Indústria automotiva alemã busca ganhar impulso no Salão de Frankfurt

Marcas como Toyota, Nissan, GM, Fiat, Renault, Peugeot e Citroën estão ausentes do evento

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Yann Schreiber Daniel Aronssohn
AFP

O salão do automóvel de Frankfurt, abandonado por algumas montadoras e criticado pelos ecologistas, abre as portas à imprensa na terça-feira, com o objetivo de oferecer uma vitrine a um setor alemão debilitado, que busca se renovar com versões elétricas.

Esse evento imperdível, encarnação do poderio alemão que se realiza de 12 a 22 de setembro, está em crise.

Vista do estande da Mercedes-Benz no Salão do Automóvel de Frankfurt 2019 - Eduardo Sodré/Folhapress

As gigantes japonesas Toyota e Nissan, as americanas General Motors e Fiat Chrysler, e as francesas Renault, Peugeot e Citroën, estão ausentes.

Tampouco comparecem a Tesla, da Califórnia, ou as maiores marcas de luxo, como Bentley, Ferrari, Maserati e Rolls-Royce.

"Nunca houve tantos cancelamentos. Não é mais uma exposição internacional, é um salão nacional", lamenta Ferdinand Dudenhöffer, diretor do Center Automotive Research (CAR), sediado na Alemanha.

De acordo com ele, essas dificuldades refletem a imagem de "uma indústria automobilística alemã em crise, que sofreu com o 'dieselgate' (o escândalo dos motores da Volkswagen que trapaceavam em testes de poluição) e em seguida com a transição fracassada para a propulsão elétrica".

Em seu conjunto, o setor automotivo vive um período de turbulências: revoluções tecnológicas que requerem bilhões de dólares em investimentos, guerras comerciais, ameaça de um brexit duro, e, na Europa, a entrada em vigor no ano que vem de limites às emissões de dióxido de carbono que obrigarão as montadoras a eletrificar veículos compulsoriamente.
 
Conjuntura deteriorada

Tudo isso acontece em uma conjuntura deteriorada, com um recuo de 5% no mercado mundial de automóveis no primeiro semestre, destaca o especialista Eric Kirstetter, que destaca a severa queda sofrida pelo setor na China e, em menor medida, na Europa.

Nesse contexto, o salão de Frankfurt vai tentar destacar o aspecto positivo, valorizando os novos modelos elétricos ou híbridos (gasolina-elétrico).

O novo modelo 100% elétrico ID.3, da Volkswagen, e o Porsche Taycan, um carro esporte elétrico que promete ir de 0 a 100 km/h em menos de três segundos, podem ser as estrelas do salão, que recebeu 800 mil visitantes em 2017.

O mercado dos veículos puramente elétricos, favorecidos pelos poderes públicos na China e Europa, vem dobrando a cada ano no planeta, ainda que continue a ser marginal e esteja sob claro domínio da Tesla. Na Europa, as vendas de carros elétricos respondem por 2% do mercado.

Nesse mercado promissor, os alemães estão em desvantagem. Por exemplo, a BMW não teve o sucesso esperado com o modelo urbano i3, e não tem um sedã de grande porte como o Tesla em seu catálogo,
E a Mercedes e a Audi mal se lançaram no setor.

Já a Volkswagen - que deseja restaurar sua imagem depois do "dieselgate" - prometeu US$ 30 bilhões em investimento em versões elétricas, uma aposta industrial arriscada se não surgir demanda consequente.
 
Hostilidade

Mesmo assim, o caso "dieselgate" segue vivo. Três semanas depois do salão de Frankfurt, começará na Alemanha um grande julgamento no qual 400 mil clientes exigem reembolso pelo preço de seus veículos.

Os clientes se consideram como vítimas da manipulação dos motores, admitida pela empresa, que pretendia fazer com que seus veículos parecessem menos poluentes.

Desde esse escândalo, cresceu a hostilidade entre os ecologistas contra o setor automobilístico. Entre 15 mil e 20 mil manifestantes, de acordo com a polícia, planejam ir a pé ou de bicicleta ao local do salão de Frankfurt, no sábado, para exigir uma "revolução" nos transportes. E centenas de militantes pretendem bloquear o Salão no domingo.

Na Alemanha, a indústria automobilística e suas centenas de milhares de empregos deixaram de ser intocáveis. Políticos e empresários sofrem pressão para agir contra o aquecimento global, em um contexto de manifestações semanais de ecologistas e de avanço do Partido Verde nas eleições.

AFP, tradução de Paulo Migliacci

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