Descrição de chapéu Financial Times

Por privacidade, Google limitará acesso de anunciantes a dados de usuários

Atualmente, site de buscas permite que agências vejam categorias de páginas da web ou apps

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Londres | Financial Times

O Google anunciou uma grande mudança em suas operações de publicidade online que, segundo a companhia, reforçaria a privacidade dos usuários mas que, segundo anunciantes, daria ainda mais poder ao gigante das buscas.

A partir de fevereiro do ano que vem, o Google não permitirá mais que anunciantes vejam informações importantes sobre páginas da web, conhecidas como “conteúdo contextual”, quando eles estiverem fazendo seus lances nos leilões por espaço publicitário.

No momento o Google permite que os anunciantes vejam as categorias de páginas da web ou apps, que variam de tópicos como música e som, ou automóveis e veículos, a classificações mais sensíveis como abuso de substâncias ou comida kosher.

Chetna Bindra, integrante da equipe de confiança e privacidade de usuários do Google, disse que a companhia havia decidido remover as informações depois de discussões com autoridades de proteção de dados. Ela disse que a mudança impediria anunciantes de vincular categorias delicadas de informação como saúde, religião, política e orientação sexual a qualquer usuário individual.

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A mudança “ajudará a evitar o risco de que qualquer participante em nossos leilões seja capaz de associar identificadores publicitários individuais às categorias de conteúdo contextual do Google”, ela disse.

A decisão surgiu pouco depois de uma investigação do Financial Times que constatou que alguns dos mais populares sites de saúde do Reino Unido compartilhavam dados de saúde delicados, entre os quais sintomas e diagnósticos médicos, com empresas, entre as quais o Google.

A divisão de publicidade da companhia de buscas, Double Click, era destinatária de dados encaminhados por 78 dos 100 mais importantes sites de saúde britânicos.

Também há uma investigação em curso pela autoridade irlandesa de proteção de dados sobre a bolsa de publicidade online do Google, conhecida como Authorized Buyers, que ocupa posição central no processo de leilão de espaço publicitário online.

Depois de queixas da Brave, uma empresa que produz um navegador de internet, as autoridades regulatórias europeias estão estudando se a bolsa de publicidade online do Google recolhe ilegalmente informações pessoais sensíveis, e se o Google está fazendo o bastante para minimizar a quantidade de informação que usa.

John Ryan, vice-presidente de políticas públicas da Brave, disse que a mudança adotada pelo Google não era suficiente para proteger a privacidade dos usuários. “Parece que o Google continuará a transmitir solicitações de lances que contêm coisas como endereços de internet, localização aproximada e dados que conectam essas coisas ao longo do tempo, para um número incontável de companhias, bilhões de vezes ao dia. Esses dados contêm informações pessoais e de categoria especial, o que significa que a mudança parece ser apenas cosmética”, ele disse.

Enquanto isso, anunciantes e provedores de conteúdo afirmam que a mudança poderia reforçar o controle do Google sobre os dados de usuários e entrincheirar ainda mais a companhia em sua posição dominante na publicidade online.

“Nenhuma companhia rastreia o público na web e em nossas vidas digitais mais do que o Google. Ainda que certas categorias contextuais possam ser delicadas, uma decisão generalizada como essa, afetando todo o ecossistema de mídia, ilustra as preocupações antitruste que existem em todo o mundo sobre o domínio da publicidade online pelo Google”, disse Jason Kint, presidente-executivo da Digital Content Next, uma organização setorial que congrega provedores de conteúdo americanos.

Ele acrescentou que, sem dados externos sobre usuários, o valor dos dados inseridos pelos usuários diretamente em sites crescerá para os anunciantes.

“Essa decisão no mínimo tornará os dados diretos mais valiosos, e o Google Search é o lugar dominante para dados inseridos diretamente, o que significa que todos serão prejudicados exceto o Google”, ele disse.

Grandes marcas e agências de publicidade há muito se preocupam com o controle que o Google e outras grandes empresas de tecnologia exercem sobre os dados dos clientes, e o poder eu isso lhes confere como canais de publicidade.

Embora as revisões reflitam, o crescente escrutínio regulatório sobre as transferências de dados, figuras importantes suspeitam que um efeito colateral da decisão será reforçar o controle do Google sobre os dados, e potencialmente conduzir mais negócios à sua divisão de publicidade vinculada a buscas. O presidente-executivo de uma agência de publicidade disse que restringir os dados significaria simplesmente “mais poder para o Google”.

Tradução de Paulo Migliacci

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