Pressionado por seus pares a arrefecer a guerra comercial, o presidente americano Donald Trump enviou sinais trocados e terminou o domingo (25) subindo um novo degrau na disputa travada contra a China.
Durante uma reunião do G7 com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, Trump respondeu afirmativamente a perguntas sobre se ele tinha dúvidas sobre sua decisão de aumentar as tarifas impostas a produtos chineses.
"Eu tenho dúvidas sobre tudo", afirmou Trump.
A declaração foi lida inicialmente como um gesto de Trump para colocar um teto na disputa entre Washington e Pequim, em meio à pressão de países do G7 para limitar os danos econômicos da disputa.
Horas depois, porém, a Casa Branca disse que Trump foi mal interpretado.
"O presidente Trump respondeu afirmativamente porque lamenta não ter aumentado as tarifas ainda mais", disse a porta-voz da Casa Branca Stephanie Grisham em um comunicado.
Na sexta-feira (23), Trump anunciou imposto adicional sobre cerca de US$ 550 bilhões (R$ 2,24 trilhões) em produtos da China, horas depois que Pequim divulgou tarifas retaliatórias sobre US$ 75 bilhões (R$ 306 bilhões) em produtos norte-americanos.
E a alíquota já prevista, que seria de 10%, foi elevada a 15%.
Apesar da piora no ambiente econômico, que derrubou as Bolsas globais e fez o dólar se valorizar ante as principais moedas emergentes, Trump declarou que sua guerra comercial com a China não causa tensão na cúpula do G7.
"Eu acho que eles [os outros líderes] respeitam a guerra comercial. Ela deveria acontecer", disse Trump antes de uma reunião com líderes, incluindo Emmanuel Macron, Angela Merkel e Shinzo Abe.
Questionado sobre possíveis críticas de seus colegas, ele insistiu que "não, de forma alguma. Eu não ouvi isso". Em sua conta no Twitter, Trump escreveu que é "fake news" afirmar que as relações entre os membros do G7, grupo de países ricos, esteja desgastada.
Muitos líderes expressaram preocupações sobre o impacto negativo da guerra comercial sobre a economia global e os mercados financeiros.
A Alemanha, cuja economia depende de exportações, registrou retração no segundo trimestre e analistas já estimam nova queda no PIB (Produto Interno Bruto) também no terceiro trimestre.
Os movimentos recentes foram a última rodada de uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, que tem prejudicado o crescimento global, incomodado aliados e aumentado os temores do mercado de que a economia mundial entrará em recessão.
O assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, disse neste domingo que não espera que a China retalie ainda mais os americanos.
"Acho que foi uma ação para responder à ação deles. Duvido que eles deem mais um passo", disse Kudlow no programa Face the Nation, da CBS. "Nós vamos ter que esperar e ver", disse.
Já o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, afirmou que Trump e o líder chinês Xi Jinping se tornaram inimigos no comércio, apesar de um bom relacionamento em outras áreas.
"O presidente Xi ainda é seu amigo", disse ele no programa Fox News Sunday. "Mas, no que diz respeito a questões financeiras e comerciais, nos tornamos inimigos. Não estamos progredindo", disse Mnuchin, que tem ajudado a liderar negociações comerciais com a China.
Trump chegou a ameaçar declarar estado de emergência nacional, medida que permitiria, segundo ele, ordenar a empresas americanas que deixem a China.
"Eu tenho o direito, se eu quiser. Posso declarar estado de emergência nacional. Mas não tenho essa intenção por enquanto", disse ele.
Na sexta-feira, Donald Trump ameaçou Pequim com medidas drásticas, tuitando que "as empresas americanas têm ordens para começar imediatamente a procurar uma alternativa à China".
Apesar de seus comentários inicialmente mais sutis neste domingo, Trump defendeu sua estratégia contra a China, a quem ele acusa há mais de um ano de "roubo de propriedade intelectual da ordem de US$ 300 a 500 bilhões por ano".
Como vem dizendo há meses, o presidente americano reafirmou que a China acabará cedendo às demandas e mudando sua relação comercial com os Estados Unidos.
"Estamos em discussões, eles querem um acordo tanto quanto nós", assegurou.
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