O crescimento da produção nacional de gás natural pode justificar a construção de até 16 novos gasodutos no país nos próximos anos. A projeção é de estudos que serão lançados na próxima quinta (5) pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), estatal responsável pelo planejamento do setor de energia.
O documento recupera projetos já autorizados, mas que ainda não saíram do papel, como o Gasoduto Brasil Central, que chega até Brasília, e o gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre, que permite a importação de gás argentino para o país.
Além disso, fala em tubulações e unidades de processamento para escoar a produção marítima do combustível, que vem crescendo nos últimos anos, mas com boa parte dos volumes reinjetados nos poços por falta de infraestrutura de transporte.
O documento também considera que a oferta líquida de gás no país vai passar dos atuais 59 milhões para 147 milhões de metros cúbicos por dia, com aumento da produção principalmente nas bacias de Campos, Santos e Sergipe-Alagoas.
O plano é indicativo —isto é, aponta projetos que liguem nova oferta de gás a regiões com demanda reprimida— mas não determina que as obras serão construídas. A decisão final, diz o presidente da EPE, Thiago Barral, vai depender do interesse de investidores.
"Estamos olhando onde tem mercados não atendidos e potenciais entradas de gás novo", afirmou. A avaliação considera possíveis efeitos do programa Novo Mercado de Gás, lançado pelo governo para ampliar a competição e reduzir o preço do combustível.
O presidente da EPE não adiantou a estimativa total de investimentos. Dos 16 gasodutos indicados, cinco ligam plataformas marítimas ao continente —do pré-sal à bacia de Sergipe-Alagoas— e os outros transportam o gás aos mercados consumidores.
O maior deles é o Brasil-Central, com cerca que 905 quilômetros de extensão ligando São Carlos (SP) à capital federal. Chegou a ser autorizado à empresa TGBC, do empresário Carlos Suarez, mas foi suspenso depois que a Petrobras desistiu de usar a tubulação para abastecer natimorta fábrica de fertilizantes de Uberaba (MG).
O diretor de Estudos de Petróleo e Gás da EPE, José Mauro Ferreira Coelho, diz que há potencial para a retomada da fábrica e do surgimento de novos clientes para o gás natural na região Centro-Oeste.
"Com o Novo Mercado de Gás, vamos ter preços mais competitivos e, com preços mais competitivos, podemos ter demanda", afirmou. A estatal prevê gastos de ao menos R$ 7,2 bilhões nesse projeto.
Já o gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre estava suspenso por falta de gás na Argentina. Agora, com a descoberta de reservas gigantes de gás não convencional em uma área denominada Vaca Nuerta, na Patagônia, volta ao radar de investidores.
"O problema que Vaca Muerta tem hoje não é de oferta, mas de demanda", disse o diretor-geral da argentina Transportadora Gás del Norte, Daniel Ridelener, na conferência Rio Pipeline. O país vizinho produz hoje 145 milhões de metros cúbicos por dia, volume 15% maior do que a produção brasileira.
Outro projeto de grande porte é a duplicação do trecho sul do Gasoduto Bolívia-Brasil, que está operando no limite de sua capacidade. Há ainda pequenos gasodutos ligando novas fontes de oferta, como terminais de importação, à malha nacional já existente.
No mar, a EPE vê necessidade três novas rotas ligando campos do pré-sal ao litoral de São Paulo, Rio e Espírito Santo. Há hoje duas em operação e uma terceira em construção, com capacidade somada para transportar 44 milhões de metros cúbicos por dia. Em 2030, diz a EPE, o pré-sal estará produzindo 71 milhões.
Além disso, considera a necessidade de outro duto no litoral capixaba e um ligando as reservas de Sergipe ao continente. Cada uma das redes de escoamento deve demandar a construção de uma unidade de tratamento de gás, com investimentos estimados em R$ 2,3 bilhões por unidade.
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