A Huawei Technologies revelou na quinta-feira (19) seu primeiro smartphone sem os apps mais populares do Google, o que é um subproduto da disputa comercial entre China e os Estados Unidos e pode complicar os esforços da gigante da tecnologia chinesa para incentivar a demanda por seus bens de consumo fora do país.
Desde que a companhia foi adicionada à "lista de entidades" do Departamento do Comércio americano, em maio, ela está impedida de adquirir tecnologia de origem americana. Isso significa que a nova série de smartphones Huawei Mate 30 vai funcionar com uma versão de fonte aberta do sistema operacional Android, que não incluirá a loja de apps Play e outros apps do Google tipicamente incluídos nos produtos da Huawei, como o Google Maps e o YouTube.
O Departamento do Comércio dos Estados Unidos mencionou preocupações de segurança nacional para colocar a Huawei e suas afiliadas na lista.
"O governo dos Estados Unidos nos forçou a fazer isso, e não temos outra solução", disse Richard Yu, presidente-executivo de bens de consumo da Huawei. "O bloqueio americano destruiu esse setor e prejudica também as empresas dos Estados Unidos."
Embora Yu tenha dito que os usuários ainda poderão baixar apps do Google, quer por meio da App Gallery, a loja de apps da Huawei, ou por outros canais, ele não especificou quais aplicativos estariam disponíveis, e onde.
Yu disse que a Huawei optou por lançar a linha Mate 30 com a plataforma Android de fonte aberta em lugar da plataforma que a empresa mesma está desenvolvendo, o Harmony OS, porque disse que deseja continuar a manter um bom relacionamento com o Google, do grupo Alphabet, que oferecia serviços da plataforma Android nos modelos de smartphones anteriores da companhia.
O Google está entre as diversas empresas americanas que estão buscando permissão do Departamento do Comércio para retomar a venda de componentes à Huawei, de acordo com uma pessoa informada sobre a questão.
As vendas do Mate 30, cujo preço inicial é de 1.099 euros (R$ 5.023,30) serão observadas atentamente, como parte da luta da Huawei por fatia de mercado na Europa, o mercado mais importante para a empresa fora da China.
Um porta-voz da Huawei disse que os celulares chegarão às lojas da Ásia no mês que vem, e depois chegarão à Europa, mas o itinerário específico de vendas da nova linha não estava disponível de imediato.
Adotar um novo sistema operacional é uma tarefa complicada para a maior parte dos usuários de smartphones, e analistas dizem que as companhias ocidentais provavelmente optarão por um novo fornecedor de smartphones se a Huawei perder permanentemente o acesso ao Android.
Embora aparelhos da Huawei estejam virtualmente indisponíveis nos Estados Unidos, as vendas da marca na Europa são competitivas. Em 2018, a Samsung Electronics assumiu a liderança nas vendas de smartphones no continente, com 31% do mercado, seguida de perto pela Apple e Huawei, cada qual com 22%, de acordo com dados da Canalys.
Ainda que a Huawei seja parte da lista de entidades americana há mais de quatro meses, o motivo para que o Mate 30 seja o primeiro smartphone da empresa a ser vendido com uma versão simplificada do Android é que o Google licencia seu sistema operacional para os fabricantes de smartphones em base de modelo a modelo.
Modelos de smartphones da Huawei anteriores ao Mate 30 receberam esse tipo de licença antes que a empresa fosse incluída na lista de restrição, de acordo com uma pessoa informada sobre o assunto.
The Wall Street Journal, tradução de Paulo Migliacci
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