Autor defende conhecimento técnico e diversidade contra extremismos

Para Cass Sunstein, boas políticas deveriam recompensar pessoas pelo respeito às evidências

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São Paulo

Conhecido por seus trabalhos sobre direito constitucional e economia comportamental, o professor americano Cass Sunstein tem se esforçado para entender alguns dos problemas mais desafiadores da vida contemporânea —dos efeitos da polarização política ao impacto das redes sociais.

Somente neste ano, ele publicou três livros. O primeiro, “How Change Happens”, examina os fatores que contribuem para transformações sociais de grande escala. 

O segundo, “On Freedom”, trata das dificuldades que muitas pessoas encontram para exercer plenamente sua liberdade de escolha. 

Cass Robert Sunstein, 64, professor da Faculdade de Direito da Universidade Harvard, nos EUA
Cass Robert Sunstein, 64, professor da Faculdade de Direito da Universidade Harvard, nos EUA - Shawn Brackbill/The New York Times

No mais recente, “Conformity”, diz que as pessoas tendem naturalmente ao conformismo e argumenta que isso causa danos significativos às sociedades, contribuindo para o extremismo na política, inibindo o pensamento crítico e impedindo mudanças.

Para Sunstein, aumentar a diversidade de pontos de vista no interior das instituições públicas e valorizar o conhecimento de especialistas no desenho de políticas governamentais são medidas essenciais para conter os efeitos mais perniciosos dessas tendências. 

“Boas políticas deveriam recompensar as pessoas pelo respeito às evidências, e não por simplesmente caminhar junto com grupos que pensam como elas”, diz ele nesta entrevista, que concedeu à Folha por email em meio ao trabalho para pôr de pé seu próximo livro, previsto para dezembro.

A polarização das sociedades contemporâneas é um problema? 

Ela permite que você tenha mais ideias e opiniões sendo discutidas em público, o que pode ser bom. Algumas dessas opiniões podem ser extremas, mas ideias extremas também podem ser boas. 

Um risco grave é que a polarização impeça as pessoas de trabalhar juntas ou encontrar soluções produtivas para problemas reais. Outro risco é que ela leve as pessoas a desconfiar do conhecimento técnico e dos especialistas.

Como o desenho de instituições mais diversas poderia ajudar? 

Criando sistemas de pesos e contrapesos, como os que sustentam as democracias modernas. Eu enfatizaria a importância de criar espaço para tecnocratas e especialistas, pessoas que sabem como pensar sobre os problemas sociais e resolvê-los. 

Segurança nas estradas, poluição, segurança alimentar, redução da pobreza, e o que mais estiver prejudicando seriamente a vida das pessoas em cada país. Minha experiência no governo fortaleceu minha crença na importância da especialização técnica. Todos os países precisam mais disso, não menos.

Quando fala em diversidade, o sr. está pensando em discriminação de gênero e raça?

Minha ênfase é na diversidade cognitiva. Diversidade de opinião, embora a diversidade de gênero e raça também possa ser importante. Em tribunais e universidades, é importante ter pessoas que não concordem umas com as outras e tenham diferentes pontos de partida. 

As universidades prosperam quando as pessoas têm visões diferentes sobre história e economia, por exemplo.

Como induzir as pessoas a romper com o conformismo e acreditar em evidências que contrariem suas crenças?

É importante que todos estejam abertos à força do argumento, independentemente da fonte. Boas políticas deveriam recompensar as pessoas pelo respeito às evidências, e não por simplesmente caminhar junto com grupos que pensam como elas. Normas que levem a uma abertura desse tipo são extremamente importantes.

Que tipo de mudança é mais efetiva, a que é induzida por novas normas ou a que nasce de mudanças na sociedade? 

As mudanças se tornam mais efetivas quando as pessoas acabam concordando com elas, ou nos casos em que tendem a concordar antecipadamente, antes da aprovação da norma. Pense na campanha pela obrigatoriedade do uso de cinto de segurança nos carros, que foi tão bem-sucedida e salvou vidas em tantos países. 

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