Economista da Verde está animado com recuperação, mas colegas defendem mais reformas

Daniel Leichsenring diz que famílias brasileiras acumularam 'poupança precaucional' devido a incertezas econômicas

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São Paulo

Enquanto o economista-chefe da Verde Asset Management, Daniel Leichsenring, afirma estar muito animado com a economia brasileira, a situação do país ainda é vista com cautela por outros analistas que participaram, nesta quinta-feira (24), de uma série de debates durante evento organizado pela revista The Economist.

Além de destacar a mudança na visão da sociedade e do Congresso Nacional em relação à agenda de reformas econômicas, Leichsenring afirmou que as famílias brasileiras acumularam uma “poupança precaucional”, por conta das incertezas geradas pela recessão e o baixo crescimento da economia nos últimos anos, que pode contribuir para uma recuperação adicional do PIB (Produto Interno Bruto) de até 2%.

“As famílias também tiveram de conter gastos. Estimamos que a poupança das famílias cresceu 5 pontos percentuais e, se ela cair um ou dois pontos, o consumo pode crescer mais só com a redução dessa poupança precaucional”, disse.

Ele destacou também os efeitos esperados com a queda da taxa básica de juros (Selic), que projeta em 4,5% neste e no próximo ano.

“Estou animado com a economia brasileira nos próximos anos, muito animado. A gente virou a página. É só uma questão de esperar”, afirmou Leichsenring.

A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, disse estar um pouco mais preocupada que o colega da Verde em relação à recuperação da economia. Para ela, as famílias ainda estão endividadas e cautelosas por conta do risco de desemprego.

Além disso, o Brasil tem uma série de problemas estruturais e fiscais que independem do nível da taxa básica de juros. Ela cita a capacidade ociosa das empresas e a dificuldade de algumas companhias para tomar crédito barato, além da defasagem do parque industrial e da perda de competitividade do setor, como fatores que travam uma recuperação mais rápida.

“A gente está em tempos de plantar. O de colher é mais à frente.”

A economista Ana Carla Abrão Costa, do escritório Oliver Wyman, afirmou que o Brasil não irá crescer de forma expressiva nos próximos anos, mas a taxas tímidas e consistentes. “Sou cautelosamente otimista.”

A economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, afirmou que o país ainda tem muito o que fazer na área fiscal e na melhoria do ambiente de negócios, entre outros desafios para os próximos anos.

Disse que a agenda de reformas ainda é extensa e que não será possível negligenciar, por exemplo, lacunas deixadas pela reforma da Previdência, como tratar das regras para servidores estaduais e municipais.

“A gente não terminou o trabalho. Precisamos voltar no ajuste fiscal, recuperar o grau de investimento. Temos de melhorar o ambiente regulatório.”

Marcos Lisboa, presidente do Insper e colunista da Folha, afirmou também que a reforma da Previdência não encerra as medidas necessárias para o que o país volte a crescer e disse que ainda há risco de a recuperação vista atualmente ser abortada.

Para ele, não são duas ou três reformas que vão transformar o Brasil em uma Nova Zelândia, país tido como exemplo por vários economistas. Será necessário tocar uma agenda imensa, de cinco, dez anos, o que inclui, inclusive, mudar a jurisprudência em algumas questões.

Lisboa citou como exemplo das dificuldades a reforma tributária. “Tinha tudo para andar esse ano, mas parou por atrapalhamento do governo e por causa de lideranças do setor privado”, disse, citando empresas de serviços e varejo, que rejeitam pagar alíquota similar à dos demais setores.

Outro debatedor, o economista Eduardo Giannetti, também afirmou que a Previdência dá conta apenas de um pedaço do que o Brasil precisa fazer na área fiscal. 

Para ele, o país terá de enfrentar, principalmente, duas questões: fazer a reforma administrativa para frear os gastos com funcionalismo e rever a política de valorização do salário mínimo, para que seja possível aumentar os investimentos, incluindo nas áreas de saúde e educação.

“Tanto a Previdência como a queda dos juros ajudam a estabilizar a dívida, mas estão longe de resolver o problema. É um risco achar que com isso está resolvido”, disse Giannetti.

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