Lance solo da Petrobras traz efeito negativo no curto prazo, dizem analistas

Especialistas afirmam que o impacto no caixa da petroleira será forte no quarto trimestre

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São Paulo

O lance solo da Petrobras no megaleilão do pré-sal nesta quarta-feira (6) trará efeitos negativos para a petroleira no curto prazo, afirmam analistas. Segundo eles, além da obrigatoriedade do pagamento de 100% do valor devido até o dia 27 de dezembro --que traz dúvidas sobre como a companhia fará o remanejamento do seu caixa --, também houve frustração quanto ao desvio da atual estratégia de redução do endividamento.

O valor arrecadado pelo leilão ficou em R$ 69,9 bilhões, abaixo do previsto pelo governo. O consórcio formado pela Petrobras e as duas petroleiras chinesas, CNOOC e CNODC, pagará R$ 68,2 bilhões pelo direito de explorar a área de Búzios, a maior descoberta de petróleo do país. Sem concorrentes, ofereceu lance mínimo de 23,24% em óleo para o governo. Nos leilões de pré-sal, o bônus de assinatura é fixo e a disputa se dá pela oferta de petróleo ao governo durante a vida útil dos contratos. Os chineses contribuirão com 10% desse valor e pagarão R$ 6,8 bilhões.

Do montante a ser pago pela Petrobras, aproximadamente R$ 34 bilhões virão de uma compensação do próprio governo federal pela renegociação do contrato da cessão onerosa de 2010, restando R$ 35 bilhões a serem pagos pela petroleira.

O logo da Petrobras é visto nas cores verde e amarelo em uma parede cinza
A Petrobras adquiriu duas das áreas no megaleilão do pré-sal - Sergio Moraes/Reuters

De acordo com o analista da XP Investimentos Gabriel Francisco, o valor pago no leilão se refere a um desembolso para investimentos por parte da petroleira e afetará o caixa da companhia apenas no quarto trimestre e de maneira pontual.

“O que desapontou um pouco o mercado foi o fato de essa decisão estar longe das expectativas que existiam sobre o direcionamento que seria dado ao valor em caixa. Mantê-lo em sua integridade seria um posicionamento muito conservador, mas esperava-se que grande parte desses recursos continuasse voltada para o abatimento de dívidas. Esse desembolso muda temporariamente essa dinâmica”, explicou.

A Petrobras encerrou o terceiro trimestre deste ano com R$ 55 bilhões em caixa. Desse total, Gabriel Francisco afirma que apenas aproximadamente R$ 25 bilhões (70% do total a ser pago pela petroleira nos dois blocos de óleo e gás) estão alocados no Brasil.

Após o leilão, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmou que não elevará a dívida da companhia e que fará uso de caixa para o pagamento do bônus da assinatura na aquisição dos blocos.

Segundo o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman, as dúvidas sobre como a Petrobras remanejará seu caixa para cumprir com o pagamento das arrematações também pesam entre os investidores.

“Há uma incógnita na área financeira da companhia no curto prazo, já que se desfazer de mais da metade do montante em caixa é algo considerável. Ainda é preciso entender como a Petrobras planeja fazer esse pagamento em uma tacada só”, diz.

“A estratégia de melhor gestão de caixa e de custos não mudaria daqui para frente, mas também precisamos considerar que quando uma empresa arremata um bloco de petróleo, além de não existir nenhuma contribuição imediata no curto prazo, há também todo um processo de campanha exploratória, construção de novas plataformas ou afretamento que precisará acontecer”, acrescenta Francisco.

Por outro lado, ainda que o pagamento da aquisição pela Petrobras ainda traga incertezas, os analistas destacam que a compra dos dois blocos traz um forte potencial operacional no longo prazo.

Isso, inclusive, explicaria o entusiasmo mostrado por Castello Branco no final de outubro, quando afirmou que entraria para ganhar no leilão referente ao bloco de Búzios. Dos quatro campos, Búzios tem 70% da produtividade.

“Operacionalmente falando, o potencial de angariação de receita para a Petrobras é muito alto com a aquisição desses dois blocos, já que representa um salto produtivo para a companhia. E é isso que nos faz crer que essa pausa na estratégia de otimização e queda de alavancagem é momentânea”, completa Arbetman.

Ao final do pregão de ontem na Bolsa de Valores brasileira, a ação da Petrobras esteve entre as mais negociadas do dia, oscilando entre uma queda de 5% e uma alta de 2%. Encerrou a sessão praticamente estável, com alta de 0,2% e cotada a R$ 29,71.

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