Veterano levou avião só com bússola e fez entrega ao filho

Comandante Guilherme Miranda Cará está há 44 anos na Embraer

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São José dos Campos

Na tarde de quinta (15), Guilherme de Miranda Cará estava animado. Em algumas horas, seu filho Miguel chegaria a seu trabalho para tratar da entrega de uma encomenda.

Seria trivial, não fosse Cará o mais experiente comandante de ensaios do Brasil, Miguel um já veterano piloto da companhia americana United, e a encomenda, um avião Embraer-175 novo em folha.

Não foi a primeira vez. “É uma emoção muito grande. Em 1999, eu entreguei o 100° jato regional ERJ-145 para a Continental, e meu filho era o piloto que veio buscar a aeronave”, conta Cará, 63, 44 deles dentro da Embraer.

Cará é o mais longevo piloto de testes da Embraer - Eduardo Knapp/Folhapress

Com 16 anos, em 1972, ele frequentava aulas no aeroclube de São José dos Campos.

O lugar é contíguo à então incipiente Embraer. “Em 1974, me convidaram para participar de uma seleção e, um ano depois, cheguei aqui. Nunca mais saí, pilotei todas as aeronaves feitas aqui”, diz.

Fala com mais afeição do EMB-312 Tucano, versão mais leve do atual Super Tucano.

“Fui o piloto de toda a campanha de demonstração”, conta. Cará relata que, apesar do desempenho diferente, os requisitos são os mesmos para testar aviões civis ou militares. Há ao todo 90 pilotos na Embraer, em diversas ocupações.

O risco inerente à função, que Cará deixou de ocupar por alguns anos para cuidar da aviação comercial, é tratado com desassombro. “O parâmetro é a segurança”, diz.

Apuros? Ele lembra de pelo menos dois episódios em que aviões que deveriam dar duas voltas em parafuso.

Mas só tiveram o controle retomado lá pelo 12º giro.

Outra reminiscência foi a primeira entrega que fez.

Era a estreia da Embraer no exterior, no caso o monomotor agrícola Ipanema vendido para a Bolívia, em 1976. Cará levou uma semana para, só com uma bússola e com os nomes de cidades em tetos de estações de trem, chegar a Santa Cruz de la Sierra.

“A cada meia hora eu estava perdido. Eu fazia voos curtos, de 1h30min, porque era tudo selva depois da fronteira. Tive de pousar numa estrada boliviana, quase sem combustível. A polícia veio e me ajudou a encontrar um posto. Abasteci e decolei dali mesmo”, conta.

Ele ficará com a Embraer brasileira, remanescente do negócio com a Boeing. “É uma luta diária”, afirma.

Há seis anos, a Aeronáutica o condecorou como o quinto “pioneiro do voo de ensaio” do Brasil, lista que começa com Alberto Santos-Dumont. “Não pretendo parar”, diz Cará, que acha que o próximo teste que fará será com o protótipo de carro voador da empresa. 

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