Dólar bate R$ 4,18 e renova máxima do ano

Real tem a maior desvalorização dentre emergentes

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São Paulo

O dólar atingiu uma nova máxima em 2019. Nesta segunda-feira (2), a moeda americana fechou cotada a R$ 4,184, alta de 1%, maior patamar desde 13 de setembro de 2018, antes das eleições presidenciais.

Dentre os emergentes, o real foi a divisa que mais se desvalorizou nesta sessão, marcada pela dificuldade de China e Estados Unidos chegarem a um acordo comercial e pelo pacote argentino que visa conter a desvalorização do peso.

No domingo (1º) passaram a valer as novas tarifas americanas, de 15%, sobre uma variedade de produtos chineses no domingo --incluindo calçados, relógios inteligentes e TVs de tela plana--, enquanto a China começou a cobrar novas tarifas sobre o petróleo americano.

Segundo a Bloomberg, a China pediu aos EUA para que as novas taxas fossem adiadas, sem sucesso. Por outro lado, americanos tentaram determinar parâmetros para as próximas negociações, também sem êxito. 

Além disso, a China entrou com um processo contra os Estados Unidos junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) por causa das tarifas americanas, informou o Ministério chinês do Comércio nesta segunda.

Os desacordos, e o fato que uma data para a visita da delegação chinesa à Washington ainda não foi definida, preocupam investidores que aumentam sua aversão a risco. 

O temor do mercado quanto a uma nova escalada da guerra comercial faz emergentes se desvalorizarem, na busca por investimentos mais seguros, como o dólar.

No Brasil, se soma o efeito Argentina. No domingo (1º), o governo de Maurício Macri decretou limites no mercado de câmbio, para conter a disparada do dólar. 

Segundo as novas regras, as pessoas físicas serão limitadas a comprar ou transferir para contas no exterior até US$ 10 mil por mês.

Os exportadores terão de retornar ao país as divisas que resultem de vendas no exterior em até cinco dias após receber ou em até seis meses após o embarque.

O governo também decidiu centralizar o câmbio, determinando que o acesso a dólares, metais e transferências ao exterior sejam feitos apenas com autorização prévia do banco central.

As medidas anunciadas neste domingo se somam à restrição, levantada na última sexta (30), de bancos remeterem resultados ao exterior, num primeiro sinal de que mais ações para o limitar o acesso a dólares seriam implementadas. 

A medida surtiu efeito e a cotação do dólar cedeu 5,85% no país, a 56 pesos por dólar, menor patamar em uma semana. 

A Bolsa argentina também se recuperou, com alta de 6,25%. 

O pacote de Macri, no entanto, não foi visto com bons olhos por analistas.

"Do ponto de vista macro, a Argentina está em retrocesso com a alta possibilidade de ter um governo intervencionista e populista”, diz relatório da XP Investimentos.

“Na Argentina, o governo parece ter abandonado de vez o laissez-faire [liberalismo econômico] para focar no pragmatismo perante a queima de reservas”, diz documento da Ativa Investimentos.

Também nesta sessão, os títulos de dívida argentinos de longo prazo em dólar e euro foram para mínimas históricas. 

Os investidores se preocupam com a possibilidade de que, uma vez que os controles estejam em vigor, eles sejam difíceis de ser retirados, possivelmente deixando a Argentina com uma economia mais uma vez distorcida pela intervenção do governo.

No Brasil, a Bolsa operou boa parte da segunda no azul, mas virou com a notícia da Bloomberg sobre a guerra comercial. O Ibovespa fechou e queda de 0,5%, a 100.625 pontos.

O giro financeiro foi de R$ 10 bilhões, abaixo da média diária para o ano, já que, nesta segunda, Wall Street esteve fechada por conta do feriado do dia do trabalho. Ou seja, as oscilações são majoritariamente domésticas, sem influência dos americanos. 

Além da proteção em dólar,  Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO Câmbio, também há um movimento especulativo na alta do dólar frente ao real, de investidores que apostam na alta da moeda americana.

“Essa alta do dólar pode nos favorecer, pois aumentamos competitividade para a exportação. Pode ser, inclusive, do interesse do governo manter no patamar de R$ 4,15, assim favorece a economia. Neste patamar, também atraímos estrangeiros para nossos ativos de risco, que ficam mais baratos”, afirma Nehme. 

O economista relembra a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que a alta do dólar não preocupa.

"Real nos últimos dias tem tido desvalorização um pouquinho acima, mas está bem dentro do padrão normal", disse Campos Neto na última terça-feira (27).

Naquele pregão, o dólar estava cotado a R$ 4,1596 antes da fala de Campos Neto e, no mesmo minuto da declaração, saltou para R$ 4,1830 reais na venda.

O salto levou a moeda americana a bater R$ 4,196 naquele dia, próximo a máxima histórica nominal, de R$ 4,20. O alto patamar levou o BC a interferir no câmbio com venda à vista de dólares, além da venda de US$ 550 milhões atrelados a swap reversos.

Segundo registros do banco, a operação levou a uma baixa de US$ 1,369 bilhão nas reservas internacionais do Brasil, que hoje somam US$ 386,478 bilhões.

Para setembro, a instituição fará a rolagem dos contratos de câmbio que vencem em 1º de novembro, no valor de US$ 11,6 bilhões, por meio de leilões diários que começaram nesta segunda e se estendem até 27 de setembro.

O BC irá oferece dólares à vista e, se não houver demanda por todo o lote ofertado, serão leiloados contratos de swap cambial para complementar a rolagem.

Neste primeiro leilão foram ofertados US$ 580 milhões, com venda de apenas US$ 450 milhões, equivalente a 9 mil contratos de swap reverso. Para completar a rolagem, foram vendidos mais 2.600 contratos. 

Para Paulo Nepomuceno, estrategista-chefe da Coinvalores, não é a falta de demanda por dólares que limitou as compras e, sim a falta de apetite pelo swap reverso, no qual o comprador fica 'vendido' em dólar e só lucra se a cotação da moeda recuar.

"A intervenção do BC da última terça (27) chamou os especuladores, em se testa o nível que o BC está confortável com o dólar. Por isso o real se desvalorizou mais que outras moedas hoje. Além disso, o cenário doméstico não está um mar de rosas, com a baixa popularidade do presidente Bolsonaro, algo que pode afetar as reformas", afirma Nepomuceno.

Nesta segunda, pesquisa nacional feita pelo Datafolha aponta que a reprovação do presidente subiu de 33% para 38% em relação ao levantamento anterior do instituto, feito no início de julho

A alta do dólar também preocupa o mercado quanto a cortes na taxa de juros, já que uma Selic mais baixa pode levar a uma saída ainda mais forte de estrangeiros do país e uma alta nos preços, o que traria aumento da inflação.

"Quanto mais o BC se preocupa com o dólar, menor a chance de se ter uma política monetária de estímulo. O mercado, nessa dúvida, compra dólares", diz Nepomuceno.

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