Eike Batista tem versão 'Game of Thrones' em evento de empreendedorismo

Ex-homem mais rico do país fez sua primeira aparição pública em anos, no Empreende Brazil Conference

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Florianópolis

Um dos dragões de "Game of Thrones" aparece derretendo com suas labaredas o tão cobiçado trono da série da HBO. Segue a legenda: "I'm back" (estou de volta).

Sim, Eike Batista está de volta, e não quer ser discreto a respeito. Após um ano e meio de hiato, voltou ao Twitter no mês passado, e por lá só tuita em caixa alta, ASSIM (diz que por respeito ao pai, que não conseguia ler letrinhas miúdas).

Neste sábado (6), fez sua primeira aparição em anos num evento público: o Empreende Brazil Conference (com nome metade em português, metade em inglês mesmo).

Eike no Empreende Brazil Conference, em Florianópolis - Divulgação

Minimiza a sucessão de tropeços judiciais e financeiros, como a temporada de três meses na prisão, em 2017, num desdobramento da Lava Jato (operação da qual diz ser fã), ou a condenação a 30 anos de prisão, acusado de pagar propina para o ex-governador do Rio Sergio Cabral (isso em primeira instância, ou seja, ele recorre em liberdade). 

O ex-homem mais rico do Brasil e ex-presidiário foi, junto com a cantora Anitta e o ex-presidenciável João Amoêdo, uma das iscas do evento que levou 3.500 empreendedores, ou aspirantes a tanto, a "15 horas de imersão" num centro de convenções em Florianópolis, por ingressos que chegaram a R$ 3.000  —isso se você quisesse ser vip, com direito a camarote e garçom servindo cafezinho. 

"Voltei com mais intensidade", disse Eike a uma repórter de TV, nos bastidores da conferência. Com blazer por cima de uma camisa esportiva, jeans e tênis, horas depois ele venderia, na arena, a ideia de que é seu momento de dar a volta por cima.

"Falhou, levanta, faz de novo", disse ao público. "É difícil mesmo. Achei que, com tanto sucesso… Não sei se vocês conhecem húbris, essa palavra em latim que quer dizer autoconfiança demais. Depois de construir 12 minas no mundo, por que eu ia errar exatamente no petróleo?"
 

É uma das áreas em que o empresário não foi muito bem, e por motivos que não dependiam só dele, mas também de decisões governamentais, disse. Também afirmou que foi "pego de calça curta", sem perceber que estava rodeado de pessoas desonestas que quase o levaram à falência. 

O total de multas já impostas a Eike pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) chega a R$ 559,5 milhões, envolvendo supostos malfeitos em sua petroleira OGX e sua empresa de construção naval OSX.

Nada disso vem ao caso na Empreende Brazil, que abriu espaço para Eike falar sobre o que o empolga daqui para frente. "Mostrem os unicórnios que têm no curral", declarou. Unicórnio é um codinome para empresas vistas como raridades que prosperam entre os múltiplos fracassos no mundo dos negócios. 

Suas novas apostas: nanotecnologia. "Os jovens escutem isso, porque vai virar tudo de cabeça pra baixo." Um suplemento que, garantiu, o fez crescer um centímetro. O grafeno, material mais resistente que o aço. 

"Acho que o nosso presidente [Jair] Bolsonaro, quando fala do grafeno com entusiasmo, é isso mesmo", disse ele, que minutos antes declarou sentir orgulho por sua família ser apolítica. 

Ele também transitou bem em governos petistas. Em 2012, a então presidente Dilma posou ao seu lado, vestindo um macacão da OGX.

Minutos depois, voltaria às relações políticas que levaram à sua condenação pela Justiça. Mostrou no telão um vídeo com depoimento de Sérgio Cabral ao juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio. Disse o ex-governador: "O sr. Eike Batista, comigo [ele] nunca teve toma lá, dá cá."

Eike finalizou sua apresentação com "uma provocação a vocês, empresários": "Entrar num ciclo ruim acontece, não tenham vergonha. Entrem e saiam pela porta da frente".

"Não sei qual poupança dela é maior, a financeira ou...", dizia um rapaz na fila para entrar no auditório, deixando no ar uma referência óbvia ao bumbum da popstar.

Quem acha que a cria do subúrbio carioca Larissa de Macedo Machado, 26, deve sua carreira internacional à boa forma está enganado. Ela, que tomou para si o nome artístico de Anitta, até na Universidade Harvard já deu palestra sobre sua estratégia para crescer na vida.

Um ano depois, a cantora contava em Santa Catarina como pensou em cada passo para virar uma das celebridades brasileiras mais conhecidas no exterior. E sua ascensão ao estrelato inclui colocar no YouTube um vídeo dela fazendo uma performance com um bastão de desodorante no lugar do microfone e até trocar Larissa por Anitta.

A nova identidade veio de "Presença de Anita", minissérie que a Globo exibiu em 2001, quando ela tinha oito anos. Foi numa reprise que Larissa captou: a saga da jovem com ares de Lolita interpretada por Mel Lisboa caiu como uma luva para o que tinha em mente para si. 

"Hoje meu trabalho é um pouco mais universal", mas antes "era bem favela, bem funkão", disse. Sabia que "precisava deixar de lado" essa imagem, que bem ou mal atingia só um nicho, se desejasse ir longe.

Lição para os empreendedores na sala: "Sentia falta de algo empoderado para a mulher, algo livre, algo forte". Daí a trama da Globo. "Você queria saber quem era a tal da Anita. Ela dizia que queria ser várias mulheres ao mesmo tempo."

Romântica, sensual, inteligente. "Ela não queria ser um só estereótipo de mulher", afirmou. Adeus, Larissa, olá, Anitta. "Ela tinha muito a cara do produto que eu queria criar." E um produto com prazo de validade. Ela pensa em se aposentar dos palcos daqui a quatro anos, quando completar 30, e quem sabe virar consultora de novos talentos musicais.

Outra vantagem: o nome começa com "a". Ou seja, em eventos com vários artistas, ela se daria bem na ordem alfabética. No material de divulgação, "estaria em primeiro sempre".

"Empresas com nome 'w', se liguem", brincou o organizador da conferência, Lucas Schweitzer, que a entrevistava na arena.

Anitta empilhou parcerias internacionais que vão de Madonna a Snoop Dogg, muitas delas "meu amigos". "As pessoas que eu admiro, de quem sou fã, nenhuma delas eu que fui atrás."

João Amoêdo não teve problemas em admitir que foi atrás, sim, de um novo tipo de empreendedorismo: o político. 

Antes, elencou chavões do meio, como "um problema pode ser uma oportunidade" e "esteja disposto a sair da zona de conforto". Claro que empreender no Brasil não é moleza. "Até para fazer suco na garagem é complicado", disse.

E como poderia ser diferente, num país que tem uma legislação tributária que, se aglutinada em livros, daria 7,5 toneladas? Ora, um elefante pesa seis toneladas, comparou.

Há um ranking de liberdade econômica que coloca o Brasil em 153º lugar. "A turma que nos acompanha: Afeganistão depois, Uzbequistão antes." Hong Kong encabeça a lista.  

Quer um mau exemplo de empreendedorismo? Vai pra Cuba. "Lá você tem médico, engenheiro dirigindo táxi, porque não há ambiente propício para empreender", afirmou.

A decisão de fundar um partido, o Novo, e entrar na disputa de 2018 como o presidenciável mais rico (patrimônio declarado de R$ 425 milhões), foi um passo natural, segundo o ex-banqueiro.

Ele perdeu para Jair Bolsonaro, que, em sua opinião, faz um governo com "um amontoado de gente que acaba batendo cabeça". Mas o Novo cresceu e apareceu: conquistou naquele ciclo eleitoral um governador e oito deputados federais. 

Isso sem contar a explosão no número de filiados. Imagine pessoas decidindo assinar uma revista. Pois 48 mil assinaram o produto deles, afirmou.

Nem só de Amoêdo, Eike e Anitta é feito o Empreende Brazil. Com palestras simultâneas e números de dança com uma trupe do parque Beto Carrero World, o evento foi pensado para ser um grande networking, que é quando o público troca cartões de visita e torce para que sua rede de contatos ajude seu negócio a prosperar.

O humorista Marcelo Marrom animou a plateia nos intervalos. Já no começo, fez centenas de pessoas levantarem da cadeira para cantar "Balão Mágico" em coro. Superfantástico.

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