Vice de operações do Credit Suisse se demite por escândalo de espionagem

Banco considerou seu presidente-executivo Tidjane Thiam inocente

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Bloomberg

O Credit Suisse Group considerou seu presidente-executivo Tidjane Thiam inocente, mas um dos principais subordinados dele assumiu a culpa por um escândalo de espionagem empresarial que abalou a elite financeira de Zurique e manchou a reputação do banco.

O vice-presidente de operações Pierre-Olivier Bouée, braço direito do presidente-executivo em três empresas por mais de dez anos, pediu demissão, depois de ordenar que detetives seguissem Iqbal Khan, antigo comandante da divisão de gestão de patrimônio do banco, para garantir que ele não tentasse roubar clientes ou contratar ex-subordinados para seu novo empregador, o UBS Group.

O banco disse que Bouée agiu sozinho, sem informar Thiam ou o conselho de suas intenções.

Embora o presidente do conselho do Credit Suisse, Urs Rohner, tenha declarado que Thiam ainda tem a confiança do conselho, o escândalo gera o risco de isolar o presidente-executivo, por ter permitido que uma desavença pessoal crescesse até se tornar um escândalo que prejudicou a reputação do Credit Suisse e do setor bancário suíço em geral.

Rohner negociou pessoalmente a saída de Khan e assumiu o controle da investigação, e Thiam perdeu um aliado de confiança.

Os acontecimentos se tornaram ainda mais dramáticos pouco antes do anúncio do banco, quando surgiu a informação de que um prestador de serviços contratado para recrutar a agência de investigação havia se suicidado.

O homem —conhecido apenas como T— tirou a própria vida na terça-feira, de acordo com Thomas Fingerhurth, advogado da agência de detetives Investigo.

Os procuradores públicos e a polícia de Zurique estão conduzindo novas investigações agora para "esclarecer as circunstâncias em torno de sua morte".

O banco anunciou que sua investigação tampouco havia encontrado provas de que Khan tivesse tentado aliciar pessoal. O escritório de advocacia Homburger, encarregado de investigar o caso, não estudou a desavença pessoal entre Thiam e Khan e disse que parte da correspondência entre eles havia sido apagada.

Sede do Credit Suisse em Zurique
Sede do Credit Suisse em Zurique - REUTERS

Rohner adotou um tom contrito em uma entrevista coletiva em Zurique na terça-feira, pedindo desculpas a Khan e sua família e aos empregados de seu banco, e expressando pesar pela morte do prestador de serviços.

Ao mesmo tempo, ele evitou responder perguntas quanto a se assumiria qualquer responsabilidade pessoal por uma ação que o Credit Suisse caracterizou como "errada e desproporcional, e que resultou em danos severos à reputação do banco".

"Embora seja compreensível que empresas recorram aos serviços de terceiros para monitorar empregados, especialmente quando operam em um mercado altamente competitivo e houve um rompimento de relacionamento, é inaceitável invadir a vida privada de indivíduos", disse Bambos Tsiattalou, um advogado de defesa criminal no escritório de advocacia Stokoe Partnership.

"As pessoas informadas sobre atividades dessa natureza deveriam ser responsabilizadas por qualquer delito que venha a ser exposto".

A demissão de Bouée faz com que Thiam perca um confidente muito próximo, cuja carreira sempre acompanhou a sua de muito perto.

Os dois se transferiram para a seguradora Prudential em 2008, vindos da Aviva, onde haviam trabalhado juntos por cerca de quatro anos. Bouée começou sua carreira no Tesouro francês, antes de se transferir para a consultoria McKinsey, onde Thiam trabalhava, em 2000.

"O vice-presidente de operações disse que ele, agindo sozinho e a fim de proteger os interesses do banco, decidiu iniciar a observação de Iqbal Khan", afirmou o banco.

A investigação "não identificou qualquer indicação de que o presidente-executivo tenha aprovado a observação".

Bouée foi apontado como chefe de gabinete de Thiam no Credit Suisse em 2015 e mais tarde se tornou vice-presidente de operações, responsável por operações mundiais, informática e segurança.

No exercício dessas funções, qualquer trabalho oficial de vigilância era parte de suas atribuições.

O banco anunciou hoje que havia aceitado também a renúncia imediata de seu diretor mundial de serviços de segurança.

James Walker, que detém postos importantes na área de finanças do Credit Suisse, será o novo vice-presidente de operações e se tornará parte da diretoria executiva do banco, imediatamente.

O escândalo também revelou a escassez de candidatos ao posto de presidente-executivo, depois da saída de Khan.

CEO do Credit Suisse Tidjane Thiam
CEO do Credit Suisse Tidjane Thiam - REUTERS

O UBS foi estimulado a iniciar uma busca por executivos com o potencial de substituir Sergio Ermotti, alguns meses atrás, depois da saída de alguns dirigentes importantes, como Andrea Orcel e Juerg Zeltner.

Embora seja comum que bancos tentem impedir que empregados que saiam da empresa recrutem antigos colegas, o caso de espionagem abalou a reputação de profissionalismo discreto da Suíça e gerou questões sobre quem ordenou a vigilância e quem estava informado a respeito.

O respeitado escritório de advocacia Homburger foi encarregado pelo Credit Suisse de conduzir a investigação.

Thiam não está sendo responsabilizado pelo drama, mas foi criticado quando surgiu a informação da desavença entre ele e Khan.

Os dois são vizinhos no bairro rico de Herrliberg, no subúrbio de Zurique, e Khan desfrutou de uma rápida ascensão nas fileiras do Credit Suisse e foi promovido por Thiam ao comando de uma divisão-chave.

Mas o relacionamento entre eles se deteriorou este ano e o racha era um segredo conhecido de todos no Credit Suisse já há meses.

Em janeiro, eles brigaram durante uma festa na casa de Thiam, disseram pessoas informadas sobre a situação. A disputa se agravou, misturando aspectos pessoais e profissionais.

Os dois teriam se desentendido em função de problemas relacionados às suas casas, vizinhas, e sobre as perspectivas de carreira de Khan depois de uma reorganização empresarial que viu a promoção de dois colegas dele.

Em julho, ele decidiu deixar o banco e no mês seguinte aceitou uma proposta do UBS.

Um dos principais investidores no banco defendeu Thiam de críticas, entre as quais algumas vindas de Oswald Gruebel, ex-presidente executivo do Credit Suisse, e alertou que derrubá-lo do posto prejudicaria o banco.

"Apoiamos plenamente as ações do comando do Credit Suisse, de tomar quaisquer medidas legais necessárias para proteger a empresa, e acreditamos que seria prejudicial para o Credit Suisse e todas as partes interessadas a perda de qualquer membro do primeiro escalão executivo da empresa em função dessa questão", disse David Herro, vice-presidente da Harris Associates, de Chicago, antes da decisão.
 
Tradução de Paulo Migliacci

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