Financiamento imobiliário será preservado mesmo com saques do FGTS, diz Abecip

Para presidente da associação, saques anuais não comprometem a dinâmica do fundo

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São Paulo

Os saques anuais do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), anunciados pelo governo nesta quarta-feira (24), não devem prejudicar o financiamento imobiliário, diz a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). 

"De forma geral é absolutamente positiva [a mudança do FGTS], conta com o total apoio da Abecip. Do ponto de vista de liberação de saldos estamos falando de um pouco menos de 10% do total", disse o presidente da Abecip, Gilberto Duarte de Abreu Filho, em coletiva da associação nesta quinta-feira
 (25). 

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Vista aérea de casas padronizadas do programa Minha Casa Minha Vida em Marília (SP) - Alf Ribeiro/Folhapress

Segundo ele, os saques anuais não comprometem a dinâmica do fundo. "Mesmo que você esteja sacando, durante todo o período em que você está trabalhando você continua contribuindo, e o fundo continua sendo oxigenado. Então o dinheiro que está disponível no fundo para o financiamento imobiliário continua
 disponível", disse.

Ele afirmou que a primeira etapa de saques, que terá início em 2019, também não deve afetar o planejamento. 

"Para a construção civil não muda nada", afirmou. Segundo Abreu Filho, o novo modelo dá mais opções para o trabalhador, o que é positivo, além de estimular a economia.

"Para as pessoas que vão receber o dinheiro faz muita diferença. São dívidas que vão ser reduzidas, o que permite que as pessoas voltem a consumir. Então, sem comprometer o dinheiro da construção civil, você consegue gerar atividade econômica, o que no fundo também gera benefícios para o nosso próprio
 setor", afirmou. 

As regras de saque, com faixas de acordo com o saldo, também foram uma forma de preservar o fundo, de acordo com Abreu Filho. "O escalonamento e o fato de que, optando por essa regra, você perde o direito de sacar caso saia do seu emprego, existe um balanço, e esse balanço é neutro". 

Ele acredita também que o saque aniversário cria um incentivo para que o trabalhador continue no seu emprego e não opte por sair só para usar o FGTS. "É muito sadio que próprio cotista decida como usar o dinheiro". 

Ainda que considere o novo modelo positivo, a Abecip sugere melhorias no FGTS. Uma delas é o uso do fundo para pagar dívidas imobiliárias, o que já é permitido, mas com certas condições. 

"Se você tem uma dívida imobiliária e está inadimplente, você pode quitar até 80% da parcela. Mas nós achamos que poderia ser até 100% da parcela". Atualmente, segundo a Abecip, o trabalhador pode quitar até três parcelas atrasadas, o que a associação quer ampliar para 12. "Quem começa a dever um número maior de parcelas corre o risco de perder a sua casa, tendo dinheiro parado no FGTS". 

Os trabalhadores que acessam o fundo para pagar uma dívida têm uma carência de dois anos para poder usar novamente, de acordo com a Abecip. "A gente sugere que esse período caia para um ano. Na nossa visão isso não compromete em nada o uso fim do FGTS, que é de financiar a habitação. Ajuda o cliente a preservar a sua casa". 

Crescimento

O financiamento imobiliário, incluindo empréstimos com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e os provenientes do FGTS, foi de 60,6 bilhões no primeiro semestre de 2019, um aumento de 1% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Em todo o ano de 2018, a expansão foi de 15%. Para 2019, a associação revisou a expectativa de crescimento de 7% para 13%, mas ainda abaixo do ano anterior. O valor previsto é de R$ 132 bilhões que, se confirmado, seria o maior volume desde 2014, quando foi de R$ 155 bilhões.

O financiamento da poupança subiu 33% no primeiro semestre de 2019, enquanto o do FGTS teve queda de 23%. "O que dá um crescimento baixo no primeiro semestre. No entanto, nós acreditamos que o segundo semestre terá uma reação ainda maior do mercado imobiliário", disse Abreu Filho. 

Para o presidente da Abecip, o FGTS teve um papel importante durante a crise, mas que deve se estabilizar. 

"É um fundo limitado, com um orçamento de desembolso nessa faixa de R$ 60, 57 bilhões, que é um desembolso muito bom. Ele foi o grande motor de crescimento na crise, mas não pode ser a de eterno, a gente vai ver o mercado ocupando esse espaço", afirmou. 

Já o financiamento de poupança para a construção aumentou 62,3% no primeiro semestre de 2019, em relação ao mesmo período do ano anterior. "Isso indica que os incorporadores e as construtoras estão voltando a colocar a suas empresas para rodar. É uma excelente notícia. São 8,2 bilhões contratados em lançamentos no semestre".

O Rio de Janeiro teve um aumento de 268% no período. Em São Paulo a expansão foi de 57%.

Segundo Abreu Filho, a aprovação da reforma da Previdência deve criar um ambiente econômico mais favorável, mas avalia que a retomada já se materializou.

"Quando você vê o setor de construção e o consumidor voltando a comprar, em um mercado que já vem de uma curva de crescimento, a retomada já está consolidada. Agora o que a gente vai ver é aceleração", diz. 

Ele destaca os "juros na faixa de um dígito e a inflação controlada" como um cenário propício para o mercado imobiliário. Segundo ele, a economia vai crescer puxada pelo setor privado, não público. "Não vai ser um crescimento gigantesco, mas vai ser diferente, com o setor privado crescendo acima de 2%. Então a sensação de atividade econômica, para as empresas e os indivíduos, vai ser maior". 

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