Se desmatamento aumentar, acordo com UE fica difícil, diz embaixador alemão

Georg Witschel defendeu livre-comércio entre os blocos, que, segundo ele, será benéfico aos dois lados

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Brasília

O embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, afirmou à Folha que a ratificação do acordo do Mercosul com a União Europeia será mais difícil se o desmatamento no Brasil aumentar.

Citando a importância que o tema ambiental tem em partidos políticos e na sociedade civil europeia, Witschel disse que que a oposição ao tratado tanto no Parlamento Europeu quanto nos Legislativos nacionais ganhará força se os índices de desmatamento no Brasil avançarem.

“Uma subida no desmatamento será um argumento para que parte da nossa sociedade civil organizada tente bloquear a entrada em vigor do acordo UE-Mercosul”, declarou o embaixador nesta quinta-feira (4). 

Embaixador da Alemanha, Georg Witschel, em entrevista à Folha
Embaixador da Alemanha, Georg Witschel, em entrevista à Folha - Pedro Ladeira - 22.mai.2019/Folhapress

“Se temos uma mensagem ao governo do Brasil, é essa: por favor, reduzam o desmatamento ilegal. Pela importância que isso tem para a agropecuária, pela luta contra as mudanças climáticas e pelo combate ao crime organizado. Mas também porque menos desmatamento ajuda no esforço de implementação do acordo UE-Mercosul.”

As declarações de Witschel —que representa no Brasil a principal economia da UE— ocorre um dia depois de dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) revelarem que o desmatamento na Amazônia, em junho deste ano, foi cerca de 57% maior do que no mesmo mês de 2018.

Perguntado sobre os dados do Inpe, o embaixador disse preferir não comentá-los e afirmou que é preciso esperar os resultados anualizados.

Witschel defendeu o acordo de livre-comércio entre o bloco europeu e o Mercosul, que, segundo ele, será benéfico para os dois lados. 

“Na Alemanha somos a favor da ratificação, porque é um acordo ganha-ganha para os dois blocos. Além do mais, é um símbolo importante num momento de luta entre as forças a favor e contra o comércio livre. E, na Alemanha, nós somos pró-comércio livre”, pontuou. 

No entanto, ele ressaltou que a questão ambiental é especialmente sensível para o público da Europa, algo que inclusive se traduziu no crescimento dos Verdes nas recentes eleições para o Parlamento Europeu. 

“[O aumento do desmatamento] será utilizado pelos que se opõem ao acordo tanto nos parlamentos europeus quanto na sociedade civil”, declarou o embaixador. 

“O melhor que o Brasil pode fazer agora é reduzir o desmatamento, porque é a melhor forma dos nossos governos defenderem o acordo UE-Mercosul. Se o desmatamento crescer, fica cada vez mais difícil defendermos o acordo na Europa”, concluiu. 

Antes de entrar em vigor, o tratado entre Mercosul e a União Europeia deve superar uma série de ritos.

Primeiro, passa por uma revisão legal que pode durar mais de um ano. Depois, precisa ser assinado pelos presidentes dos países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e pelo Conselho da União Europeia.

A parte econômica do acordo precisa do aval do Parlamento Europeu e dos Legislativos de todos os membros do bloco sul-americano. Já os capítulos políticos, além da luz verde dos congressos de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, também necessitam de aprovação em todos os parlamentos dos países da UE. 

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