Diálogo de Macri com oposição contra crise é difícil de ocorrer

Desde as primárias, analistas passaram a falar em saída à brasileira, defendendo transição como a de FHC e Lula em 2002

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Buenos Aires

A ideia de que oposição e governo na Argentina deveriam dialogar para garantir uma transição menos turbulenta tem sido muito evocada por economistas e analistas, mas é de difícil execução. 

Logo após as primárias, o presidente Mauricio Macri procurou Alberto Fernández para dialogar. Embora o peronista (que ganhou por 47% a 32%) tenha garantido ao mandatário que não faria nada para conturbar ainda mais a situação política e econômica instável do país, seguiu fazendo criticas e defendendo-se com o argumento de que era apenas “um candidato e não um presidente eleito”, e que a responsabilidade da crise era de Macri.

Presidente da Argentina, Mauricio Macri, em evento no Paraguai
Presidente da Argentina, Mauricio Macri, em evento no Paraguai - Jorge Adorno - 23.ago.2019/Reuters

Embora os bons modos tenham prevalecido nos primeiros dias, politicamente a polarização se impôs. A aliada macrista Elisa Carrió fez discursos incendiários dizendo que “apenas mortos deixaremos Olivos” (a residência oficial).

Alberto Fernández logo anunciou uma agenda na Espanha e em Portugal, para onde embarcou neste domingo (1º) para fazer palestras e se encontrar com o primeiro-ministro de centro-esquerda espanhol, Pedro Sánchez. 

Depois, o peronista deverá ir ao México, onde se encontrará com o presidente esquerdista López Obrador. Fernández pretende aliar-se a ele pelo menos em um quesito: não apoiar a Juan Guaidó, na Venezuela, porque crê que isso é uma ingerência e que o país não vive uma ditadura, e sim “um regime autoritário”.

Com Cristina combativa, como indicou em discurso neste sábado (31) e Fernández em tour internacional, há poucas chances de diálogo. 

Desde as primárias, empresários e analistas passaram a falar em uma saída à brasileira, defendendo que Macri e Fernández entrassem em diálogo como FHC e Lula fizeram em 2002, quando os dois negociaram juntos um novo socorro ao FMI (Fundo Monetário Internacional). 

Mas, dessa vez, ao contrário de FHC, Macri está em plena campanha de reeleição, apesar do insólito clima de transição a pouco mais de 50 dias da eleição.

Na verdade, Macri até se referiu a essa transição FHC-Lula na entrevista coletiva que deu no último dia 12, um dia depois das primárias. Ele disse que Lula não tinha tido muito trabalho porque FHC havia preparado o terreno para que ele fizesse um bom governo, mas que isso na Argentina parecia não ser possível, porque a oposição “sempre quer voltar para trás, para uma solução que o mercado internacional rejeita”.

O analista político Marcos Novaro resumiu: “não dá para o governo dialogar porque está em campanha e tem de atacar Fernández, e não o contrário. E Fernández, para ganhar, precisa que Macri sangre até o fim.”

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