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Economia mexicana começa a se aproximar do abismo

No 1º aniversário do governo AMLO, país está em meio a uma conjuntura internacional pouco favorável

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A economia mexicana, a segunda maior da América Latina, abaixo da brasileira, começa a se aproximar do abismo, no primeiro aniversário de governo do presidente Andrés Manuel López Obrador. Os motivos para festejar são realmente poucos, no plano econômico.

O país se encontra em meio a uma conjuntura internacional complexa e pouco favorável e, internamente, o crescimento econômico está muito distante dos 4% anuais prometidos pelo então candidato do Movimento de Regeneracão Nacional (MORENA) em caso de vitória.

Combinado a isso, existem ainda muitas perguntas sobre a situação e o futuro da Pemex, empresa paraestatal de petróleo, e sobre o novo tratado de livre comércio da América do Norte, o TMEC.

 López Obrador
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, participa de entrevista no Palácio Nacional, na Cidade do México - 29.mai.2019/Xinhua

Um balde de água frio caiu sobre o governo federal mexicano, confirmando os piores augúrios. A economia ao país confirmou o que muita gente já sabia, e que a Quarta Transformação negava: sua queda em recessão.

Cifras oficiais revisadas apontavam que o Produto Interno Bruto (PIB) havia caído em 0,1% no primeiro semestre do ano, e que essa queda vinha se somar a uma contração já registrada no trimestre final de 2018.

Acompanhando os jornais especializados, muitos comentaristas e especialistas se envolveram em uma discussão sobre a definição correta de uma recessão. Mesmo assim, para os agentes econômicos, a “mudança de etiqueta” situa o país em outro nível, de fato.

A queda na atividade econômica pode ser atribuída, em boa medida, a uma redução no investimento, em consequência do pessimismo dos empresários. A recessão que o México está enfrentando agora não passa de uma profecia autocumprida, em um ano caracterizado pelo cancelamento do Novo Aeroporto Internacional da Cidade do México –apesar de sua construção já estar em estágio avançado–; pela insistência em gastar US$ 58 bilhões na construção de uma refinaria; e por um orçamento para 2020 que fica muito distante da retórica grandiosa de campanha de López Obrador –fundos limitados para a Pemex, apesar do aumento recebido, somas relativamente modestas para os gastos sociais prioritários e algum dinheiro para a previdência.

“O caminho é visível”, disse López Obrador no início de seu discurso em 1º de dezembro, para marcar seu primeiro ano de governo. Durante a fala, o presidente ressaltou avanços em termos de aprovação de leis, na situação fiscal por meio de medidas de austeridade republicanas, e na implementação de programas sociais.

Diante desse cenário, e com o desgaste que López Obrador já acumulou este ano, o presidente e sua equipe econômica estão apostando em que o Plano Nacional de Infraestrutura, a ratificação do novo tratado comercial com os Estados Unidos e Canadá, e a Pemex, virtualmente revigorada, puxarão o crescimento econômico, no ano que vem e nos anos seguintes.

A má notícia é –e isso a história mexicana, pela qual López Obrador é obcecado, confirma– que a economia do México continuará decepcionando, como vem fazendo nos últimos 30 anos.

A janela de oportunidade para restaurar a confiança quanto ao México está se fechando. Um reflexo disso é que as agências internacionais de classificação de crédito estão considerando rebaixar os papéis de dívida da Pemex –cuja dívida total é de cerca de US$ 104 bilhões– à categoria de títulos especulativos, “junk bonds”, o que tenderia a ter uma repercussão negativa sobre a classificação dos títulos da dívida nacional mexicana e prejudicaria ainda mais o investimento.

A estagnação da economia ameaçada, além disso, pode tirar dos eixos o orçamento do ano que vem, e golpear a ambiciosa agenda social, que o presidente López Obrador repete até cansar ser a de “primeiro os pobres", e caso isso aconteça não seria absurdo pensar que alguns setores populares podem começar a perder a confiança na Quarta Transformação, e que tanto os mercados quanto o povo obriguem López Obrador a planejar uma quinta transformação para o país.

Ricardo Aceves é um economista mexicano com pós-graduação em economia e negócios internacionais pela faculdade de economia da Hochschule Schmalkalden, na Alemanha. Atualmente, é analista de mercados e investimento sustentável na Dow Jones.

www.latinoamerica21.com, um projeto plural que difunde diferentes visões sobre a América Latina.

Tradução de Paulo Migliacci

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