Governo da Argentina se compromete a estabilizar moeda e cumprir meta fiscal

Após declaração de novo ministro da Fazenda do país, peso volta a valorizar

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Liliana Samuel
AFP

O novo ministro da Fazenda argentino, Hernán Lacunza, se comprometeu a estabilizar a moeda e cumprir a meta fiscal acordada com o Fundo Monetário Internacional (FMI), ao assumir nesta terça-feira (20), a 68 dias das eleições presidenciais em seu país.

"Garantir esse tipo de mudança como objetivo de primeira ordem nesse processo eleitoral" será nosso compromisso, disse o ministro, depois de uma desvalorização de 20% na moeda argentina ao longo da semana passada.

"Garantimos o cumprimento das metas fiscais", em meio a turbulências de mercado causadas pelo revés eleitoral do presidente Mauricio Macri nas primárias de 11 de agosto, ele assegurou.

Lacunza substituiu Nicolás Dayonne, que chegou ao ministério em janeiro de 2017 e foi o principal proponente do acordo com o FMI, que colocou em marcha um forte ajuste para chegar ao equilíbrio fiscal, em troca de um empréstimo recorde de US$ 57 bilhões (R$ 230,3 bilhões).

"A taxa de câmbio está bem acima de seu valor de equilíbrio", disse Lacunza, falando sobre a desvalorização do peso, que na sexta-feira fechou cotado a 54,8 pesos por dólar.

"Permitir maior volatilidade só aumentaria a incerteza e a pressão inflacionária", ele disse.

Depois das declarações, a moeda argentina, que vinha em queda, reverteu a tendência e foi para 54,72 pesos por dólar.

Já a bolsa de valores de Buenos Aires caiu 10,4%, com as ações dos bancos sofrendo as maiores perdas.

A bolsa reagiu negativamente quando o presidente do banco central argentino, Guido Sandleris, declarou que havia reservas cambiais disponíveis para moderar a taxa de câmbio e garantir a estabilidade do sistema financeiro.

"Há que considerar as expectativas de desvalorização e de inflação. As variáveis não estão ancoradas e o banco central não tem como oferecer certezas", alertou o economista Ignacio Olivera Doll.

 

Em mensagem para tranquilizar os poupadores que recordam a crise de 2001 e o "corralito" que restringiu o saque livre de poupanças, o funcionário assegurou que os bancos "têm a liquidez suficiente para o saque dos depósitos de quem assim solicite".

A segunda-feira (19) foi feriado na Argentina e o mercado de câmbio e a bolsa não funcionaram. Mas as ações do país caíram em Nova York, e o risco-país medido pelo banco JP Morgan superou  os1,8 mil pontos. As agências de classificação de crédito Fitch e Standard & Poor's rebaixaram a classificação dos títulos argentinos na sexta-feira, e a primeira alertou sobre a possibilidade de um calote.

A Argentina teve uma semana nebulosa, com a forte queda de sua moeda e de seus títulos depois do resultado negativo de Macri nas primárias, que compromete seriamente a sua reeleição. A votação, considerada como teste para a eleição de outubro, confirmou como franco favorito o peronista Alberto Fernández, da oposição de centro-esquerda.

Lacunza fez um apelo ao diálogo, aos candidatos presidenciais. "O mercado presta mais atenção ao futuro do que ao presente. Às vezes, é mais importante o que a oposição pode fizer do que aquilo que o governo possa fazer", ele disse.
 

"Situação difícil"

O FMI anunciou na terça-feira que uma missão visitará a Argentina "imediatamente". Gerry Rice, o porta-voz do Fundo, declarou que "estamos em diálogo contínuo com as autoridades, enquanto elas trabalham nos planos das políticas para tratar da difícil situação que o país enfrenta".

Lacunza, 50, era até sexta-feira (23) ministro da economia da província de Buenos Aires, a maior do país, governada pela situacionista María Eugenia Vidal. Lá ele trabalhou com Sandleris, amtes da indicação deste ao banco central.

Entre 2005 e 2010, nos governos de Néstor e Cristina Kirchner, ele foi gerente do banco central. Cristina Kirchner é candidata a vice-presidente na chapa encabelada por Fernández.

O novo ministro "tem boas relações com funcionários chave do governo. É visto como competente devido ao seu desempenho na província de Buenos Aires e era uma das poucas alternativas que Macri tinha", analisou o centro de pesquisa Eurasia Group.
 

Liquidez suficiente

O presidente do banco central também ratificou a meta de estabilidade no mercado de câmbio para evitar um agravamento da inflação (25% até julho), exatamente quando esse índice começava a mostrar desaceleração.

"O salto recente da taxa de câmbio está tendo impacto negativo sobre os preços. A inflação subirá, lamentavelmente, em setembro e outubro", acrescentou Sandleris.

Ele enfatizou que "há amplo consenso de que a taxa de câmbio é altamente competitiva agora. O banco central continuará a impor uma política monetária restritiva".

A Argentina está em recessão desde 2018, com índice de pobreza de 32% e de desemprego de 10,1%. A inflação anualizada de 55% está entre as mais altas do mundo.
 

AFP, tradução de Paulo Migliacci

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