Bilionário indonésio em foto com Eduardo Bolsonaro vem de família polêmica

Avesso a holofotes, empresário quer atrair o apoio do governo para tentar vencer disputa com donos da JBS pela Eldorado

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São Paulo

As fotografias em que aparece sorridente ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do vice-presidente, Hamilton Mourão, são praticamente os únicos registros públicos do bilionário Jackson Widjaja.

Herdeiro de uma das famílias mais ricas da Indonésia, o empresário de 38 anos é avesso a entrevistas, não fala de sua vida pessoal e não gosta de aparecer em público.

Ele foi obrigado a buscar os holofotes a contragosto para tentar vencer a disputa societária que trava como Joesley e Wesley Batista, donos da gigante das carnes JBS, que ficaram nacionalmente conhecidos pela delação premiada que quase derrubou o ex-presidente Michel Temer (MDB).

Os Batistas, por meio de sua holding J&F, e os Widjaja, com a empresa Paper Excellence, são sócios em um outro braço dos negócios da família goiana: a fabricante de celulose Eldorado.

O filho do presidente Jair Bolsonaro publicou em suas redes sociais uma foto ao lado de Jackson Widjaja, dono da Paper Excellence, segurando um “checão” simbólico de R$ 31 bilhões.
O filho do presidente Jair Bolsonaro publicou em suas redes sociais uma foto ao lado de Jackson Widjaja, dono da Paper Excellence, segurando um “checão” simbólico de R$ 31 bilhões. - Reprodução

Quando a J&F entrou em crise após a delação e colocou praticamente todos seus ativos à venda, a Paper Excellence atropelou a venda da Eldorado para a Arauco, do Chile.

Depois de um jantar com Wesley em Nova York, ainda durante o período de exclusividade que os Batistas haviam acertado com os chilenos, Jackson ofereceu R$ 15 bilhões pela empresa.

O negócio deveria ter sido feito em partes, mas se complicou. A Paper Excellence comprou 49% da companhia e não conseguiu selar a aquisição dos 51% restantes.

Os Batistas alegaram que o sócio não liberou no prazo os avais pessoais que havia empenhado para as dívidas da Eldorado.

Vice-presidente da República, Hamilton Mourão, durante Visita  à Bolsa de Valores de Xangai, em maio deste ano
Vice-presidente da República, Hamilton Mourão, durante Visita à Bolsa de Valores de Xangai, em maio deste ano - Divulgação

Jackson, por sua vez, afirma que Aguinaldo Filho, sobrinho de Joesley e Wesley e CEO da companhia, protelou o fechamento do negócio propositalmente. O caso foi parar na arbitragem e ainda deve levar mais um ano para se resolver.

Foi no meio dessa confusão que Eduardo, candidato a embaixador emWashington e elogiado por Donald Trump, se meteu ao aceitar jantar com Jackson em Jacarta, capital da Indonésia, e depois ao postar nas redes sociais uma foto dos dois segurando um cheque simbólico de R$ 31 bilhões.

O valor se refere ao total que os Widjaja pretendem pagar pela empresa, entre dinheiro para os Batistas e dívidas a serem quitadas, mais os recursos necessários para construir uma segunda linha de produção para a Eldorado —investimento que vem sendo postergado pela briga societária.

Mas afinal quem é Jackson?

Nascido na Indonésia e educado em Cingapura e nos Estados Unidos, o empresário faz parte da terceira geração da clã Widjaja, dono do Sinar Mas Group, conglomerado industrial que atua em ramos tão distintos como papel e celulose, óleo de palma, carvão, finanças, telecomunicações, entre outros.

O Sinar Mas Group foi erguido por Eka Tjipta Widjaja, um imigrante chinês da província de Fujian que começou a vida vendendo biscoitos e doces nas ruas.

Ainda jovem ele entrou no comércio de óleo de palma e prosperou durante as políticas pró-business da ditadura do general Suharto.

O patriarca, que faleceu em janeiro deste ano com quase 100 anos, ficou famoso por possuir um cinto com uma fivela de diamantes com seu nome: Eka.

Chegou a ser o terceiro homem mais rico da Indonésia, dono de um patrimônio estimado pela revista Forbes em US$ 8,6 bilhões (R$ 32,4 bilhões).

Ele se casou várias vezes e teve dezenas de filhos, mas apenas os rebentos do primeiro casamento tomaram a frente dos negócios.

Os principais são Franky Widjaja, que lidera os setores de óleo de palma e imobiliário, e Teguh Widjaja, que comanda a Asia Pulp and Paper, do setor de papel de celulose.

Teguh é o pai de Jackson. O filho, todavia, frisa sempre que pode que é um empreendedor e que a Paper Excellence não é uma subsidiária da APP.

Ele afirma que criou sua empresa por meio da aquisição de companhias menores na França e no Canadá.

Trata-se de um esforço para desvincular a companhia da má fama da APP, que protagonizou em 2001 um dos maiores calotes corporativos dos mercados emergentes, deixando de pagar quase R$ 14 bilhões em dívidas.

A empresa acabou se reerguendo graças ao bom relacionamento que manteve com os bancos chineses, priorizando os pagamentos para eles.

A pecha de caloteiro, contudo, ficou. E os Batista sempre que podem lembram seus interlocutores desse passado desabonador dos seus sócios.

Quando Joesley foi preso em setembro de 2017, antes de fechar a venda da Eldorado e de outras empresas do grupo, os compradores interessados aproveitaram o momento de fragilidade da família Batista para pedir desconto.

Consultado pelos banqueiros que o assessoravam se queria fazer o mesmo, Jackson disse que não.

Adepto do budismo, ele afirmou que acreditava em “karma”, que é o princípio de que todo o mal que você faz se volta contra você. Parece que não adiantou muito.

A Eldorado e os Batistas se transformaram no “karma” do empresário. Procurada, a Paper Excellence não deu entrevista.

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