Descrição de chapéu The New York Times

EUA investigam TikTok por suposto envio de dados à China

Nos últimos 12 meses, app foi baixado mais de 750 milhões de vezes, mais que o Facebook

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Nova York | The New York Times

O governo dos Estados Unidos iniciou uma revisão de segurança nacional sobre a aquisição por uma companhia chinesa da empresa americana que se tornou o TikTok, um app de vídeos curtos imensamente popular, de acordo com pessoas informadas sobre a investigação.

O Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos --um painel federal que revisa aquisições estrangeiras de companhias americanas, para avaliar considerações de segurança nacional-- está revisando a transação realizada dois anos atrás.

Legisladores expressaram preocupações sobre a crescente influência do TikTok nos Estados Unidos, segundo pessoas que falaram sob a condição de que seus nomes não fossem mencionados porque a investigação é confidencial.

Uma das pessoas disse que o governo dos Estados Unidos tinha provas de que o app envia dados à China.

A decisão é a mais recente em uma troca de represálias entre Estados Unidos e China, que estão envolvidos em uma competição mundial pelo domínio tecnológico que começou a provocar um racha no mundo da alta tecnologia e deu início ao que alguns analistas descrevem com uma nova guerra fria.

A ByteDance, uma companhia criada sete anos atrás em Pequim, adquiriu a Musical.ly em novembro de 2017, por entre US$ 800 milhões e US$ 1 bilhão. Na época, a Musical.ly, criadora de um app popular entre adolescentes para a produção de vídeos caseiro de karaokê, tinha cerca de 60 milhões de usuários nos Estados Unidos e Europa.

A ByteDance anunciou que manteria a Musical.ly separada de seus apps chineses. Menos de um ano depois, a ByteDance fundiu a Musical.ly com o TikTok, um serviço semelhante operado por ela, e o resultado se tornou um dos apps de mais rápido crescimento no planeta e um fenômeno cultural mundial.

Nos últimos 12 meses, o app TikTok foi baixado mais de 750 milhões de vezes, mais que o Facebook, Instagram, YouTube e Snapchat, de acordo com o grupo de pesquisa Sensor Tower.

“Embora não possamos comentar sobre processos regulatórios em curso, o TikTok deixou claro que não temos prioridade maior do que conquistar a confiança dos usuários e das autoridades regulatórias dos Estados Unidos”, afirmou um porta-voz da ByteDance em um email. “Parte desse esforço inclui trabalhar com o Congresso, e temos o compromisso de fazê-lo”.

A Reuters havia noticiado anteriormente a revisão da aquisição da Musical.ly pelo painel federal, conhecido como CFIUS.

A China impede que muitas empresas estrangeiras operem online no país, mas empresas chinesas que desenvolveram tecnologias avançadas estão ganhando popularidade em todo o mundo. Muitos legisladores e integrantes do governo Trump veem a tendência como ameaça à segurança nacional e à economia do Estados Unidos e estabeleceram diversas barreiras a fim de impedir que empresas chinesas adquiram companhias de dados e tecnologia americanas.

O governo Trump impediu que a Broadcom, de Cingapura, adquirisse a Qualcomm, uma fabricante de chips americana, e bloqueou transações como a oferta da Ant Financial pela aquisição da Moneygram.

O presidente Donald Trump também colocou a Huawei e outras companhias chinesas de tecnologia em uma lista negra que as impede de adquirir produtos americanos, por motivos de segurança nacional e direitos humanos.

Ele também impôs tarifas sobre mais de US$ 350 bilhões em produtos chineses, em uma guerra comercial provocada ao menos em parte pelo roubo de propriedade intelectual de americanos por grupos chineses.

No TikTok, os usuários criam e compartilham vídeos curtos inventivos e memes bizarros, em uma rolagem infinita de clips naquilo que foi definido como “o canto menos ensolarado da internet”. A vasta maioria das imagens vem de usuários ocidentais, em boa parte porque o TikTok não está disponível na China continental; a ByteDance em lugar dele oferece aos chineses um serviço bastante semelhante chamado Douyin.

Mas as conexões chinesas do TikTok e sua crescente popularidade nos Estados Unidos causaram novas preocupações em Washington, depois de reportagens que destacaram que havia poucos sinais dos protestos em Hong Kong no app, e que moderadores do TikTok haviam sido instruídos a censurar vídeos que contivessem determinados temas políticos.

A ByteDance afirmou que o governo chinês não ordena que ela censure conteúdo do TikTok. O porta-voz afirmou que as normas de conteúdo do site são definidas por uma equipe que opera nos Estados Unidos e não é influenciada por qualquer governo.

“Para ser claro: não removemos vídeos com base na presença de conteúdo sobre os protestos em Hong Kong”, disse um porta-voz da ByteDance.

Um antigo moderador de conteúdo do TikTok disse em entrevista que executivos da empresa nos Estados Unidos haviam instruído os moderadores a ocultar vídeos que incluíssem quaisquer mensagens ou temas políticos, e não apenas os relacionados à China. O moderador falou sob a condição de que seu nome não fosse revelado, porque não desejava se pronunciar publicamente sobre um ex-empregador enquanto está à procura de um novo emprego no setor de tecnologia.

O moderador disse que a regra era permitir que conteúdo político permanecesse nas páginas de perfil dos usuários, mas impedir que fosse compartilhado de modo mais amplo no “feed” principal de vídeo do TikTok. A pessoa disse que, embora os moderadores tivessem sido instruídos a censurar vídeos ousados, como os que mostram mulheres seminuas, em países muçulmanos, ele jamais recebeu instruções explícitas de censurar conteúdo relacionado à China.

O porta-voz da ByteDance disse que a empresa havia recentemente alterado uma regra que restringia vídeos políticos e definiu as regras anteriores como uma abordagem simples com o objetivo de manter o app divertido.

No mês passado, o senador Marco Rubio, republicano da Flórida, enviou uma carta ao secretário do Tesouro Steve Mnuchin, que preside o CFIUS, instando-o a iniciar uma revisão de segurança nacional sobre a aquisição da Musical.ly.

“Continuam a existir indicações amplas e crescentes de que a plataforma do TikTok para os mercados ocidentais, incluindo o dos Estados Unidos, está censurando conteúdo que não esteja alinhado com o governo chinês e as diretivas do Partido Comunista”, escreveu Rubio.

Derek Scissors, pesquisador residente no American Enterprise Institute, uma organização conservadora de pesquisa, disse que as novas diretrizes aprovadas pelo Congresso americano no ano passado sobre dados pessoais claramente indicam que o CFIUS deveria revisar a aquisição. Ele disse que as companhias provavelmente teriam de tomar medidas para convencer o governo de que os dados sobre os americanos estariam seguros.

“É uma grande transação, é uma transação de tecnologia, e envolve usuários americanos sobre os quais dados são transferidos a uma companhia chinesa”, disse Scissors. “Não vejo como eles poderiam escapar sem alguma forma de mitigação”.

A ByteDance vem tentando melhorar seus relacionamentos em Washington, em meio ao escrutínio. O TikTok aderiu à NetChoice, uma associação setorial que combate agressivamente os críticos das empresas de tecnologia. Um funcionário da ByteDance se registrou para fazer lobby em favor da empresa, algumas semanas atrás. A companhia também contratou o poderoso escritório de advocacia empresarial Covington & Burling –cujos clientes incluem o Facebook, entre outros– para agir em seu benefício.

No total, a ByteDance gastou US$ 120 mil em suas operações de lobby federal no trimestre passado, de acordo com um relatório publicado na semana passada.

O TikTok anunciou que estava trabalhando com o escritório de advocacia K&L Gates em suas regras para moderadores e aderiu a uma organização sem fins lucrativos que defende a segurança de crianças online. Em fevereiro, a ByteDance aceitou pagar uma multa de US$ 5,7 milhões à Comissão Federal do Comércio (FTC, na sigla em inglês), para resolver acusações que a Musical.ly havia recolhido ilegalmente informações sobre usuários com menos de 13 anos de idade.

“Nós mal começamos”, disse Bart Gordon, o sócio do K&L Gates que trabalha com a TikTok, na sexta-feira.

Tradução de Paulo Migliacci

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