Brasil desperdiça 44 mil km de rios que poderiam ser utilizados para transporte

País utiliza apenas 30,9% de sua malha hidroviária para navegação comercial

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São Paulo

O Brasil desperdiça 44 mil quilômetros de rios que poderiam ser utilizados para navegação comercial, segundo estudo feito pela CNT (Confederação Nacional do Transporte).

O país utiliza apenas 30,9% de sua malha potencialmente navegável, de acordo com a pesquisa divulgada nesta quarta-feira (2). Enquanto China e Estados Unidos possuem, respectivamente, 11,5 km e 4,2 km navegáveis por 1.000 km² de área, o Brasil dispõe apenas de 2,3 km.

Os motivos pelos quais o país subutiliza seu potencial são entraves de infraestrutura, burocracia, baixa efetividade de planos e programas e reduzido volume de recursos investidos no setor ao longo dos anos, indica a CNI.

Ao explorar cada uma das razões pela ineficiência no setor, a entidade afirma que o país ainda não possui de fato hidrovias, considerando as estruturas necessárias para navegação.

Embarcação no rio São Francisco em Juazeiro, na Bahia
Embarcação passa pelo rio São Francisco em Juazeiro, na Bahia - Fernando Donasci - 25.nov.2010/Folhapress

"Emboras as vias navegáveis no Brasil sejam chamadas de hidrovias, o país não tem, de fato, hidrovias nos moldes que esse tipo de infraestrutura requer. O sistema Tietê-Paraná é o que mais se aproxima de uma hidrovia", diz trecho do documento.

A explicação da CNT está no fato de que as vias interiores hoje podem ser navegáveis por suas características naturais, e não por terem tido melhorias, com dragagem e derrocamento (retirada de material submerso que impede a navegação, como rochas) ou por possuírem terminais, eclusas e monitoramento.

Embora o transporte de cargas pelo modal hidroviário tenha crescido nos últimos anos, a malha diminuiu, ainda segundo o estudo.

 

"O volume de cargas transportadas pelo modal hidroviário cresceu 34,8% entre 2010 e 2018, passando de 75,3 milhões de toneladas para cerca de 101,5 milhões de toneladas."

Em 2016 (última informação disponível), porém, a extensão das vias interiores utilizadas no país era 11,7% menor do que a utilizada em 2013, e 7,1% inferior à dos anos 2010 e 2011.

"A redução na extensão navegada é explicada por questões naturais e climáticas (tais como os déficits de precipitação pluviométrica e os baixos níveis hidrométricos em determinadas regiões), mas também pela falta de confiança quanto à navegabilidade de alguns trechos", diz o documento.

A avaliação da entidade é que as mudanças de gestão desse modal no país têm prejudicado o desenvolvimento do segmento. Entre 1907 e 2019, o setor hidroviário passou por mais de 20 alterações na sua gestão.

 

Além disso, enquanto a gestão de outros modais é mais concentrada, no setor hidroviário há hoje ao menos dez entidades de relevância na sua administração, e pelo menos outras 30 com papel secundário.

 

Sobre investimentos, o estudo aponta que, entre 2011 e 2018, os aportes na navegação interior representaram apenas 10,6% do valor estimado em planos do governo.

Se observados os recursos investidos ao longo do tempo, há uma tendência de queda. Enquanto o ano de 2009 foi o ápice de aportes no modal, com R$ 831 milhões, em 2018, o montante foi de R$ 173,7 milhões.

"O Plano [CNT de Transporte e Logística 2018] estima que o investimento mínimo necessário para a navegação interior no Brasil corresponde a R$ 166,4 bilhões, em 367 projetos. Ao analisar os planos, políticas e programas federais vigentes que contemplam o setor, percebe-se que os montantes previstos são 14,7% inferiores às necessidades indicadas no Plano CNT", diz a entidade.

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