Ainda sem lucro, serviço de carona do Waze mira empresas para crescer

Parcerias com setor privado e universidades representam 30% das corridas no Brasil

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São Paulo

O serviço de caronas do aplicativo de mapas Waze, o Carpool, completou um ano e dois meses no Brasil com dois milhões de corridas e o desafio de gerar lucro no longo prazo.

Em São Paulo para um evento de mobilidade, Noam Bardin, presidente do Waze, reuniu jornalistas nesta terça-feira (5) para anunciar a chegada à marca e algumas parcerias com o setor público.

O número de corridas não tem base comparativa, visto que o lançamento em outros países ocorreu em datas diferentes da do Brasil. Os outros lugares que contam com o Pool são Israel, de onde vem o app, Estados Unidos e México.

As empresas, segundo executivos, representam um dos maiores meios para o crescimento do serviço de caronas. As parcerias com entidades e o setor privado respondem por 30% das corridas no país, de acordo com Douglas Tokuno, responsável pelo produto no Brasil.

Noam Bardin, presidente da companhia, e Thais Blumenthal, líder global do Waze for Cities Data
Noam Bardin, presidente da companhia, e Thais Blumenthal, líder global do Waze for Cities Data - Waze

“A carona pode entrar como uma política das empresas, já que a mobilidade é um dos maiores custos que elas têm hoje. Há formas de incentivar os funcionários a usarem o serviço e permitir a redução do custo do estacionamento, por exemplo”, afirma.

O Banco do Brasil, maior parceiro para os serviços, adotou um programa de incentivo que dá aos 50 maiores caroneiros estacionamento gratuito por um mês, segundo Tokuno. Outras companhias que aderiram ao produto são TIM e IBM, além de universidades.

Com base nos funcionários do Banco do Brasil, o Waze elabora o primeiro estudo para entender quem são os usuários do Carpool. Ainda não há dados que apontem para o impacto do projeto em relação à mobilidade urbana —se o usuário trocou o metrô pela carona, por exemplo, não necessariamente serviu a uma estratégia eficaz de transporte.

Hoje, o Carpool tem um subsídio artificial da empresa e o passageiro paga menos do que o motorista recebe. No longo prazo, segundo o presidente, o Waze pretende ficar com uma parte da transação para tentar monetizar com o produto.

“Estar no Google nos permite ter projetos como esse, mas é um longo caminho para termos mudança de comportamento [e as pessoas usarem carona]”, afirmou ​Bardin à Folha. O Google comprou o Waze em 2013 por US$ 1 bilhão.

Segundo ele, a empresa está atrás de companhias fortes, com centenas ou milhares de empregados, e que se importem com sustentabilidade, mas ainda não há “um perfil exato”. O maior desafio, ele diz, é fazer as pessoas pegarem a primeira carona. 

A ideia não é transformar o serviço de caronas em uma alternativa de emprego, como virou o Uber no Brasil, diz Bardin. Mesmo que os motoristas não paguem o combustível com a carona, não chegam a lucrar.

"Neste momento, não estamos fazendo dinheiro ou perdendo dinheiro. Estamos pagando para os motoristas mais do que eles coletam dos caroneiros. Temos que fazer essa mudança de comportamento. No longo prazo, poderemos pegar uma parte da transação, mas acreditamos que somos o software no meio."

Para o Waze, uma das estratégias é incluir anúncios no app do passageiro, firmar novos tipos de parceria e, no longo prazo, ter um modelo que seja referência para conectar pessoas e seus carros.

Em parceria com a prefeitura de São Paulo, a empresa anunciou nesta terça a instalação de quatro totens de embarque e desembarque, locais em que passageiros encontram o motorista, e uma área de parklet, extensão da calçada para servir de referência aos usuários do serviço.

Também fez uma parceria recente com o aplicativo Moovit, que passou a mostrar se o Carpool é vantajoso frente a outros meios de transporte público, como ônibus ou metrô.

Informar sobre blit​zes é direito a informação, diz Waze

Durante o evento, o presidente do Waze comentou ainda sobre críticas que o aplicativo recebe ao fornecer informações sobre a localização de policiais, especialmente aqueles dedicados a flagrarem condutores alcoolizados

Para a empresa, a informação sobre a presença policial é vista como uma questão de direito a informação dos motoristas. 

Segundo Noam Bardin, a maior parte dos policiais quer ser visto e quer que sua presença resulte na condução mais responsável pelos motoristas.

Trânsito próximo ao viaduto Alcântara Machado - Danilo Verpa-6.set.19/Folhapress,

"A maioria das polícias no mundo querem que as pessoas dirijam devagar. Então, por isso, as polícias querem que você saiba onde eles estão. Eles não querem te pegar, eles querem que você dirija devagar. Nós temos o apoio de muitas polícias, nesse sentido", disse. 

No caso específico de São Paulo, representantes da empresa já foram cobrados por gestores públicos a retirarem este recurso de alerta. 

Questionado especificamente sobre motoristas alcoolizados que usam o aplicativo para fugir de blitzes, Noam admite que o serviço é muito popular entre os usuários e que o seu uso, como qualquer tecnologia, pode ser feita para o bem ou para o mal. Ele diz ainda avaliar com polícias locais como encontrar um equilíbrio entre a informação ao motorista e a operação das forças de segurança. 

Thais Blumenthal, líder global do Waze for Cities Data, citou um estudo feito há quatro anos na capital americana que teria concluído que, quando motoristas vêem um carro da polícia, eles reduzem a velocidade. 

"Acho que tem a questão de expressão do usuário. Tirar todas as funcionalidades de comunicação que têm no aplicativo hoje, eu garanto que daqui a pouco vai haver outro aplicativo fazendo a mesma coisa."

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