A demissão de Marcos Cintra da secretaria da Receita Federal divide opinião de analistas financeiros sobre seus efeitos na reforma tributária e na equipe econômica. Alguns dizem acreditar que a saída de um dos maiores defensores de uma nova CPMF possa destravar a reforma. Outros temem que o ministro da Economia, Paulo Guedes, siga com a tentativa de implementar o imposto sobre transações financeiras.
De acordo com reportagem da Folha desta quinta-feira (12), a equipe do ministro não desistiu da proposta e seguirá com os estudos e calibragens de alíquotas do imposto.
"Resta saber se o ministro da economia, Paulo Guedes, seguirá defendendo a volta da CPMF e como irá adequar seu discurso em face à queda de Cintra. Além de Cintra, Guedes sempre foi um árduo defensor do retorno da CPMF ", afirma relatório da XP Investimentos.
A corretora também demonstra preocupação com o envolvimento do presidente Jair Bolsonaro (PSL) na equipe econômica, já que a decisão de exonerar Cintra partiu dele.
"A despeito de entendermos que a volta da CPMF não seria uma boa opção por se tratar de um imposto essencialmente regressivo, acreditamos que o envolvimento presidencial direto em decisões ministeriais não é saudável para a Economia e possui o potencial de contaminar o canal de formação de expectativas dos agentes de mercado".
Também há a preocupação do mercado com o andamento da reforma Tributária, tida como a mais importante depois da nova Previdência.
"Paulo Guedes passou o mês de agosto articulando a favor do novo tributo. Tudo foi água abaixo. Agora, a apresentação da proposta governista deve tardar ainda mais. Guedes quer uma maneira de desonerar a folha de pagamento, mas os parlamentares já demonstraram que qualquer tributo, mesmo que tenha contrapartida, não será aceito. Sem a desoneração, não está claro o que o Executivo tem a contribuir para a reforma", afirma relatório da Guide Investimentos.
Para Conrado Magalhães, analista político da corretora, sem a CPMF, a reforma deixa de ser do Ministério da Economia e passa a ser da Câmara dos Deputados, cuja proposta ele vê como a mais provável de ser aprovada.
"Vai ser uma reforma rasa, apenas com unificação de tributos. O Guedes precisa enxergar que qualquer proposta de novo tributo não passa no Congresso", disse Magalhães.
Já a Wagner Investimentos aponta que a saída de Cintra pode acelerar a tramitação da reforma, especialmente com expectativa de que o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, fique responsável pela articulação.
A Bolsa brasileira não teve oscilações com a queda de Cintra durante o pregão de quarta (11) e fechou em alta de 0,4%.
Nesta quinta, o Ibovespa segue em alta, na esteira da valorização das principais Bolsas globais após o Banco Central Europeu (BCE) cortar, mais uma vez, os juros na União Europeia, como forma de estímulo à economia.
Na manhã desta quinta, o BCE cortou a taxa de juros em 0,1 ponto percentual, para uma mínima recorde de -0,5%. O órgão prometeu que as taxas permaneceriam baixas por mais tempo e disse que reiniciaria as compras de títulos a um ritmo de € 20 bilhões por mês.
Por volta das 14h47, a Bolsa sobe 1%, a 104.4473 pontos, maior patamar em dois meses. O dólar chegou a recuar para R$ 4,028 pela manhã, mas, no momento, é cotado a R$ 4,056.
"A sinalização do Bolsonaro contra a CPMF, que é um imposto impopular, é muito positiva, mas o mercado segue em compasso de espera para ver os desdobramentos da demissão de Cintra. Agora, Guedes é a vidraça da reforma tributária, a qual ele deve continuar a defender nos mesmo moldes", afirma Thomaz Fortes, gestor de fundos da Warren.
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