Curitiba atrai migrantes da tecnologia que querem desafio e qualidade de vida

Novo polo tech, capital paranaense busca profissionais para suprir escassez local de especialistas

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Curitiba

O crescimento do mercado de tecnologia em Curitiba (PR) nos últimos anos tem levado à migração de profissionais para a cidade. A escassez de especialistas qualificados na área, que demanda cada vez mais mão de obra, e a busca por uma carreira em uma cidade fora do eixo Rio-São Paulo são alguns dos motivos apontados pelas empresas para o fenômeno.


Há seis meses, Gabriel Casteglioni, 32, viu na capital paranaense a chance de crescer na carreira e, ao mesmo tempo, fugir das três horas de trânsito por dia em São Paulo. 

“Hoje pego o carro uma vez por semana para ir ao supermercado”, diz o profissional de engenharia de dados da Pipefy, startup que desenvolve software para gestão do trabalho. 

Gabriel Casteglioni, da Pipefy, que saiu de São Paulo para trabalhar em Curitiba
Gabriel Casteglioni, da Pipefy, que saiu de São Paulo para trabalhar em Curitiba - Brunno Covello/Folhapress

Na equipe dele, de 13 pessoas, só 5 são de Curitiba. “É uma migração muito forte e recente”, diz. Em toda a empresa, por volta de 35% dos 300 empregados são de fora do Paraná. 

A dificuldade maior, como apontam os recrutadores, é encontrar especialistas de TI (tecnologia da informação).


“Tem muita gente iniciando, e há ainda uma imaturidade do mercado brasileiro. Enquanto lá fora essa formação começou já nos anos 1990, aqui se fortaleceu a partir de 2015”, diz Giovanni Riva, da Pipefy, destacando que só mais recentemente Curitiba deslanchou como polo da área.

Enquanto isso, a demanda só aumenta. No Ebanx, fintech global criada em Curitiba e que no mês passado virou um unicórnio (empresa avaliada em US$ 1 bilhão), a ideia é fechar o ano com ao menos mais 50 contratados. Nos últimos dois meses, já foram 57 novos colaboradores —metade de outros estados. 

Ao todo, em sua sede na capital paranaense estão 550 pessoas, das quais 10% vieram principalmente do Sudeste do Brasil e também do Distrito Federal e Rio Grande do Sul.
 

Melina Deraldo, 30, desenvolvedora e líder de equipe do Ebanx, se formou em sistemas de informação em Curitiba e, depois de cinco anos percorrendo o mundo em razão da carreira, viu a chance de voltar para perto da família sem perder profissionalmente.

“Quando saí daqui, o que existiam eram empresas bem burocráticas nessa área, um mercado muito fechado. Hoje, o cenário mudou bastante, há esse movimento forte para pensar fora da caixinha do corporativismo, olhando o que há de novo”, afirma.

Melina Deraldo, que se formou em Curitiba, trabalhou em outras cidades e voltou para a capital paranaense
Melina Deraldo, que se formou em Curitiba, trabalhou em outras cidades e voltou para a capital paranaense - Brunno Covello/Folhapress

“Se a gente achar cem pessoas qualificadas, vamos puxar as cem”, diz Daiane Peretti, líder de pessoas do Olist, loja de departamentos dentro dos marketplaces. Hoje 17% dos cargos são ocupados por profissionais de fora do Paraná.

Ela diz que o preenchimento das posições de gestão é o maior desafio, já que Curitiba ainda carece de qualificação. A importação, nesse caso, ainda é necessária, segundo ela. 

Na Rentcars.com, plataforma de aluguel de carros, o cenário é o mesmo. Todos da direção migraram de São Paulo para a capital paranaense, como Ronaldo Amorim, CFO (diretor financeiro).

“Um grande ponto nesse processo decisório é a qualidade de vida. É uma cidade mais limpa, mais segura.”
Outros 17 estados e seis países estão contemplados no quadro de pessoal da Rentcars, que, nos últimos dois meses, contratou 70 profissionais. Ao todo, 25% dos 300 empregados são de fora.
 

Trabalho remoto

Se o mercado profissional ainda não preenche a demanda das novas empresas curitibanas, elas mesmas se esforçam para formar pessoal.


No Ebanx, as apostas são em palestras, programa de estágio e um projeto que leva programadoras da empresa a escolas para despertar nas meninas o interesse na área.

A partir da integração com a comunidade e a pesquisa, a recrutadora e gestora de talentos da fintech, Beryk Salab, aponta que as instituições de ensino têm incluindo na grade disciplinas com tecnologias que interessam ao mercado.

“As universidades estavam ensinando linguagens de programação mais tradicionais. De uns 
tempos para cá têm mudado, estão ouvindo graças às parcerias com as empresas”, diz.


A Rentcars.com viu na união com agências de desenvolvimento regional, como da Prefeitura de Curitiba, uma saída para ajudar nas contratações. A empresa também promove seis eventos mensais para engajamento de funcionários e possíveis novos colaboradores.


No entanto, a solução mais repetida pelos empresários do ramo de tecnologia em Curitiba ainda está no trabalho remoto, realidade em quase todas as procuradas. Na Pipefy, 25% da equipe não fica no escritório, mas em casa.

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