americanos e japoneses estão com receio de ficar de fora do nosso mercado”, afirmou.

Segundo técnicos do governo brasileiro, as conversas com EUA e Japão ainda estão em fase inicial, todavia podem evoluir rapidamente. O objetivo da equipe econômica é lançar oficialmente essas negociações em breve.

É bem provável, no entanto, que a atual gestão não precise esperar muito para colher mais resultados na política comercial. Até novembro, o Mercosul deve assinar um acordo de livre-comércio com a EFTA, zona de livre comércio que inclui Noruega, Islândia, Suíça e Liechtenstein.

As negociações com a União Europeia e com a EFTA fazem parte de um pacote de acordos que estão em estágio avançado, porque vem sendo discutidos desde a gestão Michel Temer (MDB).

Para 2020, estão previstos tratados com Coreia do Sul, Canadá, Cingapura e México.

Conforme apurou a reportagem, as discussões estão mais avançadas com a Coreia do Sul, mas o assunto desperta polêmica. 

A visão do governo é que um acordo de livre-comércio pode transformar o Mercosul em base produtiva para as gigantes empresas sul-coreanas, que vem migrando para outros países em busca de custos menores.

Já o setor privado não tem a mesma convicção. Bonomo, da CNI, diz que a alta competitividade da Coreia do Sul em eletrônicos e automóveis poderia até inviabilizar a produção desses setores no Brasil.

Segundo o executivo, o principal interesse da indústria hoje é um acordo com o México, que tem potencial para se tornar mercado importante para os manufaturados brasileiros.

Se todas essas expectativas de acordos comerciais se concretizarem, especialistas em comércio exterior avaliam que haverá um impacto significativo para o Brasil, um país que passou anos avesso a tratados bilaterais, principalmente durante os governos petistas.

Eles afirmam que uma série de fatores favorece a abertura da economia brasileira.

O primeiro é a vontade política da atual gestão, que é abertamente liberal, principalmente por causa da orientação do ministro da Economia, Paulo Guedes.

O segundo é a maior disposição do empresariado, que reduziu o nível de protecionismo em comparação com décadas anteriores.

O setor privado vem aceitando, por exemplo, que as reformas econômicas podem ser feitas em paralelo com a abertura comercial.

Já o principal entrave seria a falta de habilidade do próprio presidente, que tem uma boa relação com Trump, mas coleciona polêmicas com outros líderes internacionais. 

Nesta segunda-feira (29), por exemplo, provocou indisposição na França por cancelar uma reunião com um ministro do governo de Emmanuel Macron e depois aparecer cortando o cabelo nas redes sociais. 

A percepção geral, portanto, é que Bolsonaro pode fazer história se não escorregar na diplomacia.

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