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Autor explora apoio empresarial a Hitler para compreender ascensão do nazismo

Obra do francês Éric Vuillard causa, ao mesmo tempo, angústia e um estranho sentimento de déjà-vu

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A Ordem do Dia

  • Preço R$ 41,90
  • Autoria Éric Vuillard
  • Editora ed. Tusquets (141 págs.)

A experiência nazista e o Holocausto que dela derivou estão, certamente, entre os períodos mais bem documentados da história.

É prolífica a relação de trabalhos acadêmicos, reportagens e obras audiovisuais sobre como Hitler chegou ao poder, planejou o início da Segunda Guerra e conseguiu executar um plano metódico e organizado de exterminação de minorias e opositores.

Assunto menos tocado por essa miríade de obras, o apoio que o líder nazista teve de empresários e executivos de grandes indústrias alemãs para chegar ao poder é o cerne de “A Ordem do Dia”, do cineasta e escritor francês Éric Vuillard.

O livro, que venceu o Prêmio Goncourt em 2017, foi traduzido agora para o português. Em 141 páginas, explora dois episódios que o autor considera centrais para a compreensão do crescimento do nazismo: um jantar de grandes empresários em 20 de fevereiro de 1933 com o então chanceler da Alemanha, Adolf Hitler, e a anexação da Áustria (“Anschluss”) pelo regime alemão, em 12 de março de 1938.

Nessa primeira parte da obra reside seu maior valor. Vuillard narra, com descrição minuciosa, os detalhes estéticos possíveis de recuperar para reconstituir a noite em que 24 grandes empresários se reuniram com dirigentes do Partido Nazista no palácio do presidente da Assembleia alemã.

A premissa de Vuillard é que o apoio financeiro a nazistas por parte de quem estava à frente de empresas como Allianz, Basf, Bayer, Thyssenkrupp e Siemens foi dado sem grandes dramas de consciência ou relutâncias morais.

“Todos acumulavam conselhos de administração ou de vigilância, todos eram membros de alguma organização patronal. Sem contar as sinistras reuniões de família desse patriarcado austero e tedioso”, diz um trecho do livro.

A obra relata como, após pedido de Hitler, os empresários doaram dinheiro para a campanha, no que o autor chama de “um momento único na história patronal, um compromisso extraordinário com os nazistas”, mas que, “para os Krupp, os Opel, os Siemens, não passa de um episódio muito comum na vida dos negócios, uma banal arrecadação de fundos”.

É tautológico afirmar que, ao menos como regra, nenhum regime autoritário se estabelece sem o apoio sólido de parte da elite. O que Vuillard faz é mostrar-nos como esse endosso se deu.

 

A segunda parte também se destaca pelo esmero nos detalhes, como dar ao leitor o cardápio do jantar entre o recém-nomeado ministro de Relações Exteriores alemão, Joachim von Ribbentrop, na casa do então primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain.

Também narra o medo que o ditador austríaco Kurt Schuschnigg tinha de Hitler, manifestado no encontro em que o líder nazista impõe à Áustria condições que evidenciam a vocação imperialista e belicosa do regime alemão.

O que Vuillard ilustra aqui é a já conhecida conivência das potências estrangeiras para com as medidas expansionistas de Hitler antes da Segunda Guerra. A descrição dos bastidores do poder, porém, traz ao leitor uma sensação quase cinematográfica de presença.

O escritor deixa explícita a avaliação de que o Terceiro Reich, embora ambicioso, estava militarmente despreparado para a invasão da Áustria. Isso é evidenciado pelas dificuldades que os Panzers alemães tiveram para entrar no país —a despeito de terem sido recebidos com entusiasmo pela população local— devido ao frio inverno austríaco.

A sensação predominante que se tem ao ler “A Ordem do Dia” é a de angústia. Os fugazes atos proto-heroicos de Schuschnigg, por exemplo, além de evidenciarem o caráter ridículo da classe política da época, intensificam a percepção de que muito pouco ou nada foi feito para impedir a tragédia que se descortinava.

Já a atitude pragmática do empresariado causará ao leitor um estranho déjà-vu. 

Ao ler Vuillard, é difícil não pensar em um trecho de “É Isto um Homem”, em que Primo Lévi descreve os nazistas e as vítimas de Auschwitz: “Os personagens destas páginas não são homens. Sua humanidade ficou sufocada, ou eles mesmos a sufocaram, sob a ofensa padecida ou infligida a outros”.


Teoria Econômica

Evolução Histórica do Liberalismo, Antonio Paim, LVM, R$ 49,90, 216 págs.

Livro se propõe a sintetizar, em oito capítulos, os pensamentos de grandes nomes do liberalismo, em suas diferentes vertentes. São analisados intelectuais como Locke, Kant, Smith, Mises, Hayek, Friedman e Nozick.

Eficiência

Dedique-se de Coração Howard Schultz, Buzz, R$ 59,90, 336 págs.

Conta a história da rede de cafeterias de origem americana Starbucks. O argumento é que a gestão da companhia gera lucro e, ao mesmo tempo, trata os funcionários com respeito. Apresenta ainda estratégias da varejista para compreender seu clientes.

Liderança

O Novo Código da Cultura: Vida ou Morte na Era Exponencial, Sandro Magaldi e José Salibi Neto, ed. Gente, R$ 49,90, 224 págs.

Voltada ao empreendedor, obra fala da transformação trazida pela tecnologia nos negócios e da importância da gestão de pessoas para moldar a cultura organizacional e atingir os objetivos da empresa.

Estilo de vida

Minimalismo Digital: Para uma Vida Profunda em um Mundo Superficial, Cal Newport, Alta Books, R$ 59,90, 304 págs.

Livro propõe aplicar o minimalismo ao uso cotidiano da tecnologia. Dicas do autor vão além da recomendação de desligar notificações do celular. Propõe repensar a relação com redes sociais.

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