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Trump pede cortes de juros e Powell enfatiza limitações da política do Fed

Em discurso, presidente do banco central americano se diz preocupado com guerra comercial

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Jeanna Smialek
Jackson Hole (EUA) | The New York Times

Jerome Powell, o chairman do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, manteve futuros cortes nas taxas de juros como uma distinta possibilidade, na sexta-feira (23), mas enfatizou que os poderes do banco central para corrigir a economia eram limitados pelas políticas comerciais do presidente Trump, que continuam a representar risco para as perspectivas econômicas.

Jerome Powell
O presidente do banco central americano, Jerome Powell, sinalizou novos cortes de juros - AFP

"Embora a política monetária seja uma ferramenta poderosa que trabalha em apoio ao consumo, investimento empresarial e confiança pública, ela não é capaz de oferecer um livro de regras equilibrado para o comércio internacional", disse Powell, falando no simpósio anual de dirigentes de bancos centrais em Jackson, Wyoming, organizado pelo Federal Reserve Bank de Kansas City.

"Nosso desafio agora é fazer o que a política monetária puder para sustentar a expansão e atingir as metas do Fed", disse.

As declarações de Powell indicaram que o Fed, que cortou a taxa de juros em julho pela primeira vez em 10 anos, continua disposto a realizar novos cortes. Mas sua relutância em esclarecer o momento ou a dimensão de qualquer corte possível expôs a dificuldade que o presidente do banco central vive: o desemprego é baixo e o consumo é forte, mas o conflito comercial criado por Trump está alimentando a incerteza, pesando sobre a indústria e agitando os mercados.

"A incerteza quanto à política comercial parece estar desempenhando um papel na desaceleração mundial e na fraqueza da indústria e do investimento de capital nos Estados Unidos", disse Powell, acrescentando que não havia "precedentes recentes para orientar qualquer resposta política à situação atual".

Os comentários dele se seguiram ao anúncio por Pequim, nesta sexta, de que a China retaliaria contra a próxima rodada de tarifas de Trump elevando os impostos sobre US$ 75 bilhões em produtos importados dos Estados Unidos, entre os quais produtos agrícolas, petróleo cru e automóveis.

China e Estados Unidos planejam elevar suas tarifas em setembro e dezembro, o que prejudicaria ainda mais a economia.

Diante desse pano de fundo, alguns membros do comitê de open market do Fed apoiaram cortes nas taxas de juros para preservar o crescimento,, enquanto outros preferem esperar para ver como a disputa se desenrola.

"A administração de riscos influencia nosso processo decisório por causa tanto da incerteza sobre os efeitos dos recentes desdobramentos quanto da incerteza que encaramos quanto a aspectos estruturais da economia", disse Powell.

Trump não faz segredo de que deseja um grande corte nas taxas de juros. Ele critica regularmente o Fed no Twitter e em seus discursos, instando o banco central a cortar os juros de modo mais agressivo para nivelar o campo de jogo entre os Estados Unidos e parceiros comerciais como a China e a Alemanha.

"Nosso Federal Reserve não nos permite fazer o que precisamos", ele tuitou na quinta (22), acrescentando que o banco central "se move como areia movediça. Lute ou vá para casa!"

Nesta sexta, Trump tuitou que a força da economia deveria dar ao Fed a confiança para um corte.

Os investidores antecipam um corte em setembro e mais um antes do final do ano, com base nos preços de mercado estimados pelo CME Group.

Os dirigentes do Fed apontam para dois ciclos de cortes de juros na metade da década de 1990 como modelos para a forma pela qual o banco central está abordando a política monetária no momento.

Nos dois casos, os dirigentes do Fed cortaram as taxas de juros em 0,75% para ajudar a economia a passar por períodos ruins, Powell se referiu a esses episódios em suas declarações, apontando que "o Fed estava cortando as taxas de juros, e não as elevando, nos meses anteriores ao final das duas primeiras expansões dessa era, e as recessões resultantes foram amenas, pelos padrões históricos".

Falando mais cedo na sexta à Bloomberg Television, James Bullard, presidente do Federal Reserve Bank de St. Louis, disse que esses exemplos oferecem "uma ótima referência" para determinar a política monetária agora, ainda que ele não tinha se comprometido a igualar a dimensão daqueles cortes.

"Foi o que fizemos na década de 1990", disse Bullard. "Não sei onde iremos parar."

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