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Maioria dos bancos alemães cobra juros para empresas depositarem dinheiro

Clientes estão pagando para manter o dinheiro no banco; prática é controversa em país no qual o BCE foi acusado de punir os poupadores

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Martin Arnold Olaf Storbeck
Frankfurt | Financial Times

Quase 60% dos bancos alemães estão cobrando taxas de juros negativos sobre os depósitos dos clientes empresariais, e mais de 20% deles estão fazendo o mesmo com seus clientes de varejo, de acordo com novos dados publicados na segunda-feira (19).

Os números, revelados em uma pesquisa do banco central alemão, oferecem uma das mais claras indicações sobre o número de instituições de empréstimos que estão cobrando dos clientes por seu dinheiro depositado, desde que o BCE (Banco Central Europeu) decidiu por um novo corte em suas taxas de juro que as conduziu ainda mais ao território negativo, na metade de setembro.

O Bundesbank [banco central alemão] realizou uma pesquisa com 220 instituições de empréstimos no final de setembro —duas semanas depois que o BCE reduziu sua taxa de depósito de menos 0,4% para o recorde negativo de menos 0,5%. Em resposta, 58% dos bancos anunciaram estar aplicando as taxas negativas a alguns depósitos empresariais, e 23% disseram estar fazendo o mesmo com relação aos depósitos dos correntistas pessoa física.

Cédulas de euro. Papel Moeda. Dinheiro.
Clientes estão pagando para manter o dinheiro no banco; prática é controversa em país no qual o BCE foi acusado de punir os poupadores - Gabriel Cabral/Folhapress

Embora a maioria dos bancos esteja repassando as taxas negativas apenas a instituições, companhias ou indivíduos com grandes depósitos, a prática se provou especialmente controversa na Alemanha, onde o BCE foi criticado por punir os poupadores prudentes.

O jornal sensacionalista alemão Bild retratou Mario Draghi, que se aposentou recentemente como presidente do BCE, como o “Conde Draghila”, um vampiro sugando completamente as contas de poupança.

James von Moltke, o vice-presidente financeiro do Deutsche Bank, disse a analistas no mês passado que o maior banco alemão havia acelerado seus esforços para repassar as taxas de juros negativas aos clientes, depois de concluir que seria possível fazê-lo no caso de um quinto dos depósitos de varejo.

“Isso é mais difícil no caso dos bancos de varejo do que para os depósitos institucionais ou empresariais, e não vemos uma capacidade de ajustar os termos e condições legais de nossas contas em base ampla”, disse von Moltke, acrescentando que o Deutsche em lugar disso estava aplicando a medida em bases individuais, a clientes de varejo com grandes depósitos.

Stephan Engels, vice-presidente financeiro do Commerzbank, disse este mês que o segundo maior banco de capital aberto da Alemanha havia começado a informar clientes de varejo com saldos bancários superiores a um milhão de euros.

Em uma das atitudes mais agressivas do setor, o Berliner Volksbank anunciou no mês passado que começaria a aplicar uma taxa negativa de 0,5% sobre quaisquer depósitos superiores a 100 mil euros (R$ 463,3 mil), na maior cooperativa de poupança da Alemanha.

As taxas de juros negativas foram introduzidas na zona euro em junho de 2014, a fim de estimular a economia desaquecida ao pressionar os bancos a emprestar mais dinheiro, em lugar de permitir que o excesso de liquidez fique depositado passivamente no banco central.

Mas a consequência disso foi prejudicar ainda mais a receita já abalada dos bancos europeus, que detêm um total combinado de 1,9 trilhão de euros (R$ 8,8 trilhões) em reservas no BCE a fim de satisfazer os regulamentos de liquidez pós-crise.

De acordo com o site de comparação de preço alemão Biallo.de, 140 instituições de empréstimos na Alemanha já começaram a cobrar taxas de juros negativas.

O banco estatal de desenvolvimento alemão KfW está se preparando para repassar as taxas de juros negativas aos seus devedores —ou seja, vai pagar a eles por tomarem dinheiro emprestado.

O KfW tem a obrigação legal de repassar aos clientes os termos de financiamento de que desfruta, e o banco já pode se refinanciar a juros negativos. “Não sabemos se e quando ofereceremos empréstimos a taxas negativas de juros, mas, do ponto de vista técnico queremos estar prontos para fazê-lo”, afirmou o banco.

Para oferecer aos bancos algum alívio quanto ao custo das taxas de juros negativas, o BCE introduziu um sistema “escalonado” de cobrança que isenta parte de seus depósitos no banco central dos juros.

Luis de Guindos, vice-presidente do BCE, declarou em um discurso nesta segunda que a lucratividade dos bancos europeus vinha sendo ”persistentemente baixa” e que seu retorno agregado sobre o capital havia caído abaixo dos 6% nos 12 meses até junho.

Mas ele disse que as taxas de juros negativas não eram a principal causa, e culpou a falta de consolidação e o inchaço nos custos dos bancos da União Europeia se comparados aos seus rivais americanos e nórdicos.

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