Vizinhos vão compartilhar compras no futuro próximo, diz construtor

Para um dos principais empresários do setor, internet das coisas vai mudar a forma de morar

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São Paulo

Nos próximos cinco anos, a forma como as pessoas se relacionam com suas casas e seus vizinhos vai mudar de forma acelerada, diz um dos principais empresários brasileiros do setor de construção.

Segundo Rubens Menin, que fundou a MRV (maior construtora do Minha Casa, Minha Vida) e comprou uma empresa de habitação nos EUA, há um crescimento no número de famílias que optam por alugar em vez de comprar a casa própria.

Há dois motivos para isso, um cultural e outro econômico. De um lado, novas gerações preferem ter mais flexibilidade em vez de imobilizar recursos num apartamento. Por outro lado, elas também não têm a poupança necessária para comprar imóveis.

Isso levou o grupo a abrir uma nova empresa no Brasil, chamada Luggo, que constroi para alugar e não para vender e já tem imóveis em Pirituba (na cidade de SP), Campinas,  Curitiba e Belo Horizonte. 

Mas haverá mudanças também na convivência entre vizinhos, diz o empresário. Hoje eles já compartilham lavanderias únicas e salas gourmet, mas a tendência deve se aprofundar.

Com a maior velocidade no tráfego de dados trazida pela tecnologia 5G, vai crescer o uso de inteligência artificial e internet das coisas, baixando muito o custo de condomínios que se unirem para fazer compras conjuntas, com escalas de entrega otimizadas.

Menin, que diz que as empresas brasileiras precisam investir em tecnologia para se manterem competitivas com as gigantes globais, e que o Brasil precisa se unir politicamente para ter sucesso (leia a entrevista aqui), falou sobre sua visão do futuro da habitação.

O empresário Rubens Menin - Bruno Santos/Folhapress

Sua função principal é pensar em estratégias para o futuro. O que deve acontecer em construção?  

Imagina o que vai ter de dados rodando! Nos próximos cinco anos, as pessoas vão ter que se agrupar, ou vão pagar um preço muito caro. 

No seu conjunto de apartamentos, a compra da banana, do leite, do jornal, vai ser agrupada, e a internet das coisas vai programar a entrega, de forma mais eficiente e barata.

A locomoção vai ser compartilhada. 

Quando a MRV começou há 40 anos tinha que haver quarto e banheiro de empregada nos apartamentos. 

Hoje, nem a lavanderia está dentro de casa, e a própria cozinha vai ser diferente. Por outro lado, o trabalho em casa será mais frequente e será preciso haver um lugar para trabalhar. 

Isso tudo vai mudar em cinco anos, numa rapidez fantástica.

 

Decisões que você toma hoje já levam isso em conta?  

Só como exemplo, um ponto em que fomos pioneiros no mundo, o da energia fotovoltaica. Daqui a cinco anos, quem não entregar um prédio com fotovoltaica está fora, por isso já entregamos hoje, para a baixa renda, inclusive. Mesmo que custe mais. Porque em cinco anos será fundamental.

É preciso antever. Como plug na garagem, lavanderia coletiva. Vai ter que ter serviço.

O grupo abriu a Luggo, que constrói para alugar. É para responder às perdas da classe média? 

Também. Dizem que os millennials [geração nascida nas décadas de 1980 e 1990] não querem investir para morar, mas eles também não têm poupança. É uma questão de estilo e de necessidade. O aluguel avança nos EUA, uma mudança enorme em relação ao sonho da casa própria.

No Brasil também está acontecendo; há famílias que têm renda, mas não têm poupança. Você tem um bom emprego, mas precisa trocar o carro, ou nasceu um filho, ou teve um problema de saúde. A Luggo vai crescer, mas é um jogo longo. Vai chegar à plenitude em cinco anos. 

Internacionalizar-se é o próximo passo? [o empresário comprou uma empresa que constrói condomínios para alugar nos EUA] 

Os EUA são um mercado com demanda enorme, mas a tecnologia de construção para baixa renda é mais desenvolvida no Brasil. Por isso a gente acha que vai surfar bastante lá. Está havendo uma monopolização do mundo, e, se você não tiver muita tecnologia você não vai conseguir competir.

A estratégia tem que ser estar em todos os mercados em que se pode absorver a melhor tecnologia, e os EUA são o melhor lugar.

Nos próximos anos, os problemas de habitação vão ser resolvidos pelas grandes plataformas e a MRV tem que estar presente nisso.

Que grandes plataformas o preocupam? 

Os que chamo de “bolsos profundos” —Google, Facebook, Amazon. Esses caras têm muita tecnologia, muito dinheiro e estão dominando o mercado. E agora querem dominar o mundo.

A gente precisa estar ligada a isso de alguma forma. O banco Inter se associou com o Softbank, que não só é um bolso muito grande como é uma conexão para esse mundo digital. Ele nos colocou no mundo. Pelo tamanho da economia, o Brasil é o país que tem menos multinacionais. A gente tem que pensar diferente.

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