Ostra catarinense ganha novo selo para incentivar pequeno produtor

Certificado de Inspeção Municipal ampara cultura em Florianópolis, polo nacional do molusco

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Florianópolis

Nas curvas de uma rodovia no Ribeirão da Ilha, sul de Florianópolis, casas coloridas antigas abrigam fazendas marinhas.

Entre elas, a produção de Emilio Kleber Gottschalk, 67, paulistano radicado na ilha desde 1999. "Pequeno produtor, não. Micro", define ele.

O Empório do Mar, de Gottschalk, é um dos estabelecimentos certificados pelo SIM (Serviço de Inspeção Municipal), selo implementado para legalizar o pequeno produtor. 

Segundo dados de abril de 2019, 21 criadores de pescado e derivados têm o selo. Com a certificação, Gottschalk agora pode atender 22 cidades da Grande Florianópolis.

Maricultor move rede em fazenda de ostras em Santo Antônio de Lisboa, área em Florianópolis - Diorgenes Pandini/Agência RBS/Folhapress

A capital catarinense, onde há 80 maricultores, lidera a produção de ostras no país, com 1.778 toneladas em 2017, segundo dados da InfoAgro, órgão estadual. No estado atuam 552 produtores.

Santa Catarina responde por 98% da produção nacional. Para criar e comercializar moluscos, é preciso ter um dos selos de inspeção —municipal, estadual e federal.

As ostras que vão do estado para São Paulo dependem do selo federal. Segundo a Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca, oito empresas catarinenses já têm o selo federal.

Embora considere um avanço a implementação do SIM, Gottschalk aponta dificuldades. "No papel, é lindo, mas o pequeno produtor ainda precisa de apoio do poder público. Faltam acompanhamento, agilidade até para autorizar a construção de trapiches, atenção para o destino do resíduo." 

A safra de ostras de 2017 foi de 2.490 toneladas, uma queda de 11,7% em relação a 2016 (2.821 toneladas), segundo a Síntese Anual de Agricultura de Santa Catarina mais recente. Na capital, o número de ostreicultores caiu quase 30% na última década.

O mercado de moluscos (incluindo mexilhões e vieiras) esfriou —movimentou R$ 78 milhões em 2015; e R$ 54 milhões em 2016.

Uma das limitações é a vida curta do produto in natura: é de apenas quatro dias em restaurantes e peixarias. "Este fato impede que o produto atinja o comércio varejista, o mais importante canal comercial de gêneros alimentícios", diz o relatório.

Além disso, de tempos em tempos, uma toxina é encontrada nas ostras. Segundo o relatório, a queda do mercado também pode ser explicada por longos períodos de incidência da "maré vermelha". 

Em setembro de 2018, às vésperas da Fenaostra (Festa Nacional da Ostra), quatro áreas foram interditadas. Ocorreram interdições temporárias em 2007, 2008, 2014 e 2016. 

A toxina vem da "maré vermelha", fenômeno de desequilíbrio ecológico em razão da excessiva proliferação de algas tóxicas. "É um acontecimento natural e esporádico no nosso litoral", afirma Adriano Weickert, superintendente municipal de Pesca, Maricultura e Agricultura.

O estado, diz, é o único que faz análises quinzenais e monitoramento contínuo. Ao detectar toxinas, áreas afetadas são interditadas e devem aguardar liberação. 

Os produtos ficam proibidos de circular. "[A interdição temporária] já é rotina, e os produtores estão cientes de que isso faz parte da atividade deles e não existe previsão de quando esse fenômeno possa ocorrer", diz o oceanógrafo Sérgio Winckler, da Secretaria de Estado da Agricultura e Pesca. 

Hoje, a pasta estuda a possibilidade de criar um fundo para auxiliar produtores em períodos de interdição, minimizando seus prejuízos.

Para maricultores, como Gottschalk, interdições trazem prejuízos imediatos (a suspensão das vendas) e futuros (a instalação de um clima de desconfiança à iguaria).

"Por isso é importante saber a origem do produto e seus selos. Lembra da 'solitária'? Ninguém parou de comer porco, só passou a ter mais cuidado", afirma Gottschalk.


Cultura do molusco

A ostra cresce a partir de uma larva, chamada de semente ou matriz

Desde 1983, a produção é feita em cativeiro, a partir de sementes do Laboratório de Moluscos Marinhos da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina)

Do laboratório, as sementes são vendidas aos produtores da região (R$ 20 por 1.000 unidades)

Produtores cultivam as sementes em caixas (os berçários) por 15 a 20 dias, depois passam por peneiras e redes submersas no mar (as lanternas)

Após 7 a 8 meses, a seleção da ostra é feita à mão

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