Descrição de chapéu Financial Times

EUA estudam revogar algumas tarifas de guerra comercial contra China

Para chegar a acordo parcial, Casa Branca retiraria taxas sobre US$ 112 bi de importações

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James Politi
Financial Times

Integrantes do governo Trump estão debatendo se devem revogar algumas tarifas sobre bens chineses como concessão para selar um acordo parcial que poderia resultar em uma pausa na guerra comercial já a partir deste mês.

De acordo com cinco pessoas informadas sobre as discussões, a Casa Branca está estudando retirar as tarifas sobre US$ 112 bilhões em produtos importados da China —entre os quais roupas, eletrodomésticos e monitores de telas planas—, adotadas em 1º de setembro com uma alíquota de 15%.

A ação americana atenderia a uma das demandas centrais de Pequim enquanto os negociadores das duas maiores economias do planeta definem os termos de um cessar-fogo a ser assinado nas próximas semanas entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping.

 

Mas Washington provavelmente esperaria alguma coisa em troca, o que pode incluir um reforço nas cláusulas de proteção à propriedade intelectual para as companhias dos Estados Unidos, mais certeza sobre a escala das compras chinesas de produtos agrícolas americanos, e uma cerimônia de assinatura do acordo em território americano.

A moeda chinesa rompeu por breve período a marca dos sete yuan por dólar, na terça-feira, em reação à notícia sobre a mudança de posição do governo Trump. O progresso nas negociações comerciais entre os Estados Unidos e a China reduziria a pressão sobre Pequim por permitir que o yuan perca força e crie mais proteção contra o impacto da guerra comercial.

O yuan subiu a 6,9996 yuan por dólar na abertura das operações europeias, superando a marca dos sete yuan que havia sido atingida brevemente em 5 de agosto. Na época, o movimento do câmbio causou abalo nos mercados mundiais, por conta de uma piora nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China.

Washington já suspendeu uma elevação planejada de tarifas sobre US$ 250 bilhões em bens importados de 25% para 30%, que deveria ter entrado em vigor em 15 de outubro, depois de uma visita de negociadores chineses à capital americana no começo do mês passado.

Autoridades americanas também indicaram que, caso chegue a acordo com Washington, Pequim poderia evitar a imposição planejada de tarifas sobre US$ 156 bilhões em produtos americanos, principalmente bens de consumo, que deve entrar em vigor em plena temporada de festas, em 15 de dezembro. 

As autoridades em Pequim exigiram que Washington dê mais um passo e retire algumas das tarifas impostas aos bens chineses, pela primeira vez desde o início da guerra comercial nos primeiros meses de 2018, à medida que o acordo limitado entre os dois países se aproxima. Mas representantes do governo Trump vêm resistindo a essa demanda.

Uma pessoa que conhece o assunto acautelou que, embora exista crescente consenso no governo Trump de que é preciso fazer uma concessão quanto às tarifas em vigor, não estava claro se o presidente americano concordaria com isso.

Os planos para que Trump e Xi assinassem o que o presidente americano definiu como “fase um” de um acordo, durante a conferência de cúpula da Asia-Pacific Economic Cooperation, em 17 de novembro no Chile, foram tirados dos trilhos quando o evento terminou cancelado por conta dos distúrbios no país. As autoridades estão tentando encontrar locais alternativos, desde então, e Brasil e Estados Unidos são vistos como as opções mais prováveis;

Dentro do Estados Unidos, os estados do Havaí e Alasca foram mencionados, bem como o Iowa, um estado importante par a eleição presidencial cujas exportações agrícolas foram prejudicadas pela guerra comercial.

Se um recuo quanto a tarifas em vigor for parte da trégua, o acordo teria um impacto econômico positivo mais amplo, em um momento em que as autoridades econômicas de todo o mundo se preocupam com uma desaceleração mundial.

Myron Brilliant, que comanda a área de assuntos internacionais na Câmara de Comércio dos Estados Unidos, uma organização de lobby empresarial, disse que havia incentivos para que tanto a China quanto os Estados Unidos chegassem a um acordo nessas linhas.

“Cada um dos lados decidiu que chegar a um acordo é importante a esta altura, e isso vai exigir algumas concessões. O governo americano vai ter de mostrar alguma coisa quanto às tarifas e os chineses terão de aceitar um capítulo mais robusto sobre propriedade intelectual”, disse Brilliant.

A linha dura em Washington pode objetar que os Estados Unidos perderiam influência caso retirassem tarifas, e que isso exporia Trump a acusações de que ele cedeu com facilidade demais a Pequim, enquanto se prepara para sua campanha de reeleição em 2020. 

Derek Scissors, pesquisador residente no American Enterprise Institute, disse que “no momento, ele [Trump] pode apontar para a queda no déficit comercial com a China como prova de que conseguiu desfazer parte do estrago contra o qual ele conduziu uma campanha tão vigorosa em 2016. Retirar tarifas e ver uma alta no déficit permitiria que os democratas afirmassem que ele mentiu aos eleitores”.

A Casa Branca não quis comentar. O representante dos Estados Unidos para assuntos de comércio internacional e o Departamento do Tesouro americano tampouco quiseram comentar.

Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

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