Disparada do petróleo é teste para política de preços da Petrobras, dizem analistas

Preço chegou a subir 20% no domingo e opera nesta segunda com alta de 8%

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Rio de Janeiro

A disparada do preço do petróleo após ataques em instalações petrolíferas na Arábia Saudita será um teste para a autonomia da Petrobras para definir os preços dos combustíveis em momentos de crise, avaliam analistas que acompanham os negócios da estatal.

O preço do petróleo chegou a subir 20% no domingo (15) e opera nesta segunda com alta de 8%. No mercado, porém, não há ainda clareza sobre a duração desse ciclo de alta, que vai depender da capacidade de recuperação da produção saudita ou de substituição do petróleo daquele país por outras fontes.

O cenário favorece as negociações com ações da Petrobras, que registravam alta de 3,31% às 11h50 desta segunda (16). 

Ainda assim, Luiz Carvalho e Gabriel Barra, analistas do banco UBS, veem uma situação "desafiadora" para a estatal. Além do petróleo, dizem, a taxa de câmbio deve sentir os efeitos da crise, pressionando ainda mais a chamada paridade de importação —conceito usado pela política de preços da estatal, que simula o custo de importação dos combustíveis. 

 

Eles lembram que no passado, a Petrobras segurou seus preços em diversos momentos de crises semelhantes, gerando prejuízos em suas operações de refino. "A gestão atual tem conseguido implementar uma estratégia bem sucedida até agora e esse evento será um importante teste sobre a solidez dessa política."

Embora acredite em impacto positivo sobre as ações da Petrobras, o analista Daniel Cobucci, do Banco do Brasil, também vê dúvidas a respeito do cumprimento da política de preços, que prevê o acompanhamento das cotações internacionais.

"Questões de curto prazo devem surgir, já que no caso de repasse integral do preço do petróleo para os consumidores, caminhoneiros que já mostram desconforto com o preço atual do diesel e a política de frete mínimo podem se reorganizar para uma nova greve", escreveu.

Em abril, durante um ciclo de alta das cotações internacionais, o presidente Jair Bolsonaro determinou que a direção da Petrobras suspendesse reajuste no preço do diesel, alegando risco de nova greve de caminhoneiros. A decisão levou a estatal a perder R$ 32 bilhões em valor de mercado em apenas um dia.

"É provável que essa disparada do petróleo não resulte em aumento dos preços de combustível, até porque o governo já demonstrou dificuldade em fazer isso em outros momentos –na última vez que tentou, tivemos a greve dos caminhoneiros", escreveram Matheus Salomão e Thiago Soares, da Rico Investimentos.

A estatal subiu o preço do diesel na sexta (13), alta de R$ 0,0542 por litro —foi o segundo reajuste no mês de setembro. Já o preço da gasolina foi reajustado pela última vez no dia 5 de setembro. A expectativa do mercado é que a empresa espere um pouco antes de definir por novo aumento.

A avaliação é que a estratégia da companhia nesse período de crise terá efeitos sobre seus planos de vendas de oito de suas 13 refinarias, já que a liberdade de preços impacta diretamente no interesse de investidores e no valor do ativos.

Fachada do prédio da Petrobras no Rio; disparada do petróleo testa política de preços da companhia
Fachada do prédio da Petrobras no Rio; disparada do petróleo testa política de preços da companhia - Sergio Moraes/Reuters

Na sexta, a Petrobras abriu processo de venda de quatro unidades, localizadas em Minas Gerais, no Amazonas, no Ceará e no Paraná. Antes, em junho, já havia iniciado negociação de outras quatro, em Pernambuco, na Bahia, no Paraná e no Rio Grande do Sul. 

A expectativa é arrecadar até US$ 35 bilhões (R$ 143 bilhões, ao câmbio atual), disse o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, em audiência no Congresso. O UBS estima que as unidades valem US$ 26 bilhões (R$ 106 bilhões).

Para Cobucci, interrupções na política de preços podem minar o interesse do investidor. "Os investidores que estão interessados em comprar refinarias não seriam capazes de competir em um cenário em que seu principal investidor (Petrobras) vende seus produtos a um preço menor do que a paridade internacional."

No mercado, porém, ainda há incertezas sobre a extensão dos impactos do corte de produção saudita nas cotações internacionais. Com o crescimento da produção de reservas não convencionais nos Estados Unidos, a dependência de petróleo do Oriente Médio é hoje menor do que no passado, destaca o analista sênior da Oanda, Alfonso Esparza.

Durante o fim de semana, o presidente americano, Donald Trump, liberou o uso de reservas estratégicas daquele país para compensar a queda da oferta global. A própria Arábia Saudita tem estoques que podem garantir entregas por uma semana, segundo o diretor da Wood Mackenzie, Vima Jayalaban.

"O impacto e os próximos passos vão depender da duração dos cortes", afirma. Caso a alta se mantenha e seja repassada aos preços internos, o mercado vê impactos em companhias aéreas, que têm no querosene de aviação um componente importante de custos. 

Além disso, há possíveis efeitos na inflação, que vem abaixo das metas do governo. "Grande parte dos custos das empresas estão atrelados ao petróleo (direta e indiretamente), por isso que quanto maiores os preços, maior pode ser a inflação", escrevem os analistas da Rico.

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