O presidente da Argentina, Mauricio Macri, anunciou nesta quarta-feira (14) um pacote de novas medidas que buscam aliviar os efeitos da turbulência financeira deflagrada após a sua derrota nas prévias eleitorais no domingo (11).
Em uma delas, o congelamento do preços dos combustíveis, voltou atrás horas depois do anúncio, após queixas das empresas petrolíferas. As outras medidas, como bônus para trabalhadores, contrariam o receituário liberal de Macri e foram mal recebidas pelos investidores.
Num dia de instabilidade nos mercados globais, o peso foi duramente afetado. Recuou 6,86% diante do dólar --a moeda dos Estados Unidos terminou o dia a 59,01 pesos. A Bolsa viveu mais um dia de retração e fechou com queda 1,4%.
A ideia com os anúncios é minimizar a inflação.
Entre as medidas divulgadas, estão um aumento de 25% do salário mínimo (atualmente é de US$ 225, ou cerca de R$ 902) e de 40% para os que recebem a bolsa "progresar" (progredir), voltada a estudantes, e para os que recebem a Asignación Universal por Hijo (uma espécie de bolsa-família criada durante o kirchnerismo).
À noite, porém, apenas 11 horas depois do anúncio, Macri voltou atrás no congelamento de combustíveis por 90 dias.
Macri disse que, nos próximos dias, haverá anúncios de quanto será a redução de impostos para a população de baixa renda e sobre um plano para ajudar as pequenas e médias empresas que consistiria em reduzir suas obrigações na Afip (Receita Federal).
Por enquanto, o presidente afirmou que aumentará o piso do Imposto de Renda em 20%, abrindo caminho para um corte de impostos para 2 milhões de trabalhadores.
"São medidas que trarão alívio para 17 milhões de trabalhadores e suas famílias", disse Macri em uma mensagem gravada antes da abertura dos mercados. As mudanças custarão cerca de R$ 2,7 bilhões ao país, segundo o governo.
Macri e seu oponente, o candidato Alberto Fernández, conversaram por telefone nesta quarta. O clima tenso entre os dois foi aliviado e, em seguida, Macri publicou em rede social: "Fernández prometeu colaborar em tudo o que for possível para que o processo eleitoral e a incerteza política gerada afetem a economia o mínimo possível".
Pouco antes, o candidato havia dito que Macri deveria permanecer no governo "até o último dia" e que o presidente teria a sua ajuda para assegurar que seu mandato não fosse questionado.
O anúncio das medidas foi feito pelo presidente após fazer uma mea-culpa do tom adotado na segunda-feira (12), um dia depois da derrota nas primárias.
Com outro semblante e sem mostrar a irritação daquele dia, disse com firmeza e tranquilidade que queria "pedir desculpas pelas expressões" que usou na ocasião.
Macri foi muito criticado por analistas e nas redes sociais por tentar assustar as pessoas com a ameaça kirchnerista e por sugerir que a culpa de que o dólar e as ações argentinas se descontrolassem era dos eleitores que votaram em Fernández.
"Quero que saibam que respeito profundamente a decisão dos argentinos". E acrescentou: "Tive dúvidas de convocar a coletiva de segunda porque ainda estava muito impactado pelo resultado da eleição, estava sem dormir e estava triste. Mas volto aqui hoje para que tenham certeza de que eu os entendi."
A vitória da oposição nas primárias fez a Bolsa de Buenos Aires despencar 37% na segunda e o peso argentino se desvalorizar 17%. Na terça-feira (13) a Bolsa se recuperou um pouco e subiu 10,76%, mas o peso voltou a cair.
Fernández, negou que avalie colaborar com o governo daqui até outubro.
"Eu sou apenas um candidato, o presidente é Macri, ele que se encarregue de resolver essa crise econômica que seu governo criou."
E acrescentou: "Não vou dialogar com ele, com Wall Street, com a CGT [central sindical] nem com os bancos. Quem tem de governar é Macri, que criou essa situação toda. Não sou nem mesmo o presidente eleito."
Esta quarta foi o terceiro dia consecutivo de grandes perdas no peso, devido às preocupações sobre a capacidade dos políticos de tirar a Argentina de outra rodada de recessão e inflação alta.
As vendas de mercadorias, que vão de carros a alimentos e produtos de beleza, diminuíram devido ao declínio do peso, já que os fornecedores têm retido os embarques enquanto tentam calcular como a moeda mais fraca afetará os preços ao consumidor.
Com agência Reuters e AFP
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