Agência de turismo Thomas Cook declara falência e afeta 600 mil clientes

Grupo teve forte queda em seus negócios nos últimos anos, devido à concorrência intensa dos sites de viagens

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Londres

A histórica operadora de turismo britânica Thomas Cook declarou falência, o que obrigou as autoridades a iniciar uma operação sem precedentes para repatriar 600 mil clientes em vários países.

A empresa, pioneira das viagens turísticas, com 178 anos, negociou intensamente durante todo o fim de semana em busca de uma injeção de capital de 200 milhões de libras (R$ 1,03 bilhão) para evitar o colapso. Mas as conversações fracassaram e a operadora encerrou as atividades.

O grupo, que administra hotéis, resorts e linhas aéreas para 19 milhões de pessoas por ano, estava abalado por uma dívida de US$ 2,1 bilhões (R$ 8,75 bilhões), tendo que vender três milhões de pacotes de férias por ano só para pagar os juros.

A Thomas Cook vinha registrando uma forte queda em seus negócios nos últimos anos como consequência da concorrência intensa dos sites de viagens e das dúvidas dos turistas a viajar ante as incertezas sobre o brexit, adiado duas vezes este ano.

A empresa também foi abalada pela tentativa de golpe na Turquia, um de seus principais destinos, e a onda de calor de 2018 em toda a Europa, que fez clientes evitarem viagens ao exterior.

Airbus do grupo britânico Thomas Cook no aeroporto de Düsseldorf, na Alemanha
Airbus do grupo britânico Thomas Cook no aeroporto de Düsseldorf, na Alemanha - Wolfgang Rattay – 23.set.2019/Reuters

Na madrugada desta segunda-feira (23), as autoridades do Reino Unido começaram a organizar o retorno de 150 mil turistas britânicos, na maior operação de repatriação do país em tempos de paz, duas vezes superior à organizada há dois anos, no momento da falência da companhia aérea Monarch.

O governo ativou um plano de emergência que recebeu o nome "Operação Matterhorn", referência a uma campanha de bombardeios dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Quarenta aviões foram fretados e 1.000 voos foram previstos pela Autoridade Britânica de Aviação Civil (CAA).

Aeronaves começaram a decolar de Palma de Mallorca (Espanha). De 25 mil a 30 mil clientes do grupo estavam nesta segunda nas Ilhas Baleares, 15 mil no Chipre, 50 mil na Grécia.

Os outros países da União Europeia também deverão supervisionar o retorno de seus cidadãos, como cerca de 140 mil alemães, 10 mil belgas e o mesmo número de holandeses e franceses. 

"Todos os passageiros atualmente no exterior pela Thomas Cook e que tinham reservas para retornar ao Reino Unido nas próximas duas semanas serão transportados para casa em uma data o mais perto possível de suas reservas quanto possível", afirmou o governo britânico.

De acordo com a BBC, 14 mil britânicos devem ser repatriados até a noite de segunda-feira. O governo calcula o custo da operação em 100 milhões de libras (R$ 516 milhões).

A empresa confirmou que, somando todos os destinos e nacionalidades, tem atualmente quase 600 mil turistas de férias pelo mundo.

A companhia aérea alemã Condor, que pertence ao grupo Thomas Cook, anunciou que mantém seus voos, apesar da falência, e solicitou um empréstimo de emergência ao governo alemão.

"É um momento preocupante para os funcionários e os clientes da Thomas Cook. A maior repatriação em tempos de paz no Reino Unido", tuitou o ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab. 

"Apesar dos enormes esforços, as discussões não chegaram a um acordo entre os acionistas e aqueles que ofereciam um novo aporte de dinheiro", anunciou a empresa no domingo à noite.

Oficiais conversam com passageiros que foram afetados pela falência da Thomas Cook
Oficiais conversam com passageiros que foram afetados pela falência da Thomas Cook - 23.set.2019 - Tolga Akmen/AFP

"A direção concluiu que não havia outra opção que dar os primeiros passos para iniciar o processo de liquidação com efeito imediato", completou.

A operadora havia apresentado um plano reestruturação no qual o conglomerado chinês Fosun assumiria o controle de suas atividades, ao mesmo tempo que os credores (que incluem, entre outros, os bancos RBS, Barclays e Lloyds) assumiriam as atividades de sua companhia aérea.

Mas as 900 milhões de libras (R$ 4,16 bilhões) prometidas pelas partes não eram suficientes. A empresa necessitava de mais 200 milhões de libras para continuar com suas atividades.

Thomas Cook tem 22 mil funcionários em todo o mundo, 9.000 deles no Reino Unido.


Afetados e repatriados

  • REINO UNIDO

Número de clientes a serem repatriados:
150 mil

O que está previsto:
O governo lançou nesta segunda-feira a maior operação de repatriação de urgência desde a Segunda Guerra Mundial, fretando 40 aviões para fazer cerca de mil voos.

  • FRANÇA

Número de clientes a serem repatriados:
9.842

O que está previsto:
Um número de urgência foi posto à disposição dos viajantes atualmente de férias. A Thomas Cook pede a seus clientes que não viajem nesta segunda-feira para evitar mais dificuldades.

  • ALEMANHA

Número de clientes envolvidos:
140 mil

O que está previsto:
O governo alemão não tem nenhum dispositivo específico, já que a legislação em vigor no país impõe aos turistas uma seguro destinado a indenizar e repatriar os clientes em caso de falência. A suíça Zurich Insurance é a seguradora no caso da Thomas Cook.

Além disso, Berlim examina a demanda de ajuda emergencial feita pela companhia aérea Condor, filial da Thomas Cook baseada em Frankfurt. Enquanto isso, a Condor continuará a garantir seus voos e repatriará os clientes da Thomas Cook.

  • NORTE DA EUROPA

Número de clientes afetados:
140 mil – Cerca de 35.000 turistas dos países nórdicos viajam neste momento pela Thomas Cook. Destes, 16.956 são suecos; 8.819, dinamarqueses; e 9.000, noruegueses.

Quase 6.000 turistas dos países nórdicos viram seus voos sendo anulados na segunda-feira, pelas filiais nórdicas da Thomas Cook: Ving (Suécia e Noruega), Globetrotter (Suécia) e Spies e Tjäreborg (ambos dinamarquesas). 

Na Dinamarca, as outras operadoras (Tui e Bravo Tours) se ofereceram para ajudar, mas sem especificar o número de viajantes que poderão transportar.

A operadora alemã TUI confirmou que vai garantir o bilhete de volta das férias para os turistas que tiverem reservado a estada em seus hotéis.

  • BÉLGICA E HOLANDA

Número de clientes afetados:
10 mil na Holanda, a maioria na Europa, e 10 mil cidadãos belgas.

O que está previsto:
Até nova ordem, os clientes belgas e holandeses não serão imediatamente repatriados. "Eles poderão terminar suas férias", afirmou uma porta-voz da Thomas Cook citada pela agência de notícias holandesa ANP. "Há um acerto para que eles possam terminar suas férias", declarou.

Na Holanda, uma fundação assume as taxas dos viajantes lesados, por exemplo, pela falência da agência de viagem escolhida.

  • Áustria

Número de clientes afetados: 
Cerca de 5.000, segundo a Associação de Agências de Turismo da Áustria.

O governo não prevê medidas excepcionais e lembra que estes viajantes estão cobertos por dispositivos de seguro para eventuais repatriações.

Locais de férias

CRISE NA GRÉCIA

Número de clientes de férias:
50 mil, entre eles 22 mil em Creta.

A repatriação dos turistas estrangeiros começou, anunciou o ministro do Turismo Haris Theocharis. Um centro operacional foi posto à disposição do Ministério para lidar com todas as questões de repatriação. Os 15 primeiros voos chegaram às ilhas de Zakynthos, Corfou e Kos, acrescentou.

CONTAS NÃO PAGAS NA TUNÍSIA

Número de clientes de férias:
4.500 

Turistas já foram cobrados pelo pagamento de faturas não cobertas pela operadora neste fim de semana, causando tensões, em especial em um hotel de Hammamet.

Uma célula de crise foi ativada no domingo para responder às preocupações dos viajantes e dos hotéis.

AJUDA AOS PARCEIROS NA TURQUIA

Número de clientes de férias:
21 mil

O Ministério do Turismo na Turquia anunciou nesta segunda-feira que instalará, o mais rápido possível, um programa de créditos para ajudar as empresas locais afetadas pela falência da Thomas Cook.

SETOR TURÍSTICO BÚLGARO É AFETADO

Número de clientes de férias: 
2.500 turistas britânicos.

Thomas Cook é um dos principais operadores de turismo, com os quais a Bulgária trabalha. "Sua falência terá um efeito de tsunami sobre o turismo búlgaro", declarou à rádio pública o diretor do instituto búlgaro de análises sobre o turismo, Roumen Draganov.

A Thomas Cook organiza as férias na Bulgária de cerca de 300.000 turistas britânicos e alemães por ano. A empresa tem cerca de 50 hotéis no litoral do Mar Negro.

SITUAÇÃO NO CHIPRE

Número de clientes de férias: 
15.000, entre eles 7.500 britânicos.

O grupo Thomas Cook responde por 4,1% do tráfego anual dos aeroportos cipriotas.

Com agências de notícias

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