Descrição de chapéu Financial Times

Rendimento de título de 30 anos do Tesouro dos EUA cai abaixo dos 2% pela primeira vez

Tensão comercial entre os EUA e a China e desaceleração no crescimento mundial influencia queda

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A forte alta nos títulos do Tesouro estabeleceu novos recordes na quinta-feira (15), com o rendimento do título de 30 anos do Tesouro americano caindo pela primeira vez abaixo dos 2%, à medida que os investidores buscam segurança em meio ao medo crescente quanto à economia mundial e a tensões comerciais renovadas.

Os operadores abriram mão de ativos de maior risco, como ações e petróleo cru, e transferiram fundos a ativos percebidos como portos seguros, entre os quais títulos, estimulados por uma lista cada vez mais longa de medos interconectados, como as tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China e a desaceleração no crescimento mundial.

"Não existe dúvida de que o risco de recessão vem crescendo em meio a uma nova escalada dos conflitos comerciais", disseram os estrategistas do banco BNP Paribas.

Em um novo sinal de fuga rumo aos títulos, o papel de 30 anos do Tesouro dos Estados Unidos teve uma queda de rendimento para apenas 1,96%, sua mais baixa marca em uma série histórica iniciada na década de 1970, e a primeira vez que ele caiu abaixo dos 2%.

O rendimento estava em cerca de 1,99% recentemente. O título de 30 anos do Reino Unido também estabeleceu um novo recorde, caindo abaixo de 1% pela primeira vez.

Em Wall Street, as ações dos Estados Unidos subiram depois do anúncio de números superiores aos esperados quanto às vendas do varejo americano e de uma perspectiva melhor que a esperada para o gigante setorial Walmart, que ofereceram algum alívio a investidores preocupados com a saúde da maior economia do mundo, embora as ações europeias tenham se mantido mais baixas.

O índice S&P 500, a referência do mercado americano, subiu em 0,2%, porque o otimismo quanto ao varejo trouxe alta às ações de bens de consumo e compensou a fraqueza do setor de energia. O índice composto Nasdaq, no qual a tecnologia tem peso maior, registrou leve queda, e o Índice Industrial Médio Dow Jones subiu em 0,3% depois de sofrer seu pior dia do ano na quarta-feira.

O gatilho para os movimentos desta semana no mercado de títulos foram os números fracos de duas economias expostas ao comércio internacional, Alemanha e China, o que despertou medo de uma desaceleração mundial.

Isso levou os rendimentos dos títulos americanos e britânicos de 10 anos a cair abaixo do rendimento de títulos de vencimento mais curto pela primeira vez desde a crise financeira —uma inversão de seu relacionamento normal que historicamente parece prenunciar recessões e restringe a lucratividade dos bancos. A curva de rendimentos continuava invertida na noite de quinta-feira, em Londres.

"Há muitos sinais no mercado sugerindo que há diversos motivos para preocupação", disse Matt Cairns, estrategista de juros do Rabobank.

Tipicamente, os títulos de dívida com vencimento mais longo são negociados com rendimentos mais altos, para compensar os investidores pelo risco de deter a dívida.

Quando a curva de rendimentos se inverte, isso em geral é visto como forte sinal de que os investidores estão antecipando uma desaceleração econômica.

"As grandes economias do planeta estão rangendo ao peso das preocupações comerciais cada vez mais graves, com cada novo dado se aproximando de uma desaceleração mundial que as autoridades monetárias em geral não terão como compensar", disse Cairns.

Para agravar os temores dos investidores, Pequim acusou os Estados Unidos de "severa violação" de acordos comerciais anteriores, por conta dos planos de Washington de impor tarifas de 10% sobre US$ 300 bilhões (R$ 1,2 trihão) em produtos chineses. O Ministério das Finanças chinês anunciou que "a China terá de tomar as contramedidas necessárias".

Os títulos de dívida de países com classificação positiva de crédito como Alemanha, Estados Unidos e Suíça subiram de forma especialmente forte, um sinal de seu status como portos seguros em momentos de incerteza.

O índice Barclays que acompanha esses países mostra retornos de cerca de 7% este ano, incluindo aumentos de preços e pagamentos de juros, o que os deixa a caminho do segundo melhor desempenho registrado nos 10 anos transcorridos desde a crise financeira.

O rendimento dos papéis do índice agora caiu a 0,71%, ante mais de 1,6% no final do ano passado, em um sinal de que os administradores de fundos agora precisam pagar pela segurança dos título soberanos.

A continuação da alta nos títulos de dívida elevou o estoque mundial de dívidas com juros negativos a mais de US$ 16 trilhões (R$ 64,2 trilhões) na quarta-feira, pela primeira vez; a marca dos US$ 15 trilhões (R$ 60,2 trilhões) havia sido excedida pela primeira vez há apenas 10 dias.

No final do ano passado, o valor de mercado dos títulos com rendimento abaixo de zero —ou seja, que garantem prejuízo aos investidores caso estes os detenham até o vencimento— era de cerca de US$ 8 trilhões.

Os mercados de ações asiáticos caíram, acompanhando o forte recuo de Wall Street, que viu queda de 3% nas ações. O índice japonês Topix caiu em 1%, enquanto o S&P/ASX 200 da Austrália caía em 2,9%.
 

Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

Philip Georgiadis , Adam Samson , Matthew Rocco e Alice Woodhouse
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