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Ações da GE despencam com acusação de fraude de US$ 38 bi

Ações da companhia caíram depois de relatório feito por analista; empresa diz que está sofrendo "especulação de mercado"

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Nova York | Financial Times

Uma fraude contábil "maior que as da Enron e WorldCom somadas" está oculta na General Electric, de acordo com um investigador financeiro que disparou o alarme inicial em torno do esquema de pirâmide de Bernie Madoff .

A GE, que descartou a afirmação como infundada, viu suas ações caírem em até 15% na quinta-feira (15) depois da publicação de um relatório de 170 páginas produzido por Harry Markopolos. Ele afirmou que a contabilidade do conglomerado industrial ocultava uma fraude de US$ 38 bilhões (R$ 152,6 bilhões) em suas operações de seguros e campos de petróleo. "Creio que eles sejam uma falência à espera de acontecer", disse Markopolos à rede de notícias CNBC.

Markopolos é conhecido por seus alertas —que em geral passaram em branco— sobre o esquema de pirâmide de Madoff nos anos anteriores à sua implosão, em 2008.

Ele e sua equipe encaminharam uma cópia antecipada do relatório sobre a GE a um fundo de hedge e anunciaram que participariam dos lucros associados a quaisquer movimentos de mercado que suas afirmações desencadeassem.

Ações da GE despencam depois de acusação de fraude de US$ 38 bi - Vicent Kessler-29.abr.2019/Reuters

Larry Culp, presidente-executivo da GE, definiu esse arranjo como "manipulação de mercado pura e simples". Em comunicado, o executivo afirmou que "o fato de que ele tenha escrito um relatório de 170 páginas sem jamais conversar com os dirigentes da empresa serve para demonstrar que não está interessado em uma análise financeira acurada, mas apenas em gerar volatilidade de baixa nas ações da GE para que ele e o fundo de hedge de nome não revelado que lhe serve de parceiro possam lucrar diretamente".

Culp em seguida adquiriu US$ 2 milhões (R$ 8,03 milhões) em ações da GE ao preço deprimido. As ações fecharam a US$ 8,01, com queda de 11,3% no dia.

A companhia disse que as afirmações de Markopolos eram "infundadas" e "não substanciais", acrescentando que sua operação é feita "com o maior nível de integridade em prestações de contas financeiras e exposição de obrigações financeiras muito detalhadas".

Markopolos também está buscando remuneração pelo governo dos Estados Unidos, tendo submetido seu relatório aos programas de denúncia premiada da Securities and Exchange Commission (SEC), agência federal que regulamenta os mercados de valores mobiliários dos Estados Unidos, e do Departamento da Justiça. Nos dois casos, o denunciante compartilha de quaisquer penalidades financeiras impostas ao denunciado em função de suas informações.

A GE, no passado a companhia de maior valor de mercado nos Estados Unidos, vem enfrentando uma crise no três últimos anos. Suas ações despencaram enquanto ela substituía dois presidentes-executivos e enfrentava os custos de aquisições insensatas e operações de serviços financeiros de alto risco.

O relatório de Markopolos argumenta que a GE declarou um valor muito inferior ao real para seu passivo no setor de seguros, e afirmou que ela não contabilizou devidamente a sua aquisição de uma participação acionária na Baker Hughes, uma empresa de serviços a campos de petróleo, concluída em 2017. A GE iniciou a venda daquela participação em 2018.

O relatório, que Markopolos disse envolveu sete meses de pesquisas, se concentra no negócio de resseguros de longo prazo da GE, que cobre custos como os de casas de repouso. Passivos crescentes requererão US$ 28 bilhões em novas reservas, entre as quais US$ 18,5 bilhões em caixa imediatamente, de acordo com a pesquisa de Markopolos, mesmo depois da elevação das reservas em US$ 15 bilhões recentemente para cobrir passivos na área de seguros.

O relatório afirma que a GE ocultou os custos do seguro para cuidados em longo prazo por muitos anos, desde as décadas de 1980 e 1990, quando era comandada pelo famoso Jack Welch. A companhia contabilizava como receita os pagamentos por apólices de seguros quando os detentores das apólices eram jovens, sem criar reservas para compensar os passivos crescentes quando esses segurados envelhecessem e tivessem a saúde prejudicada, disse Markopolos.

A GE afirmou que acredita que suas reservas "são bem adequadas às características" de sua carteira, e que conduz "testes rigorosos de adequação de reservas a cada ano".

Markopolos já havia tomado por alvo a contabilização da transação com a Baker Hughes. A GE fundiu suas operações de petróleo e gás natural com as da Baker Hughes em 2017, mas depois disso reduziu sua participação majoritária de 62,5% para 50,4%, já que ela continua a levantar dinheiro vendendo alguns de seus ativos.

Ele disse que manter uma participação de 50,4% era uma "falsa transação" que preservava o status dessa participação como não controladora, em lugar de caracterizá-la como investimento corporativo, ocultando US$ 9.1 bilhões em prejuízos no processo.

A GE respondeu que os princípios contábeis dos Estados Unidos requerem que ela reporte resultados consolidados, "ao contrário do que Markopolos afirma". O mais recente balancete trimestral da empresa afirma que ela assumirá um prejuízo de US$ 7,4 bilhões quando se tornar acionista minoritária, tendo por base o preço das ações da Baker Hughes no final de julho.

"O relatório contém diversas interpretações novas e erros factuais sobre os requisitos contábeis reais, o que torna suas conclusões sobre a prestação de contas pela GE no mínimo questionáveis", afirmou em comunicado Leslie Seidman, o presidente do comitê de auditoria da GE.

Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

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