Descrição de chapéu Financial Times

Ações da Kraft Heinz despencam, com queda de vendas e depreciação

No ano, a baixa acumulada é de 34%, uma perda em valor de mercado de cerca de R$ 69,3 bi

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Financial Times

A Kraft Heinz registrou uma desvalorização em seus ativos e há risco de novas depreciações, o que intensifica a preocupação de Wall Street sobre as perspectivas da companhia de alimentos que pertence ao trio de brasileiros do 3G e à Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, entre seus investidores, e cujos produtos vêm encontrando mais rejeição da parte dos consumidores.

Depois de a companhia revelar a mais recente depreciação em seu balanço, acompanhada por uma queda de quase 5% em suas vendas no primeiro semestre, as ações da Kraft Heinz caíram até 15,6% na manhã da quinta-feira (8), mas fecharam em queda de 8,6%, a US$ 28,22, próximo a sua mínima histórica. No ano, a baixa acumulada é de 34%, uma perda em valor de mercado de cerca de US$ 17,6 bilhões (R$ 69,3 bilhões).

A empresa sediada em Chicago, cujos produtos incluem o ketchup Heinz, o molho HP Sauce e o macarrão com queijo Kraft, abandonou sua orientação anterior quanto aos resultados anuais, depois que seu lucro no primeiro semestre caiu em 50% ante o resultado do período em 2018. A empresa teve uma depreciação nos seus ativos em US$ 1,2 bilhão (R$ 4,7 bilhões).

Miguel Patricio, seu novo presidente-executivo, disse estar planejando uma "revisão abrangente" da Kraft Heinz que poderia incluir a venda de algumas marcas. "O nível de declínio ante o ano anterior não é nada de que nos orgulhemos", ele disse.

FILE PHOTO - Bottles of Heinz tomato ketchup of U.S. food company Kraft Heinz are offered at a supermarket of Swiss retail group Coop in Zumikon, Switzerland December 13, 2016. REUTERS/Arnd Wiegmann/File Photo GLOBAL BUSINESS WEEK AHEAD ORG XMIT: BWA146 - Arnd Wiegmann/Reuters

O grupo havia prometido transformar o setor de alimentos quando foi criado em 2015 pela combinação entre a Kraft e a Heinz, em uma transação engendrada pelo grupo de investimento 3G Capital e Buffett.

Mas de lá para cá se transformou em um símbolo dos problemas nas empresas de bens de consumo. Produtos que por gerações costumavam fazer parte das listas de compras da maioria dos domicílios saíram de moda.

As mais recentes provisões contábeis, reveladas na quinta-feira, vêm se somar à depreciação contábil de US$ 15 bilhões (R$ 59 bilhões) que a Kraft Heinz já havia promovido alguns meses atrás, graças às perspectivas mais sombrias para algumas de suas marcas, incluindo os produtos de carne Oscar Mayer.

As dificuldades continuaram no primeiro semestre. Cortes de preços na América do Norte ajudaram a derrubar as vendas em 4,8% ante o período em 2018, para US$ 12,4 bilhões (R$ 48,5 bilhões). Em base orgânica, que exclui o impacto cambial, a queda foi de 1,5%.

"Vai haver risco continuado de futuras depreciações, se considerarmos qualquer mudança nas projeções ou nas suposições usadas para determinar modelos", disse David Knopf, vice-presidente de finanças da companhia.

Os problemas da Kraft Heinz atraíram interesse quanto à abordagem antes elogiada da 3G com relação às despesas, com críticos da empresa em Wall Street reclamando que ela passou a depender demais de cortes de despesas para gerar retornos.

"Sem essa disciplina, estaríamos em posição pior hoje", disse Patricio. "Mas temos de fazer mais que isso... Talvez no passado tenhamos nos concentrado demais nos números".Expondo seu compromisso de fazer "investimentos consistentes" em suas marcas, Patricio disse que "precisamos de uma estratégia, antes de tudo, para o crescimento".

As mais recentes provisões abarcam uma redução de US$ 744 milhões (R$ 3 bilhões) no valor de ativos intangíveis para refletir reduções nas projeções referentes a diversos dos negócios internacionais da empresa, e uma redução de US$ 474 milhões (R$ 1,8 bilhão) em ativos intangíveis causada pela queda no preço das ações. Isso reduziu o rendimento líquido nos seis meses até junho a US$ 852 milhões (R$ 3,3 bilhões), ante US$ 1,76 bilhão (R$ 6,9 bilhões) um ano atrás.

Patricio disse que reduzir a dívida da empresa, que estava em US$ 29,8 bilhões (R$ 117,4 bilhões) no final de junho ante uma capitalização de mercado de US$ 33,6 bilhões na quinta-feira, era uma prioridade. "Precisamos reforçar o balanço", ele disse.

Mas o presidente-executivo, que está no cargo há 40 dias, disse que era cedo demais para dizer que vendas estavam sendo consideradas.

"Tudo que sabemos é que o primeiro semestre não foi bom", disse James Targett, analista da Berenberg, "A incerteza continua".

A Kraft Heinz teve de corrigir quase três anos de resultados este ano depois que uma investigação interna descobriu erros na maneira pela qual ela havia contabilizado contratos com fornecedores. A contabilidade da empresa está sendo investigada pela Securities and Exchange Commission (SEC), agência federal que regulamenta os mercados de valores mobiliários dos Estados Unidos,

Patricio, que veio da fabricante de cerveja Anheuser-Busch InBev para substituir Bernardo Hees, disse que a empresa ainda tinha perspectivas brilhantes em longo prazo. "Nossas marcas são ícones", ele disse, apontando que diversas delas estavam no mercado há mais de um século.

Ele disse que estava abandonando a orientação financeira anual porque "estabelecer metas de curto prazo publicamente não será produtivo". A empresa sofreu novo atraso na publicação de seu balancete trimestral, e anunciou que não o havia apresentado à SEC na data prevista.

As depreciações registradas anteriormente pela Kraft Heinz conduziram o grupo de investimento Berkshire Hathaway, de Buffett, a um dos maiores prejuízos trimestrais de sua história. Buffett depois disso disse que a Berkshire Hathaway havia "pago acima do valor" por sua participação na Kraft.
 

Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

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