Descrição de chapéu Financial Times

Detentores de títulos argentinos se preparam para grandes perdas

Eles se reuniram com uma equipe de funcionários do FMI para discutir as perspectivas após as eleições

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Nova York e Washington | Financial Times

Os detentores de títulos da Argentina estão se preparando para perdas acentuadas quando o governo tentar atacar sua dívida de US$ 101 bilhões após reuniões desanimadoras com autoridades do FMI e associados de Alberto Fernández, o líder na disputa presidencial, em Washington na semana passada.

O presidente argentino Maurício Macri
O presidente argentino Maurício Macri - REUTERS

Mais de 20 detentores de títulos se reuniram com uma equipe de funcionários do FMI para discutir as perspectivas para a Argentina antes das eleições gerais no país, no próximo domingo (27).

As autoridades disseram que precisariam ter a garantia "com alta probabilidade" de que a dívida do país é sustentável, uma referência às condições técnicas do FMI para prorrogar novos fundos em um programa renegociado, de acordo com um detentor de títulos presente na reunião.

Os participantes interpretaram os comentários do FMI como significando que os detentores de títulos sofreriam perdas em seus investimentos, o que é chamado de "corte de cabelo", segundo pessoas informadas sobre as discussões. "O FMI não quer um corte de cabelo pequeno, mas grande", disse o detentor de títulos, acrescentando que o FMI não quer ser acusado de usar dinheiro público para socorrer credores.

Fernández deve vencer o atual presidente, Mauricio Macri, nas eleições presidenciais de domingo. Os esforços de Macri para introduzir reformas de mercado na Argentina não decolaram, levando a uma ajuda recorde do FMI de US$ 57 bilhões no ano passado.

Fernández, o peronista de esquerda que concorre com a ex-presidente Cristina Kirchner, já havia endossado uma reestruturação no estilo uruguaio, na qual os detentores de títulos dão ao governo mais tempo para pagar suas dívidas, sem um corte de cabelo explícito.

Mas esse tipo de reestruturação parece cada vez mais improvável para alguns gestores de fundos, porque eles dizem que os dados apontam para um país que enfrenta um problema de solvência, e não apenas uma falta imediata de fundos disponíveis.

Analistas calculam que a dívida do país chegará a 100% do PIB em breve, provocada pela forte queda do peso após as eleições primárias em agosto, o que prejudicou a capacidade do país de pagar seu enorme estoque de dívida em moeda estrangeira.

Autoridades graduadas do FMI ainda não se comprometeram publicamente com um curso de ação específico sobre o resgate argentino.

"Temos que fazer uma avaliação abrangente da política fiscal para dar uma estimativa [mais definitiva] da sustentabilidade da dívida", disse Alejandro Werner, diretor do departamento do Hemisfério Ocidental no FMI. "Fazemos isso no contexto de cada revisão de nossos programas... em que temos uma visão clara do quadro macroeconômico e criamos políticas públicas para os próximos cinco anos."

O FMI disse que nem Trevor Alleyne, representante do Fundo em Buenos Aires, nem quaisquer outras autoridades fizeram referência a um corte de cabelo para investidores na reunião da semana passada.

Guillermo Nielsen, assessor econômico de Fernández, reconheceu a situação financeira desagradável em um jantar em Washington na sexta-feira (18). Nielsen endureceu sua posição sobre quanta dor precisaria ser infligida aos credores, segundo pessoas com conhecimento da discussão. Ele também sugeriu que um governo Fernández não agiria agressivamente para livrar o país de seu déficit fiscal, como estipulado no atual programa do FMI.

Sem uma promessa firme de Fernández de que ele se comprometerá com a disciplina fiscal, os investidores poderão acabar recuperando menos de US$ 0,40 de cada dólar quando o país eventualmente reestruturar suas dívidas, dizem analistas.

Os investidores saíram das duas reuniões com a opinião de que "o clima para a Argentina... hoje está muito menos positivo que antes", disse uma pessoa que falou sob a condição do anonimato.

Enquanto isso, alguns dos maiores detentores de títulos da Argentina também se reuniram para discutir informalmente sua estratégia para as próximas negociações com Fernández, caso ele vença as eleições de domingo.

Representantes de Greylock Capital, Pimco e Pharo Management estavam entre os presentes. Vários convivas no jantar defenderam uma prorrogação da maturidade da dívida e alertaram que um corte de cabelo muito severo afastará efetivamente a Argentina dos mercados de títulos por vários anos, de acordo com uma pessoa informada das discussões. Os credores ainda não formaram um comitê nem contrataram consultores financeiros e jurídicos.



Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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